FT-CI

RIO 2016

O povo de fora da Festa Olímpica

09/10/2009

Com o anúncio das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro muitos têm comemorado a vitória sobre as cidades imperialistas concorrentes como uma afirmação de um potencial finalmente encontrado do país. Como se o gigante adormecido tivesse despertado, para além do samba e do futebol. O Brasil estaria encontrando seu lugar ao sol e sendo reconhecido perante as nações. Esta exaltação progressiva da nação oprimida por séculos de exploração e opressão tem sido combinada ã retórica e algumas medidas “nacionalistas light” do governo Lula, como a crescente participação do Estado na renda do petróleo, particularmente do pré-sal.

Este discurso nacionalista, associado ás medidas concretas do governo Lula, além de se constituírem como trunfo de sua popularidade e aposta eleitoral para Dilma e aliados como Cabral e Paes, constitui ao mesmo tempo um limite ao desenvolvimento de um real nacionalismo em seu conteúdo antiimperialista e para que efetivamente todos os recursos do petróleo estejam a serviço da população e a renda da Olimpíada, bem como seus investimentos, estejam em função de debelar o desemprego e a carência monstruosa em saúde, educação e moradia. As medidas do governo Lula, como a conquista das Olimpíadas para o Rio, a Copa do Mundo, a agressiva e sem precedentes intervenção diplomática em Honduras, compra de caças franceses e o pré-sal conferem um papel político mais destacado ao país como líder regional e mais autônomo em relação aos EUA e como um “ator global”. Este ganho de espaço político tem sido acompanhado, no entanto, por um aprofundamento da dependência econômica do país ao capital imperialista. A própria Olimpíada configura-se como tal, e ao contrário da forte expectativa popular de que os jogos trarão melhor qualidade de vida para o povo, traça-se como parte de um plano violentíssimo contra os trabalhadores e o povo combinado a favorecimento de gigantescos monopólios nacionais e mais destacada presença internacional do país.

A Olimpíada como parte de um papel internacional aplaudido pelos imperialismos

A vitória das Olimpíadas derrotando Chicago, Tóquio e Madri, ou ainda a compra de armamento francês e não americano, combinada a uma intervenção em Honduras que não foi compartilhada por todo o establishment estadunidense dão uma impressão de “confronto com os EUA”, posição esta que é exacerbada pelos defensores de Lula no movimento sindical e popular. Porém a realidade é mais contraditória, por mais que ocorram rusgas e jogos de interesses que não sejam sempre complementares, mas “nuances” no dizer diplomático, o papel geral cumprido pelo Brasil é aplaudido por amplos setores imperialistas, desde o ponto de vista político e econômico. John Negroponte, organizador da ocupação do Iraque e dos “contra” na Nicarágua nos anos 80, em recente entrevista a O Globo (4/10) afirmava que o “Brasil ganhou importância mundial”, destacando a novidade em Honduras, mas que achava “que desde a participação brasileira no Haiti, ã frente da missão da ONU, o governo brasileiro vem se posicionando no sentido de dar uma contribuição maior nas negociações das crises no continente”. A novidade brasileira para Negroponte, inaugurou-se na assassina ocupação contra o povo haitiano e estaria se confirmando “pelo bom resultado da economia” e agora em Honduras.

O “bom resultado da economia” para estes setores não se trata somente de uma análise de índices, mas principalmente da solidez como seus interesses são defendidos no país. Onde os grandes negócios das multinacionais são regados a isenções de impostos e concessões de empréstimos do BNDES para instalação, investimentos e exportações (vide redução do IPI, empréstimos a Volks, GM e outras). O bom resultado é também o fiel pagamento de todas as dívidas e crescente endividamento interno combinado a abertura para o capital estrangeiro participar na bolsa nacional (estima-se sua participação superior a 40% do movimentado na Bovespa [1]) e poder participar deste mercado onde os juros são exorbitantes e a maior possibilidade de valorização do capital. Este é o fundamento das comemoradas declarações de investment grade conferidas pelas agências imperialistas, do esforço em conceder dinheiro ao FMI enquanto no país milhares padecem de doenças tão ridículas de tratar como dengue (que consiste, quando não hemorrágica, em oferecer leitos e hidratação). Este é o papel que foi aplaudido pelo “Comitê Olímpico” em Copenhague e assinado embaixo que o país gaste mais de US$ 14 bilhões em investimentos quando todas outras capitais buscavam gastar nem a metade.

Uma candidatura para favorecer o grande capital

Ainda no processo de candidatura já se faziam saber quem junto dos governos do município, estado do Rio e federal eram os parceiros da “grande empreitada nacional”: Odebrecht e a EBX do bilionário Eike Batista, o homem mais rico do país. A delegação fluminense, incluindo Cabral e Paes, viajou a Copenhague em um dos jatos da EBX. Estes dois gigantescos conglomerados que tem se destacado por ser parte ativa de grandes empreendimentos do PAC, de serem favorecidos pela Petrobrás na formação de monopólio da petroquímica como no caso da Braskem (controlada pela Odebrecht e com a Petrobrás como sócia menor), o favorecimento da Odebrecht no acordo militar com a França, ou ainda nas negociações para que Eike Batista assuma a parte do Bradesco e o controle da Vale do Rio Doce, e também das negociações brasileiras com países como Equador, Venezuela e Argentina onde mantém imensos projetos. Porque estes homens são parceiros da Olimpíada e juntos aportaram praticamente o mesmo que o governo federal na empreitada (R$ 26 milhões de um total de R$ 101 milhões)?

O maior foco de investimentos da Olimpíada (US$ 11,6 bilhões de US$ 14,4 bilhões) está em obras de infra-estrutura e logística onde seus grupos se destacam, a EBX já está sendo favorecida por já estar realizando obras da Olimpíada (antes mesmo da decisão) como obras na Marina da Glória e a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas [2], e além de interesses de negócios imediatos estes dois empresários somado a outros do setor de vergalhões e as empreiteras aparecem como os principais beneficiários de um projeto que construirá metrôs, linhas exclusivas de ônibus, vilas e numerosas intervenções urbanas.

O projeto urbano associado ã Olimpíada visa atacar os trabalhadores e favorecer o conjunto da burguesia

A Olimpíada também tem sido propagandeada como a oportunidade para o Rio reerguer seu orgulho perdido com a transferência da capital. Esta defesa de uma cidade sem “orgulho” e que precisa ser revitalizada é parte fundamental da campanha realizada pelo aliado de Lula, Paes e que tem se destacado por políticas como o muro em favelas da Zona Sul e o “Choque de Ordem”, medida de intensa repressão ás ocupações de moradia, moradores de rua e camelôs.

A repressão aos trabalhadores e ao povo pobre da cidade e do estado estão no centro do projeto olímpico. O programa oficial (www.rio2016.org.br) tem um capítulo ã parte para segurança, mas não tem um para educação, moradia ou saúde. O projeto lista gastos de US$ 57 bilhões em segurança pública entre 2009 e 2012, que aumentará a força da PM do Rio para 56 mil (um aumento de 42%), a Guarda Municipal (especializada em atacar camelôs e ocupações urbanas) em outros 3,5 mil (ou 50%) até 2014. Estes projetos ainda estão associados ã rubrica especial no projeto para “furgões como meio de dissuasão visível” (nome olímpico para Caveirão) e ainda “garantir uma presença policial permanente nas zonas de alto risco nas comunidades”.

O povo carioca viu uma ofensiva assassina conduzida antes do PAN com dezenas de corpos deixados no chão com marcas de tortura e execução sumária, como denunciado pela ONU sobre o Complexo do Alemão, vê agora um plano muito mais ofensivo ser traçado, que passará não só por estas intervenções assassinas como pela repressão sistemática de “presença permanente” como na atuais UPPs de Paes em comunidades como a do morro Dona Marta. Nesta comunidade toda organização independente dos moradores, até para eventos culturais como funk e hip-hop estão proibidos e há um toque de recolher imposto pela “presença permanente”.

O projeto urbanístico desenhado junto ao aumento do efetivo policial onde o grosso dos investimentos se concentrarão na rica Barra é um aumento da repressão e barateamento do preço da força de trabalho. Se na Barra sobrarão recursos para especulação imobiliária, a região portuária, suas ocupações de moradia e numerosas comunidades, serão alvo de desapropriações para dar lugar ao projeto “Porto Maravilha” desenhado para a especulação imobiliária e para livrar a cidade de pobres, ocupantes e ambulantes. Este é o signo do Choque de Ordem, do “Porto Maravilha” e o que o anúncio de aumento de guarda municipais visa. O conjunto destas medidas ao atacar as possibilidades de sobrevivência do povo sem ser vendendo de sua força de trabalho (como biscate, camelô, etc) gerará uma forte diminuição da renda, enquanto os lucros patronais encontrarão o Monte Olimpio. O Globo projetou em 3/10 (em tom comemorativo sem citar o dado atual) que a renda média antes da Olimpíada será de US$ 505 (ou R$ 1010 pela cotação do dólar projetada), porém hoje ela é de R$ 1375 [3]!

Desenvolver a denúncia da repressão e lutar para que os recursos do país sejam do povo

Frente a estes primeiros elementos que já podem ser vislumbrados do “magnífico espetáculo” que será realizado é necessário que as organizações de direitos humanos, entidades estudantis e do movimento popular, sindicatos e partidos de esquerda realizem uma ampla campanha de denúncia dos aspectos de repressão ao povo que estão embutidos neste projeto. É necessário avançar da denúncia da repressão e do projeto anti-popular que está desenhado para fazer destes vultuosos investimentos, bem como a totalidade dos recursos oriundos da riqueza natural e do povo do país estejam a serviço não dos lucros dos bilionários “nacionalistas” e seus sócios imperialistas mas sim da maioria do povo brasileiro, garantindo educação e saúde dignas, emprego para todos em frentes públicas de trabalho controladas por associações de moradores e sindicatos e que paguem um salário mínimo do DIEESE em todas as obras olímpicas, construindo infra-estrutura esportiva, de lazer e moradias populares. Impostos fortemente progressivos a fortunas como a de Eike Batista para colocar estes recursos e propriedades em locais privilegiados para o turismo a serviço da população através do controle destes empreendimentos pelos trabalhadores, e assim começar a fazer da Olimpíada uma festa que seja efetivamente popular. Chamamos a CONLUTAS e a INTERSINDICAL a encabeçarem esta perspectiva em suas bases e dirigindo-se ás bases das categorias dirigidas pela CUT, Força Sindical, CTB e demais centrais governistas e pró-patronais.

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  • [1Estado de São Paulo 05/08/09

    [2O detalhe é que Eike Batista detém inúmeros negócios nos mesmos locais. Ele também é o maior beneficiário de o governo não ter afetado ás áreas de petróleo já leiloadas incluindo ás do pré-sal, sendo o maior concessionário excluindo a Petrobrás, as reservas de sua empresa a OGX se calculam em 4 bilhões de barris.

    [3Pesquisa Mensal de Renda e Emprego na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, IBGE, Agosto de 2009.

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