Entre pressões patronais e manobras do ministério
Kraft- Terrabusi se reorganiza desde baixo
17/11/2009
Cerca de 250 trabalhadores, com o apoio de estudantes e organizações sociais e políticas, se mobilizaram junto ã Comissão Interna e marcharam até o Ministério do Trabalho bloqueando parcialmente a Av. L. Alem, levando a demanda da imediata reincorporarão de 8 novos companheiros demitidos e a discussão coletiva (não individual) do resto dos outros 53 demitidos. Cristian “Ronco” Abarza, delegado do setor demitido que foi parte da reunião, comentou: “apresentamos um documento denunciando a demissão dos 8 que estavam suspensos, e a situação dos que foram reincorporados, que continuam sem cobrar seus salários, já que a empresa desconta-lhes por supostos ‘danos’”.
A luta por trabalho
No momento da reunião, continua “o Ronco”, “o Ministério colocou que ‘tem duas situações distintas’, e que a eles lhes preocupam os suspensos que foram demitidos. Dissemos a eles que não existiam duas situações, que continuava o mesmo de 18/08 e que se tratava de uma situação apenas que implica em 53 demitidos e companheiros na rua. É um mesmo conflito, e a empresa descumpriu com a ata e devem discutir os 53 demitidos”.
A mobilização teve uma grande repercussão nos meios de comunicação e nessa quinta-feira, 12/11 deverão voltar. Na quinta-feira, aconteceram assembléias na fábrica para definir as ações para a próxima semana.
“A empresa nunca revisou o que prometeu revisar” -continua Cristian-. “Pelo Contrário, continua chamando companheiros de forma irregular, como há dois dias fizeram desde a municipalidade de Tigre, convocando quatro companheiros demitidos com a desculpa de que iam ver seus casos e quando chegaram, começaram a dizer-lhes que a empresa não ia reincorporar ninguém; que discutissem o dinheiro”.
“Não se meta em política”
Nesse marco, os trabalhadores comentam que uma agência de segurança está fazendo “inteligência”.
Pegaram telefones dos demitidos e de seus familiares e seguem pressionando para que entendam de “uma vez por todas; não vai voltar ã fábrica; não se envolva com política.”
Como complemento a política continua dentro da fábrica, e por fora, estende-se a perseguição aos que resistem e lutam por sua fonte de trabalho. E nas fileiras, denunciam a presença de “gente estranha desfarçada de trabalhadores; aos que ninguém reconhece, com pressões dos líderes e um latente estado de sítio”. Por isso, “quando vínhamos para o Ministério – conclui ‘o Ronco’- a polícia nos parou, com a desculpa de que iam nos escoltar. Não passaram nem um pequeno pedaço detidos”.
Boletines de fábrica
Com tudo, junto ás provocações patronais e policiais somam-se as da imprensa. O diário Clarín falseou os dizeres de Hermosilla e nomeou, maliciosamente em 09/11 “O delegado da Kraft contra os protestos na fábrica”. A nova Comissão Interna não assumiu para avalizar a ata nem para abandonar os demitidos. Por isso mesmo que na última segunda-feira, 9, lançaram seu primeiro número do Boletim da Comissão Interna (que colocamos nessas páginas).
A nova CI propõe trabalhar em conjunto a edição desses boletins de fábrica onde se expressam as distintas opiniões, para lutar pela reincorporação e as demandas postergadas. A unidade da fábrica e dos demitidos é fundamental. Propõe trabalhar em conjunto com o companheiro Bogado e a lista 2, pese a que esses e o PCR continuam com suas calúnias e inclusive infâmias como por exemplo, que a patronal favoreceu a lista de Hermosilla.
O método das assembléias e a eleição de dezenas de delegados nos últimos 3 turnos seguramente serão um fatos decisivo para aprofundar a democracia sindical e unir os trabalhadores sob um objetivo comum. No entanto, “lamentavelmente, ainda não tivemos resposta da lista de Bogado”, comenta Pablo “Tito” Guzman, delegado da CI do turno da noite.
Apagar e abrir nova conta? (os burocratas para trabalhar)
Como foi o recebimento da nova CI?, perguntamos: “a empresa nos recebeu lembrando-nos que os companheiros demitidos estão demitidos – conta “Tito”, delegado da CI-; e queriam ver outros temas como questões da fábrica e da produção e que apaguemos e abramos uma nova conta. Contestamos que isso nem pensar, e que vamos continuar lutando pela reincorporação dos 53 demitidos; os companheiros, ao contrário, nos receberam muito bem; melhor no turno da noite, mas também de manhã e de tarde, todos com as mesmas ganas de mudança”.
Nesse sentido, retoma “Tito”, “vamos lutar pelo Corpo de Delegados por setor, e fazer com que os 30 da lista Verde de Rodolfo Daer voltem a trabalhar e voltem à linha, que é onde devem estar, e não conspirando e dividindo os trabalhadores”.
O Corpo de Delegados por setor é chave
Javier “Poke” Hermosilla, delegado da CI, tem uma impressão parecida: “receberam-nos bem, com muitas expectativas. Existem preocupações e muitos vêem a necessidade de nos organizarmos seriamente, por isso temos a idéia de reorganizar a fábrica através do Corpo de Delegados por setor, o que é chave para frear o despotismo patronal”.
“Mesmo assim” – continua Poke- “vemos que a empresa continua aumentando os ritmos de produção e estão mecanizando setores da fábrica. Ao mesmo tempo, continua aplicando o regulamento de trabalho que pretendeu fazer valer e ninguém o cumpriu, aplicando-o de fato com menos trabalhadores nas linhas. É uma batalha que vamos dando dia-a-dia. Esses objetivos da empresa não mudaram e sua idéia é aumentar os ritmos de produção com menos trabalhadores”.
A jornada termina no Ministério e os trabalhadores voltam ã Zona Norte. Acabam de começar os primeiros passos com sua nova Comissão Interna que é encabeçada pelo companheiro Javier “Poke” Hermosilla, que por uma margem pequena (??) ganhou da lista de Ramón Bogado.
O grande perdedor, o burocrata R. Daer que teve 20% dos votos, conspira nas sombras. Apesar disso, 80% votou contra o sindicato e apoio aos membros da Comissão Interna que encabeçaram a grande luta. Um bom sinal de que terá que avançar e estar a sua altura; não há espaço para misérias. A derrota foi parcial e pode-se recuperar a iniciativa; todavia, há 53 famílias que resistem e necessitam de uma frente única classista para recuperar seu trabalho.
Tem-se que multiplicar as iniciativas como a do Centro de Estudantes de Ciencias Sociais da UBA que organizou uma festa de apoio aos operários da Kraft e aportou ao fundo de greve com os $5.073 arrecadados. Temos que continuar impulsionando o fundo de greve para defender os companheiros demitidos.