FT-CI

Incerteza em Israel

O plano de apartheid depois de Sharon

14/02/2006

O plano de apartheid depois de Sharon

Por: Claudia Cinatti
Fonte: La Verdad Obrera N° 179

Uma vez mais o Oriente Médio está no centro do cenário político internacional.No Iraque as tropas norte-americanas continuam enfrentando a resistência ã ocupação, enquanto Bush tenta arquitetar uma trabalhosa saída política depois das recentes eleições, através da negociação entre as forças xiitas, curdas e sunitas.

A decisão do presidente iraniano Ahmadinejad de continuar com seu programa nuclear de enriquecimento de urânio contra a proibição dos Estados Unidos e da Europa, reabriu a discussão sobre a política imperialista para o Irã, que vai desde sanções econômicas das Nações Unidas até a possibilidade de um ataque militar limitado a suas instalações nucleares, sendo Israel o mais firme partidário do ataque preventivo militar.

A esta situação convulsionada se somam as próximas eleições legislativas palestinas de 25 de janeiro, onde o fator mais dinâmico segue sendo a crise da direção palestina oficialista, o Fatah do presidente Abbas, e o fortalecimento da organização islà¢mica radical Hamas. E sobretudo a crise aberta em Israel com a desaparição da arena política do primeiro ministro Ariel Sharon, após sofrer uma hemorragia cerebral violenta no início de janeiro, tema a que nos referiremos neste artigo.

Ariel Sharon é um conhecido falcão da política israelense. Desde que chegou ao governo, no começo de 2001, redobrou a ofensiva militar nos territórios palestinos. Em abril de 2002, reocupou militarmente a Faixa de Gaza e a Cisjordânia e manteve cercado o então chefe da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, em seu quartel em Ramallah, onde permaneceu virtualmente preso até sua doença e sua suspeita morte em novembro de 2004.

Se os “acordos de Oslo” não eram mais que uma mera ficção de Estado palestino, um conjunto de cidades dispersas sem unidade territorial, sem viabilidade econômica nem controle de suas fronteiras, o plano de Sharon é um avanço qualitativo no sentido de uma solução mais abertamente colonial. Alentado pela ofensiva guerreirista de Bush depois dos atentados de onze de setembro e como parte da “guerra contra o terrorismo”, Sharon passou por cima de todo o processo de negociação com Arafat, que considerou “irrelevante”.

À sua política de “assassinatos seletivos” de dirigentes e ativistas se somou como método de castigo coletivo a demolição de moradias de familiares de “suspeitos de terrorismo”, os postos de controle, os bloqueios e os bombardeios a acampamentos de refugiados. O saldo é incontestável. Segundo as cifras da Meia-lua Vermelha Palestina (organização equivalente ã Cruz Vermelha), de 29 de setembro de 2000 a outubro de 2005, Israel assassinou 3.711 palestinos e feriu 29.198 na Faixa de Gaza e na Margem Ocidental, além de destruir ao redor de 4.170 moradias.

Em troca da “retirada unilateral” das tropas e de evacuar cerca de 8.000 colonos de Gaza, Sharon assegurou o apoio dos Estados Unidos, para seu plano de anexar os 120 assentamentos da Margem Ocidental e os da parte leste de Jerusalém, onde vivem em torno de 450.000 colonos e que compreendem cerca de 58% do território. Esta política tem sua materialização na construção do chamado “muro de segurança” na Margem Ocidental, um muro de concreto, eletrificado, de 8 a 10 metros de altura, que hoje rodeia as cidades palestinas, transformando-as em guetos ou prisões. O plano de Sharon era transformar essa “muralha do apartheid [1]” em fronteira permanente de Israel.

Poderá se sustentar este plano sem Sharon?

Apesar de que o plano de Sharon implicava a imposição unilateral de um regime de guetos e a anexação de grande parte dos territórios conquistados em distintas guerras e operações militares, para a extrema direita sionista e religiosa, a remoção das colônias na Faixa de Gaza foi uma “traição” de Sharon, um histórico promotor dos colonos. Essa posição se expressou no interior do Likud, encabeçada por Benjamin Netanyahu que se transformou no principal rival de Sharon dentro de seu partido.

O Partido Trabalhista também sofreu uma importante mudança. Seu dirigente histórico Shimon Peres, que havia retornado ã coalizão de governo, perdeu surpreendentemente as eleições internas partidárias de novembro passado para o dirigente sindical Amir Peretz, que possui um discurso sionista de esquerda com relação ao conflito palestino - defende que Israel retroceda até suas fronteiras anteriores ã guerra dos seis dias - e um programa de reformas econômicas que apontam sobretudo para reverter o atual curso neoliberal de privatizações e demissões.

Em novembro de 2005 Sharon anunciou sua decisão de abandonar o Likud, a força política tradicional da direita sionista que ele mesmo havia ajudado a fundar há mais de 30 anos e criar um novo partido, o Kadima (Avante), localizado no “centro” entre a extrema direita religiosa e o trabalhismo, levando consigo 14 parlamentares do Likud, incluindo seu vice-ministro Ehud Olmert e o próprio Shimon Peres. O Kadima rapidamente se transformou no partido favorito nas pesquisas para as eleições do próximo dia 28 de março. O fim político de Sharon abre um cenário de incertezas.

Sharon aparecia como a única garantia de sua solução “unilateral” para o conflito palestino. A tal ponto que apesar de ser uma das principais figuras da direita, havia ganhado popularidade no campo sionista “pacifista” a raspartir da evacuação de Gaza, mostrando que a maioria da população israelense apoia uma política de “centro” de não escalar el conflito militar.

Está por se ver se seu sucessor, Ehud Olmer, terá a capacidade para levar adiante este plano ou se el “consenso” que o Kadima expressa se dissolverá aprofundando a crise política e a polarização da extrema direita nucleada em torno do Likud de Netanyahu e dos partidos religiosos.

Com ou sem Sharon, as legítimas aspirações democráticas do povo palestino não terão saída enquanto seguir existindo o Estado sionista, aliado incondicional do imperialismo norte-americano, construído sobre a usurpação territorial e a limpeza étnica da população árabe e que só pode tolerar um regime de apartheid, racista e colonial.

Ariel Sharon Antes da fundação do Estado de Israel, em 1948, Sharon fez parte da organização para-militar Haganah. Participou do assalto, em 1953 do vilarejo de Qibya, onde foram assassinados 70 palestinos, entre eles várias crianças. Se integrou ás forças armadas (IDF), participou em 1956 da ocupação do Sinai e da guerra dos seis dias em 1967. Em 1982 dirigiu a invasão israelense do Líbano para assassinar a direção da OLP exilada nesse país. Desatou um massacre junto com as milícias cristãs direitistas do Líbano nos acampamentos de refugiados palestinos de Sabra y Shatila.
 
Amir Peretz Imigrante de origem marroquina, foi militante do movimento Paz Agora e eleito para o parlamento em 1988 pelo Partido Trabalhista, dirigiu a central operária Histadrut desde 1995. Em 1999 rompeu com o Partido Trabalhista e fundou seu próprio partido da esquerda sionista, o Uma Nação, que obteve três assentos nas eleições desse ano. Em 2005, a pedido de Peres, reingressou no trabalhismo.

 
Benjamin Netanyahu
Primeiro ministro entre 1996 e 1999. Durante seu mandato começou uma renegociação dos termos dos acordos de Oslo mais favoráveis a Israel. Foi ministro de relações externas do governo de Sharon entre novembro de 2002 e fevereiro de 2003, quando assumiu como ministro das finanças. Lançou uma reforma econômica de corte neoliberal, que implicava privatizações e demissões de funcionários públicos e que provocou greves gerais e paralisações.

 
Acordos de Oslo
Foram assinados em 1993 pelo ex-primeiro ministro israelense Y. Rabin (assassinado em 1995 pela direita sionista) e por Yasser Arafat, com o auspício dos Estados Unidos. A fórmula de Oslo de “paz por terra” implicava que a direção palestina se comprometia a desarmar a intifada e a resistência ã ocupação, reconhecia o Estado de Israel e renunciava a estabelecer um Estado palestino em todo o seu território histórico. Em troca, Israel devolveria gradualmente parte dos territórios ocupados na Faixa de Gaza e na Cisjordânia e criou-se a Autoridade Palestina. Ficava sem definir o status definitivo de Jerusalém, assim como as fronteiras do futuro Estado palestino e a questão do direito de retorno dos refugiados palestinos.

 
Densidade de população: Faixa de Gaza: Superfície: 360 km2; População: 1.400.000 palestinos; Densidade: 3.888 hab./km2. Em 2005 se retiraram desta zona cerca de 8.000 israelenses que ocupavam 42% de sua superfície, que amontoando ainda mais do que hoje, nos 58% restantes, a população palestina. Cisjordânia e Jerusalém Leste: Superfície: 5.860 km2; População: 2.400.000 palestinos, 358.000 israelenses; Densidade: 470 hab./km2. Colinas de Golà Superfície: 1.250 km2; População: 20.000 israelenses; Densidade: 16 hab./km2. Território israelense Superfície: 20.770 km2; População: 1.000.000 árabe-israelenses (palestinos), 5.600.000 israelenses; Densidade: 317 hab./km2.

 
[1] Apartheid, em referência ã política de segregação racial aplicada na África do Sul até 1990.

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