Brasil
O fiasco eleitoral do PSDB e o futuro desse partido
22/09/2014
Por Santiago Maribondo
Uma das grandes surpresas dessas eleições é o fracasso eleitoral daquele que até então vinha sendo um dos principais partidos do regime, o PSDB. Partido que é o principal representante do espectro político mais ã direita nas instituições da democracia dos ricos amarga a terceira posição no pleito, já não tendo praticamente chances de ir ao segundo turno. Qual será a influencia dessa posição no futuro desse partido, em um sistema político tão dependente da máquina estatal quanto é o brasileiro?
As jornadas de junho e sua influencia distorcida sobre as eleições
As eleições burguesas refletem de forma sempre distorcida a correlação de forças real, sempre em transformação, da luta de classes. Os anseios, aspirações, a explosividade mesmo dos trabalhadores e oprimidos que se colocam em luta são canalizados para dentro das instituições da falsa democracia dos ricos, sob a cobertura de que ali poderia efetivamente se expressar de forma livre a “vontade popular”.
No processo eleitoral que atravessamos hoje no Brasil isso se expressa novamente; a força das mobilizações de junho de 2013 (que foi um fator determinante para a mudança da etapa política no país) parece se mostrar de forma muito relativa e isso não apenas por conta das contradições próprias da democracia dos ricos, mas também pela falência e incapacidade dos partidos tradicionais da esquerda (PSOL, PCB, PSTU, PCO) de utilizarem esse espaço contraditório que são as eleições para se colocarem como porta vozes dos trabalhadores e dos oprimidos que passaram a se mobilizar de maneira cada vez mais ativa.
No entanto, seria um equivoco pensar-se que um processo tão profundo como as jornadas de junho não se reflete num momento que contraditoriamente é de maior politização da sociedade de conjunto como são as eleições; o que é preciso é olhar além das aparências, buscar ir a fundo e ver como essa influencia se dá.
O fato de todos os candidatos burgueses, mesmo os mais reacionários, tentarem se colocar como candidatos da “mudança”, o próprio fenômeno eleitoral Marina Silva, são expressões deformadas da transformação subjetiva por que passou o proletariado e demais setores populares desde o ano passado, ainda mais com a incapacidade da esquerda de ser veículo dessa transformação.
Mas a manifestação mais evidente da influencia de junho sobre o processo eleitoral é o fiasco que vem sendo a campanha daquele que tinha se expressado como um dos partidos que era sustentáculo do regime “democrático” desde a queda da ditadura militar (junto com o PT), principal partido que representava o espectro mais ã direita dentro do quadro institucional da democracia dos ricos, o mais diretamente privatista e neoliberal, o PSDB.
O fiasco da campanha tucana
Até o começo dessas eleições o PSDB era tido como a principal alternativa ã direita do PT, o partido da burguesia para hegemonizar os setores da pequena burguesia conservadora, partido que unificava amplos setores capitalistas em torno de uma política mais claramente reacionária, privatista e neoliberal. Diversos analistas falavam inclusive numa polarização mais clara na política brasileira entre PT e PSDB que reproduziria por aqui os modelos estadunidenses e europeus de alternância entre um partido de “esquerda” totalmente institucionalizado e um partido mais claramente conservador (cujo modelo clássico são os Estados Unidos, com sua alternância entre democratas e republicanos).
Com a morte de Eduardo Campos e sua substituição por Marina Silva não só essa polarização entre PT e PSDB não se mostrou concretamente, mas, além disso, a participação nas eleições dos tucanos se apresenta com um grande fracasso. O reconhecimento que tem a população desse partido como aquele que aparece como o mais conservador, mais diretamente neoliberal, faz com que ele não possa se colocar como alternativa efetiva ao PT, ainda mais com a mudança subjetiva pós-junho.
Seu candidato ã presidência, Aécio Neves, amarga uma terceira posição que apesar de oscilar entre expressivos 15 a 20 por cento dos votos só o permite sonhar (de maneira bem distante) com uma participação no segundo turno das eleições; e não apenas aí se expressa o fracasso de sua participação, Aécio não é sequer segundo colocado nas intenções de voto em nenhum dos estados da federação, mesmo nos tradicionais bastiões tucanos como São Paulo e Minas Gerais, onde era governador até o começo do ano.
O candidato que apadrinha em Minas, Pimenta da Veiga, aparece em segundo lugar mais de 20 pontos percentuais atrás do primeiro colocado. Apesar dos tucanos terem boas chances em estados como Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Rondônia, e da quase certa reeleição de Geraldo Alckmin em São Paulo, a perda de espaço no sudeste, com a possível derrota em Minas Gerais, seria um duro golpe para esse partido.
Num país como o Brasil, com uma frágil e muito recente democracia burguesa, onde os partidos são extremamente dependentes do aparelho estatal, estabelecendo uma relação fisiológica com esse, essa derrota que deve sofrer o PSDB nessas eleições pode significar um duro golpe para esse partido com a saída de diversos de seus quadros em busca de maior favorecimento e proximidade com os partidos que administram diretamente o estado.
Isso representaria uma reorganização do regime da democracia dos ricos, um seu enfraquecimento, com a fragilização de um dos organismos que até aqui vinha sendo um dos seus pilares de sustentação, num contexto em que o que se deve esperar para o ano que vem é um maior embate social, fruto tanto da degradação das condições econômicas que tende a se acelerar quanto da maior politização dos trabalhadores, da juventude e dos oprimidos em geral. Um balanço aprofundado do resultado eleitoral será tarefa central dos revolucionários para que pensemos as mudanças na estrutura do regime e assim possamos pensar de forma mais científica nossos próximos movimentos táticos num período que tende a ser de maior enfretamento na luta de classes.