Continuamos chamando o PSTU a unificar a campanha
Pela retirada das tropas brasileiras do Haiti
23/04/2010
Passados três meses após o terremoto que atingiu o Haiti, a repercussão da tragedia já não mais ocupa as páginas centrais dos jornais internacionais. Por outro lado, o povo haitiano segue sob as mesmas condições em que se encontrava logo depois do terremoto - mais uma demonstração de que a magnitude das conseqüências geradas a partir do dia 12 de janeiro não está definida simplesmente pelas causas naturais. E para entender isso é necessário relembrar que ao contrário de um país miserável por natureza, o Haiti teve suas riquezas espoliadas ao longo da história, primeiro pelo colonialismo e hoje pelo imperialismo. Há quase seis anos, o exército brasileiro de Lula comanda a MINUSTAH, apresentada como uma missão de paz, a serviço na verdade de conter todo tipo de mobilização, imprimindo o terror entre a população negra haitiana, a serviço dos interesses imperialistas. Com o terremoto, além do aumento do contingente de tropas da ONU, incluindo as brasileiras, Obama enviou nada menos que 16 mil soldados norte-americanos. O plano de “reconstrução” do Haiti significa geração de lucros para grandes empresas capitalistas internacionais. Para isso é necessário manter a “estabilidade”, é necessário manter o povo haitiano sob os fuzis de uma ocupação militar que ganhou proporções ainda maiores depois do terremoto. Não deixemos de lembrar que tudo isso acontece num contexto em que Obama se alça numa ofensiva na região da América Latina, ter uma posição conquistada tão próxima de Cuba não seria um mero detalhe. Desde o terremoto, nós da LER-QI colocamos como eixo de nossa atuação política a necessidade de colocar de pé uma ampla campanha de solidariedade ao povo haitiano, tendo como ponto principal a defesa da retirada das tropas. Para nós, a campanha internacionalista que nós da FT (Fração Trotskista), assim como a campanha que outras organizações como o PSTU/LIT, já vínhamos desenvolvendo nos anos anteriores ganhou um sentido ainda mais profundo. A repressão por parte das tropas contra o povo haitiano – que se expressa nos assassinatos, estupros, repressão a mobilizações etc. – se intensifica num grau ainda mais alarmante após o terremoto. Se já vínhamos denunciando a farsa do discurso de missão de paz, hoje se faz necessário dizer aos trabalhadores e ã juventude do nosso país que é uma grande falácia essa história de que as tropas estão a serviço da reconstrução do país. É necessário questionar: qual reconstrução? A reconstrução para garantir moradia, hospitais, escolas ã população? Não! As pessoas seguem sem abrigo, sem atendimento médico adequado, sem acesso ã tão propagandeada ajuda humanitária internacional. Nesses três meses organizamos e participamos de atividades em vários lugares com o objetivo fundamental de discutir a necessidade de colocar de pé uma ampla campanha pela retirada das tropas do Haiti. Nesse mesmo sentido, organizamos atos em frente ao consulado haitiano em São Paulo exigindo a retirada das tropas brasileiras, denunciando o papel nefasto que cumpre o governo Lula. Em Campinas, a partir do Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp, impulsionamos atos com o mesmo objetivo. Como parte dessa perspectiva, fizemos um chamado da juventude da LER-QI ã juventude do PSTU para a construção de uma campanha em comum, partindo do fato de que a Frente Nacional de Solidariedade ao Povo Haitiano apresentava desde seu início um limite muito explícito, tendo em suas fileiras setores governistas que não se dispõem a denunciar o governo Lula e nem colocar suas forças para uma verdadeira campanha pela retirada das tropas brasileiras. Nosso chamado partia, ainda, da compre-ensão de que o envio de ajuda ao Haiti é muito importante – e valorizamos todas as iniciativas realizadas nas universidades, fábricas e sindicatos para o envio de ajuda ás organizações operárias e populares. No entanto, não concordamos que essa ação seja o eixo fundamental da campanha, deixando de lado ou secundarizando a exigência pela retirada das tropas. Desenvolvemos esse debate em vários lugares, inclusive na Casa Socialista Karl Marx, impulsionada pela LER-QI, num debate em que contamos com a presença de Otavio Calegari, militante do PSTU que estava no Haiti no dia do terremoto. Nas últimas semanas vimos Zé Maria do PSTU em viagem ao Haiti colocando como eixo a exigência pela retirada das tropas, o que consideramos muito correto e nos reafirma a importância de unificar as forças de todas as organizações independentes do governo numa campanha comum de mobilização pela retirada das tropas do Haiti, para que o povo haitiano possa tomar em suas mãos o destino do seu país dando continuidade ã sua heróica história revolucionária. Reafirmamos o chamado ã juventude do PSTU a impulsionarmos conjuntamente essa campanha, que certamente é uma tarefa fundamental que não será tomada pelas principais organizações de massa do país por seu atrelamento ao governo.