FT-CI

Abaixo a repressão dos estudantes e trabalhadores chilenos

Liberdade aos que lutam pela educação pública, gratuita e de qualidade!

11/08/2011

No último dia 04/08, no Chile, milhares de estudantes universitários e secundaristas realizaram mais uma grande manifestação em defesa da educação pública. O governo chileno alegando que “já era o suficiente de manifestações estudantis” se baseou num decreto do regime do ex-ditador Pinochet, militarizou as ruas de Santiago e reprimiu duramente toda a juventude presente. Mais de 800 estudantes foram presos. Essa brutal repressão expressa a crise do regime chileno desde o aprofundamento das lutas estudantis que ganhou um importante apoio popular no último período e que pode ameaçar ainda mais a burguesia chilena se os trabalhadores também entrarem no centro da cena política, como já vem se mostrando com a luta dos mineiros contra a privatização da Codelco1 .

Desde abril, a juventude chilena vem protagonizando uma luta para tirar a educação das mãos dos empresários. Assim como no Brasil, a ofensiva neoliberal significou o aprofundamento da privatização da educação. Contudo, sob a ditadura de Pinochet (1973–1990) essa ofensiva tomou um caráter bem mais agressivo, praticamente todo o ensino superior é pago, inclusive as Universidades Públicas (20% do número total de Universidades). O ensino é quase inteiramente custeado pelos estudantes através de financiamentos, o Estado investe menos de 16%. Por isso, a principal exigência das mobilizações chilenas é por uma educação pública, gratuita e de qualidade, encontrando grande respaldo popular com a participação de estudantes secundaristas, universitários, professores, trabalhadores e até mesmo reitores e pais de alunos.

O GOVERNO TENTA ENFRAQUECER O MOVIMENTO. OS ESTUDANTES DEVEM SE MANTER FIRMES NAS RUAS E OCUPAÇÕES.

O presidente Sebastián Piñera2 realizou algumas mudanças na tentativa de conter e dividir as lutas em curso, como benefícios para reitores, antecipação das férias escolares, refinanciamento da dívida dos inadimplentes. Entre as mudanças também estão a criação de uma Subsecretaria do Ensino Superior responsável por garantir o objetivo estratégico do Conselho Nacional de Inovação e Competitividade (CNIC) de formação de mão-de-obra especializada de acordo com as necessidades das empresas para promover o desenvolvimento econômico no Chile ; e o seguimento da política econômica definida durante a ditadura de focar os gastos sociais a partir do rankeamento das universidades.

Já a “Concertación”3 –que desde o fim da ditadura pinochetista serve de mecanismo político de contenção dos evidentes antagonismos de classe – propôs o Grande Acordo Nacional de Educação, uma mesa burocrática de negociação cujo objetivo é desativar a mobilização nas ruas do movimento estudantil a partir de um projeto de aperfeiçoamento do modelo neoliberal de educação, injetando 4 bilhões de dólares adicionais numa estrutura educacional que está no estômago dos grandes capitalistas do ensino, transferindo mais dinheiro público para mãos privadas. Com esse plano, busca passar a disputa do plano das ruas para o plano parlamentar.

Entretanto, a repressão do dia 04/08 mostrou como os estudantes não podem ter nenhuma ilusão no podre regime chileno, comandado por uma burguesia herdeira de Pinochet, que revelou sua verdadeira essência ao praticamente impor um Estado policialesco nas ruas de várias cidades como Santiago, em Buin, Antofagasta, Temuco e Quillón. Simplesmente o ato de estar parado na calçada segurando cartazes era motivo para os “carbineiros” (policiais) enquadrarem os estudantes, proibiram a circulação nas cidades, ocorreram brutais espancamentos, estudantes foram asfixiados e além de irem presos, alguns também se encontram desaparecidos.

COM QUE ESTRATÉGIA A JUVENTUDE DERROTARá A REPRESSÃO E A MERCANTILIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO?

A luta dos estudantes chilenos está inserida no marco de um cenário internacional baseado no desenvolvimento de uma crise histórica da economia capitalista e de um inicio de novos tempos na luta de classes mundial. Da juventude árabe aos estudantes chilenos, passando pelos indignados na Europa, a tarefa colocada é romper o mais rapidamente possível com o individualismo e o ceticismo do período anterior. Se por um lado a estratégia autonomista, presente com um forte peso nesses levantes da juventude, principalmente na Espanha, mostra sua total insuficiência para dar uma saída independente junto aos trabalhadores que golpeie o Governo e o Regime capitalista. Por outro, direções burocráticas como a JJCC e a própria Concertación só alimentam a falsa ideia de que é possível os estudantes chilenos conseguirem suas demandas tendo como bandeira central a negociação por dentro do regime parlamentar, o mesmo que coloca a polícia nas ruas para reprimir as manifestações.

A única alternativa colocada para o movimento estudantil chileno é aprofundar as mobilizações, manter as barricadas nas ruas, fomentar a auto organização e se unir aos trabalhadores, como os mineiros em luta da Codelco, construindo em cada universidade e local de trabalho a greve geral do dia 09/08. Só com uma estratégia que se baseie na auto-organização e na aliança operária estudantil é que a juventude chilena pode derrotar a repressão do governo Pinera e garantir uma educação gratuita, tirando das mãos dos empresários um direito que é de toda a população. É com essa política que o PTR –CcC (organização irmã da LER-QI no chile) vem atuando com diversos setores de jovens independentes, combatendo as direções conciliadoras no interior do movimento.

Sigamos o exemplo e nos solidarizemos com a luta dos estudantes chilenos!

No Brasil, devemos nos contaminar pelo espírito chileno e seguir o exemplo da luta dos estudantes. O governo Dilma logo no início do seu mandato, preparando-se para cenários cada vez mais incertos da dinâmica da crise capitalista internacional, implementou um corte de mais de R$ 50 bilhões do orçamento, sendo que mais de R$6 bi da educação, aprovando no Congresso um novo PNE que em 10 anos repete a mesma promessa dos planos anteriores em destinar apenas 7% do PIB para a educação. Enquanto, isso os monopólios do ensino superior privado continuam recebendo incentivos fiscais e lucrando em cima das mensalidades dos estudantes.

A luta dos estudantes chilenos abre uma grande perspectiva para juventude na américa latina, e o movimento estudantil brasileiro deve seguir seus exemplos e tirar lições desses processos. Nesse sentido, a UNE que enviou correspondentes para o Chile dizendo apoiar suas mobilizações, ainda que no Brasil dissemina no interior da juventude a política colaboracionista com o governo e o capital privado da educação, deve girar toda a sua estrutura e suas respectivas entidades estudantis para combater a repressão aos estudantes chilenos.

A ANEL, que também enviou uma integrante da Executiva Nacional para acompanhar as mobilizações, deve estar na linha de frente dessa política. Unificando todos os estudantes combativos contra a repressão do governo Pinera, exigindo a imediata libertação dos estudantes presos e levantando a bandeira da educação pública, gratuita e de qualidade, tirando-a das mãos dos empresários e capitalistas.

    1- Mineradora Estatal.

    2- Sebastián Piñera é membro do partido de centro-direita Renovação Nacional. Piñera tem ligação com a ditadura de Pinochet tendo participado da campanha presidencial do ex-ministro das finanças da ditadura. É um exemplo clássico do caráter burguês do Estado : empresário dono do canal nacional Chilevisión e acionista majoritário da empresa brasileira ABSA (com sede em Campinas).

    3- Concertación “Coalizão de Partidos pela Democracia” formada pelos partidos de centro-esquerda para se oporem ao plebiscito de Pinochet que pretendia aprovar a permanência da ditadura. Partido Democrata Cristão/PDC, Partido pela Democracia/PPD, Partido Radical Social Democrata/PRSD e Partido Socialista/PS.

Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Jornais

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)