Chile: repressão e mais de 400 prisões
Jornada de mobilização nacional
31/08/2007
No Chile estão predominando simultaneamente três processos: Um clima de irritação na política nacional dos partidos patronais da Concertação e a direita - ainda com um ciclo de bonança econômica fenomenal. Em parte por este último, um clima de crescente atividade grevística, com uma dinâmica de luta sindical mais combativa e a instauração de um debate nacional sobre os problemas operários (o salário, a negociação coletiva, as práticas patronais anti-sindicais, etc), tudo isso começa a comprometer a relação de forças mais geral entre as classes. Em terceiro lugar, um clima de descontentamento passivo em amplos setores do movimento de massas (setores de camadas médias, movimento estudantil, setores da juventude), frente aos aumentos no custo de vida e outros problemas como o Transantiago (o sistema de transporte coletivo de passageiros).
Diante de um aumento do salário mínimo miserável no começo de junho, sendo que predominam os salários de fome, a CUT anunciou um chamado a uma Jornada de mobilização nacional em protesto. Pouco depois, estalava a greve dos trabalhadores terceirizados da Codelco, pouco antes havia sido a dos terceirizados florestais, dos motoristas de ônibus, se desatava pouco depois a dos trabalhadores de distintas empresas agro-industriais. Uma Paralisação Nacional estava na ordem do dia. Ainda assim, a CUT manteve um chamado a mobilização para o fim de agosto.
A irritação na política nacional, e esta dinâmica grevística, assim como o início de um ciclo eleitoral de dois anos (municipais em 2008, presidenciais e parlamentares em 2009), causou movimentos nos partidos patronais: tanto dirigentes da Concertação como da direita, apoiaram e chamaram a se mobilizar.
A CUT, ao não convocar a Paralisação Nacional e chamar mobilizações em horários de trabalho, deixando livre ás diferentes formas de protesto que cada um encontre depois do trabalho, impediu que se fosse expresso este crescente clima grevístico em curso.
Mas o descontentamento passivo em amplos setores do movimento de massas, pode se expressar. Com um tom anti-neoliberal - contra os setores neoliberais do governo - que a CUT imprimiu.
A Jornada de 29 de agosto teve caráter nacional, com mobilizações, ainda que relativamente reduzidas, nas principais cidades do país. Aproximadamente 30.000 manifestantes, por volta de 5.000 em Santiago. A brutalidade policial novamente se fez presente, incitada pela política de Bachelet, culminando em mais de 400 detidos.
A Jornada de 29 de agosto foi um fato político de peso nacional das principais organizações dos trabalhadores e da esquerda que se inscreve nesta nova realidade nacional, que marca o crescente clima grevístico. A direção da CUT, co-dirigida pelo PS Arturo Martínez junto com o PC, não permitiu que se expressasse. Fortalecer esse clima grevístico - a classe trabalhadora com seus próprios métodos- avançar para empunhar uma política própria diante dos aumentos, os problemas da saúde, da educação e da moradia, unindo detrás de si estudantes e habitantes, se colocando no centro da política nacional, começa a estar novamente colocado e é parte das tarefas adiante. A mobilização social, o começo -processo ainda inicial- do giro da política para as ruas (que esta Jornada de 29 de agosto confirmou) atuará - se continuar e se desenvolver, o que não está garantido de antemão - de marco mais favorável.