Estados Unidos
O massacre em Virgínia
24/04/2007 La Verdad Obrera N° 230
Nada se sabe sobre o que passou pela cabeça do estudante sul coreano Cho Seung-Hui enquanto disparava tiros. A população dos Estados Unidos e do mundo ficou transtornada. Morreram 32 pessoas e outras dezenas ficaram feridas nos dois tiroteios na Universidade Tecnológica da Virgínia. A imprensa e o governo de George W Bush proclamaram a "tragégia nacional". E não é para menos, é o maior massacre ocorrido em um centro estudantil dos Estados Unidos, e reabre o debate sobre o porte e o comercio de armas no país mais armado do mundo. Desde 2004 morreram nos EUA mais de 148 mil pessoas por armas de fogo, quer dizer, 30 mil pessoas por ano, uma média de 81 pessoas por dia: 1 pessoa assassinada a cada 18 minutos. 39% dos lares tem uma arma de fogo, se vendem por ano de 3 e a 4 milhões e entre 1 e 3 milhões mais nos mercados paralelos. Conseguir uma arma é tão fácil em Virgínia que uma criança de 12 anos pode entrar em qualquer loja de armas e comprar um rifle de assalto. Um menor de 18 anos não pode comprar alcool mas pode comprar uma arma.
A segunda emenda da Constituição dos EUA diz "... o direito da população ter e portar armas, não deve ser infringido". Claro que tudo é relativo. Um norte-americano negro com uma arma é um assassino; um árabe-americano, um terrorista; um latino, um narcotraficante. E como alertam vários organismos de direitos humanos, a partir do massacre de Virgínia, qualquer asiático-americano armado será um assassino em potência. Não se trata do armamento em si mesmo, mas de quem decide quem tem direito a armar-se e quem não tem, e é aqui onde fica clara a utilização da "lei" de organizações profundamente reacionárias como as milícias de ultra-direita e a Sociedade do Rifle (que agrupa a nata do racismo).
Quatro dia antes do massacre em Virgínia, se cumpriam 8 anos do massacre em Columbine (Texas) e uma grande série de nefastos episódios similares. Nessa oportunidade se buscaram responsáveis nos videogames, na música e na televisão. Entretanto, não é casual que seja nos EUA onde se dão este tipo de atrocidades com mais freqüência. Não somente se trata do principal produtor e exportador de armas a nível mundial, mas também é quem as utiliza para invadir e ocupar países ao redor do mundo segundo seus interesses. Em cadas uma dessas incursões os assassinatos são catalogados como "danos colaterais" e as violações como simples excessos.
Em uma sociedade fortemente competitiva e onde existe uma crescente desigualdade social, milhões de pessoas são educadas sob esta "doutrina" na qual a defesa de seus interesses está intimamente ligada ao aniquilamento de um inimigo potencial. Na história dos EUA este "inimigo" foi mudando seu rosto e ideologia, dentro e fora do país: negros, alemães, "vermelhos", latinos e hoje, os terroristas.
Por cada Cho em uma universidade ianque, existem vários soldados norte-americanos de 23 anos que portam uma arma letal no Iraque ocupado. Existe uma relação tão estreita, tão íntima entre ambas coisas, que é quase impossível separá-las.
Os Estados Unidos são o país onde existe mais armas em mãos privadas: estima-se que 60 milhões de pessoas possuem um arsenal de 200 milhões de armas. Isso sabendo que, é quase impossível levar um frasco de shampoo em um avião ou passar no free shop portando um sobrenome árabe ou latino.
Assim irracional é a sociedade de Cho, a sociedade dos soldados que no Afeganistão, segundo uma notícia, "utilizaram violência excessiva" ao disparar uma metralhadora ã 15 km assassinando 12 pessoas, entre elas um bebê e 3 idosos.
Mais trágico ainda é que este massacre nos dá uma idéia do que deve ser viver no Iraque ou no Afeganistão, "voltaram da escola, do trabalho?". Nada se sabe, só dependerá da virulência do próximo ataque, de quantas vezes esse soldado vai disparar, da potência que tenha a próxima bomba.
A indignação existente é compreensível, assim como as exigências de leis que restrinjam o comércio e o porte de armas. Mas não será a elite imperialista de republicanos e democratas nem a Corte Suprema quem colocará um freio: eles são os que defendem a tortura e a transformam em lei, os que submetem as massas dos EUA e do mundo ã podridão capitalista. A barbárie sonha longe e pesado, mas mostrou uma vez mais seu rosto no país mais poderoso do mundo. Lamentavelmente não existe uma resposta simples ao problema da violência de um país que se baseia na mais escancarada violência: invadir, ocupar, planificar golpes de estado. A violência fronteira adentro não é mais que o reflexo da agressiva política imperialista dos EUA para paliar a crescente decadência de sua hegemonia.