México
O massacre de Iguala, o regime mexicano e as perspectivas da mobilização
09/11/2014
O massacre de Iguala, o regime mexicano e as perspectivas da mobilização
Depois de minimizar e ignorar os fatos, desde o regime agora tratam de pôr panos quentes implementando uma política de controle de danos e unidade nacional, preocupados com que a situação não saia do controle.
A isto respondem as declarações de Penã Nieto no sentido de que não há espaço para a impunidade, assim como a conformação de comissões especiais nas câmaras do Congresso da União e o Congresso de Guerrero, o Comitê de Atenção Integral de Vítimas e o Plano Integral de Reparação do Dano das Vítimas de Iguala. Tudo arquitetado pelos mesmos governos e partidos responsáveis pela impunidade, a associação do Estado com o narcotráfico, o abandono das escolas rurais públicas e a criminalização dos normalistas, da juventude e dos protestos sociais.
Ao mesmo tempo, representantes do Partido Revolucionário Institucional (PRI), o Partido Ação Nacional (PAN) e o Partido da Revolução Democrática (PRD) se manifestaram contrários ã saída de Ángel Aguirre do governo de Guerrero, e ainda que este, encurralado, tenha proposto que os guerrerenses decidam em uma consulta a revogação do mandato, o certo é que a nenhum destes partidos convém a queda de um governador como consequência de um protesto popular.
Por sua vez, Chuayffett, o desastroso secretário de educação pública ligado ao massacre de Acteal, depois de dias de silêncio saiu a dizer que para o próximo ano haverá mais orçamento para as escolas rurais e novos planos de estudo, para que os futuros professores sejam mais competitivos.
Mas o controle de danos vem acompanhado de uma política de fortalecimento do Estado e particularmente de seu aparato repressivo, prevenindo que o fenômeno democrático em solidariedade aos estudantes normalistas de Ayotzinapa e seus familiares possa catalisar o descontentamento de setores mais amplos frente ao aprofundamento da miséria e da falta de democracia.
Os policiais municipais de Iguala estão sendo enviados ã sexta região militar em Tlaxcala para serem certificados pelo exército, o mesmo exército que sujeitou os estudantes de Ayotzinapa depois do ataque policial-paramilitar em Iguala, que perpetrou o massacre de Tlatlaya e que na guerra contra o narcotráfico é responsável por dezenas de milhares de mortos e desaparecidos no país.
Mancera, o policial repressor que governa o Distrito Federal, disse que seu governo se soma ã indignação nacional, ao mesmo tempo que anunciava o fortalecimento do operativo Escudo Cidade do México.
Desde a Conferência Nacional de Governadores (Conago) – com Ángel Aguirre ausente – emitiu-se um pronunciamento de solidariedade aos habitantes de Guerrero, mas não sem antes discutir a necessidade de encontrar “o modelo policial mais eficiente”. Enquanto isso, Iguala se mantém militarizado com patrulhas e pelotões do exército, da Marinha, das polícias federais, estatais, ministeriais, aumentando a tensão e a ansiedade da população.
As pressões em cima
No fundo, a principal preocupação de Peña Nieto é que as “grandes oportunidades de investimento” abertas com suas reformas estruturais não se vejam ofuscadas pelo escândalo nacional e internacional do massacre de Iguala. Daí as ações diplomáticas empreendidas pelo seu governo e as infelizes declarações de José Antonio Meade, secretário de relações exteriores, de que a estratégia de segurança “está funcionando para diminuir os níveis de violência no país”.
O governo dos Estados Unidos e a OEA já exigem um esclarecimento dos fatos, a União Europeia e legisladores do Grupo Latinoamericano e do Caribe expressaram seu repúdio e 23 integrantes do parlamento europeu defenderam não avançar com acordos comerciais enquanto não se melhore significativamente a situação dos direitos humanos no México.
Por sua vez, os empresários da Coparmex e do Conselho Coordenador Empresarial se lamentam do “desânimo econômico” em Guerrero e se dizem preocupados pelos fatos em Iguala, pedindo uma melhor preparação da polícia e a atuação eficaz do Estado mexicano.
Ayotzinapa vive!
Com o passar dos dias, Guerrero está se tornando um barril de pólvora, como mostram as mobilizações que não param em diversos municípios, a paralisação do trabalho da Ceteg e o incêndio do Palácio de Governo em Chilpancingo por normalistas e professores no dia 13 de outubro.
Junto a isso, segue aumentando a solidariedade com Ayotzinapa por parte dos estudantes em luta do Instituto Politécnico Nacional, que incluíram entre suas demandas o esclarecimento dos assassinatos e desaparições; a paralisação solidária por parte dos estudantes da UNAM; e de normalistas, que se mobilizaram e paralisaram as atividades no DF e em estados como Aguascalientes e Oaxaca, enquanto em Michoacán tomaram 21 caminhões para irem ã Ayotzinapa; além dos pronunciamentos e chamados ã mobilização de numerosas organizações.
Como vêm fazendo os familiares e companheiros das vítimas, é necessário não depositar nenhuma confiança nas autoridades, nos partidos e nas instituições deste regime opressor e assassino. Como disse o normalista de Ayotzinapa Omar García “Isto que vivemos, doloroso como é, é uma oportunidade única de aumentar a pressão, de conseguir uma mobilização generalizada que transcenda Ayotzinapa, que transcenda Guerrero, que possa pôr fim de uma vez por todas ã situação intolerável de violência e impunidade que o México está vivendo há anos. Tomara que não a deixemos escapar.”