FT-CI

Crisis aérea

Lula quer aprofundar a política privatista

09/08/2007 Palavra Operária N° 32

A saída anunciada pelo governo Lula é de aprofundar o curso privatista iniciado por FHC, criando ainda mais vantagens para as grandes companhias aéreas e para os capitalistas. Dentre elas o anúncio de venda das ações da Infraero para capital privado e as PPPs (parcerias público-privadas) para reformar as pistas dos aeroportos e construir novos terminais. Por parte das empresas a decisão de aumentar o preço das passagens para garantir seus lucros, compensando a diminuição de vôos em Congonhas e a readequação da malha, afastando ainda mais os trabalhadores da possibilidade de usar este meio de transporte.

Com estas medidas continuaremos tendo uma aviação organizada de maneira anárquica, onde os enormes avanços do setor nos últimos anos só estão a serviço de garantir os fabulosos lucros de TAM, Gol e companhia. Para os usuários só restará a ameaça de novos acidentes e a queda geral da qualidade dos serviços, que além de piores, serão mais caros. Para os funcionários o fortalecimento das empresas e seu controle ainda maior sobre os aeroportos só pode trazer condições de trabalho ainda piores, aumento da precarização e da superexploração.

O cinismo do “Cansei”

Se aproveitando da comoção em torno do acidente, que abriu uma crise no governo Lula principalmente em sua relação com as classes médias, setores da burguesia paulista aliados ao PSDB e DEM-PFL tomaram a iniciativa de formar o movimento “Cansei”, que convocou um ato de 6 mil pessoas no dia 29/07 com a participação de familiares das vitimas e de figurões como o assessor do Prefeito Kassab, e até a Associação dos Policiais Militares. Com um discurso cínico, baseado no sentimento apartidário e de defesa da eficiência administrativa, esse movimento tenta canalizar pela direita o mal-estar social das classes médias, fortalecendo a oposição e o regime.

A aristocrática burguesia paulista, através do movimento “Cansei” procura posar como solidária e inocente, num puro oportunismo, visto que a sua política é a mesma anunciada por Lula e a mesma que vem sendo aplicada pelo PSDB, DEM-PFL, que estão ã frente do governo estadual desde 1995 e que por oito anos governaram o país. É justamente a sede de lucro de empresários como os que estão por trás deste movimento que orientou a política que teve um papel decisivo na criação das bases dessa crise da aviação civil, já que estiveram por trás dos governos que deixaram por mais de uma década de investir em infra-estrutura, cortando verbas para garantir pagamento de juros aos banqueiros e empresários, demitindo trabalhadores, terceirizando e precarizando as condições de trabalho dos controladores de vôo, funcionários da Infraero e das instituições responsáveis pela aviação nacional. São tão responsáveis pela crise aérea e pelas tragédias quanto são culpados pelo acidente da linha 4 do Metrô, que matou 9 pessoas em nome dos lucros das empreiteiras e dos objetivos político-eleitorais do PSDB e do DEM-PFL.

Por uma resposta dos trabalhadores ã crise aérea

A CUT não só está deixando sem respostas os familiares das vítimas, como ainda não convocou nenhuma ação que defenda os trabalhadores do setor aéreo contra a repressão aos controladores de vôo e contra a superexploração dos trabalhadores, porque defendem o governo Lula e a política das agências como a Anac [1]que não passam de órgãos executores dos interesses das grandes empresas.

A única coisa que fez foi lançar, contra a absurda consigna dos ricos, o “Cansei”, uma consigna dos pobres: “Cansamos”. Responder aos empresários milionários com uma política abstrata dos pobres não é suficiente e não serve para mostrar uma saída distinta ás classes médias que sofreram a tragédia da TAM. Somente a classe operária, levantando um programa democrático e com seus próprios métodos de luta, pode ser uma alternativa para as classes médias e para o povo pobre ao programa e ã política da burguesia opositora. Com o seu “Cansamos”, o que a CUT quer na verdade é tentar aparecer como uma direção de esquerda e combativa, quando na realidade vem sendo cúmplice das empresas aéreas e do governo federal, ao ajudar a evitar qualquer mobilização de trabalhadores que possa se enfrentar ao duopólio TAM/Gol.

Frente a essa política criminosa da CUT, a tarefa da esquerda não é a verborragia na “CPI do apagão aéreo” como faz o PSOL ou se limitar a soltar notas na internet como faz o PSTU. Os trabalhadores e a esquerda não podem deixar que a classe média deposite suas ilusões nos ricos e magnatas que estão por trás do “Cansei”, pois estes são na realidade os principais responsáveis pela crise aérea e pela corrupção.

Chamamos os sindicatos da Conlutas e da Intersindical a convocar urgentemente um encontro operário para definir uma pauta de reivindicações e um plano de ação conjunta para a crise aérea, em defesa do direito de greve etc. e a partir daí exigir da CUT e das demais centrais que organizem um dia nacional de paralisação em defesa dos controladores de vôo, contra a já anunciada privatização da Infraero e contra as PPPs. E a organizar urgentemente, para ontem, uma campanha séria por uma comissão investigadora independente do governo encabeçada pelos familiares e pelos trabalhadores e seus sindicatos, para levar a investigação até o fim e punir os verdadeiros assassinos responsáveis pelas mortes. Um encontro que, frente ã política privatista do governo e da oposição, levante a necessidade da estatização do sistema aéreo, sob controle dos trabalhadores, com atos, cartazes, panfletos, declarações e inserções na tv e no rádio.

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  • [1Segundo o presidente da Fentac/CUT (Federação Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil) em artigo publicado no jornal Conexão: “Ao contrário do que já chegaram a afirmar, a criação da Anac não foi um erro, mas uma conquista dos trabalhadores” (“Imperdoável” Jornal Conexão ano 4 n.16 , julho de 2007)

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