Cúpula das Américas
Querem legitmar o saque imperialista
14/11/2005 De Miami a Mar del Plata
Querem legitimar o saque imperialista
Por Juan Andrés Gallardo
A primeira Cúpula das Américas teve lugar em Miami em 1994, impulsionada pelos EUA com o apoio dos governos neoliberais de toda a região 1 (como Menem na Argentina), com duras exigências como a liberalização dos mercados, a privatização das empresas estatais e a obrigação em manter um superávit fiscal as custas de um corte no orçamento da saúde, educação e áreas sociais, isto é legalizar o saque imperialista em nosso continente.
Os EUA como principal promotor pretendia estender o acordo comercial recém assinado com o México e o Canadá (NAFTA) a toda a região. O projeto original para toda América Latina, a ALCA, assinado por todos os presidentes, sob a supervisão de Clinton, previa estender o saque imperialista de Alaska a Terra do Fogo, que deveria reger plenamente a partir da IV Cúpula de 2005.
No entanto, as mudanças que atravessou nosso continente nos últimos anos, com crises econômicas e sociais, provocou também importantes lutas que derrubaram presidentes como os da Bolívia, do Equador e da Argentina. As lutas dos trabalhadores, camponeses e jovens latino-americanos fizeram naufragar o projeto original da ALCA, no entanto isto não é um impedimento para que o genocida Bush venha a Mar del Plata a negociar com os novos governos “progressistas” da região, as pautas do saque imperialista.
Os limites da política imperialista
Apesar de que os EUA. avançaram nos últimos meses fechando acordos como os Tratados de Livre Comércio bilaterais com países da América Central e andinos, a ofensiva neoliberal não goza da hegemonia que soube ter nos anos 1990.
A supremacia indiscutida dos EUA., idéia que se fortaleceu depois da queda do Muro de Berlim e a URSS, fortaleceu a ofensiva capitalista sobre as massas do mundo, os países semicoloniais e as ex economias “chamadas socialistas”, com acordos comerciais com condições absolutamente desvantajosas, e inclusive com ocupações militares. Na América Latina isto se viu expresso no Consenso de Washington.
Esta política que foi levada ao extremo pelo governo Bush, aproveitando a base social reacionária gerada pelos atentados do 11/9/2001, foi e é patrimônio do governo ianque e seus aliados imperialistas. Os Estados Unidos procuravam assim assegurar as condições “para um novo século americano”. Mas esta política não se limita a Bush, conta com o apoio dos democratas que avalizaram todas suas medidas reacionárias e apoiaram a guerra contra o Afeganistão e o Iraque. Inclusive estas políticas que tiveram durante o governo democrata de Clinton sob uma cobertura humanitária, como as missões em Kosovo, a sangrenta ocupação de Somália, não eram mais do que a expressão militar de uma política de opressão sobre os países semicoloniais.
A atual debilidade de Bush mostra o fracasso desta tentativa de redefinir a situação internacional a favor dos interesses dos EUA. A mostra mais clara deste fracasso são as dificuldades para estabilizar o Iraque, onde o exército mais poderoso não pôde derrotar ã insurgência sunita.
O governo Bush, como expressão mais extrema da política imperialista, vem sofrendo vários revezes no último ano, e não só na América Latina. A incerteza da situação no Iraque e uma ocupação que próprios funcionários ianques vêem empantanada, mostram como a prepotência imperialista exercida anteriormente se encontra com novos limites e dificuldades. Somado a isto, o segundo governo de Bush, que assumiu com a promessa de aprofundar sua ofensiva imperialista, hoje se vê cruzado por escândalos políticos que tocam de perto a homens da Casa Branca e ainda não se recupera do desastre do Katrina. O furacão que cobrou a vida de dezenas de milhares pessoas questionou a capacidade de liderança de Bush, no meio de uma situação lotada de incertezas.
A cúpula de Mar del Plata
Além de atritos diplomáticos e discursos “sul-americanistas” nenhum dos governos questionará o pagamento da fraudulenta dívida externa, senão que continuarão pagando-a pontualmente (e com juros) como fizeram até agora. Os “progressistas” Lula, Tabaré Vázquez e Kirchner, renovarão votos de confiança com os EUA como o vêm fazendo desde a ocupação no Haiti, atuando como militares a serviço dos ianques, enquanto seguem cumprindo um papel de principais sustentadores da ordem regional como demonstraram o Brasil e a Argentina frente ás crises na Bolívia, apresentando-se como os representantes das multinacionais petroleiras na contramão dos trabalhadores e o povo boliviano. Ninguém questiona a participação do genocida Bush na Cúpula.
Ainda que o resultado da Cúpula seja incerto, o que sim é claro, é que nenhuma luta séria contra o imperialismo virá da mão destes governos.
1 Na Cúpula das Américas participam os presidentes de todos os países de América menos Cuba.
Chávez na cúpula
Sem dúvida uma das figuras mais importantes da IV Cúpula será o presidente venezuelano Hugo Chávez, que aparecerá como contraposto a Bush, com um perfil anti-norteamericano e “sul-americanista”. Seguramente voltará a fazer um de seus acendidos discursos contra Bush que sem dúvida gerará muitas expectativas, (sobretudo comparado com o servilismo do resto dos governos) e realçará os avanços de sua política energética regional.
No entanto, Chávez procura consolidar-se como árbitro entre a ascensão de massas e a reação burguesa e imperialista, longe de confiar na mobilização operária e popular. Isto se viu claramente na greve de agosto dos petroleiros equatorianos, onde Chávez apoiou o governo contra os trabalhadores e enviou petróleo para amenizar o impacto de sua luta. Cumpriu um papel similar nas jornadas de junho de 2005 na Bolívia, intercedendo para que Evo Morales apóie a nominação de Rodríguez para presidente, desviando assim a importante luta em curso.
Sua “política energética”, apresentada como um pilar da unidade latino-americana, não enfrenta a rapina imperialista, senão que colabora com a legitimidade dos monopólios que saqueiam nosso continente, como mostra o recente acordo multimilionário assinado por Chávez com o polvo petroleiro espanhol Repsol. A partir de agora além de saquear os recursos naturais de nosso país também avançará sobre a zona do Orinoco na Venezuela, considerada uma das zonas mais ricas em hidrocarbonetos do planeta1.
O fiasco do ”sul-americanismo”
Alguns intelectuais do reformismo e do populismo semeiam esperanças numa “unidade latino-americana” liderada pelos governos “progressistas” de Kirchner, Lula (Brasil) e Tabaré Vázquez (Uruguai) e do venezuelano Chávez na Comunidade Sul Americana das Nações (CSN). No entanto as próprias cúpulas que se levaram a cabo entre os países da região como a CSN (cujo máximo impulsionador foi o ex presidente Duhalde) demonstraram ser um fracasso e nem sequer chegaram acordar uma fundação formal do bloco comprometendo-se a continuar as discussões... por e-mail (¡?).
A enunciada “Comunidade Sul-americana das Nações”, um Mercosul renovado ou a petroleira latino-americana proposta por Chávez são apresentados como eixos de uma “construção sul-americana” para enfrentar a pressão imperialista. Na realidade, este discurso não conseguiu nem sequer aproximar posições entre os diferentes países nem ser uma alternativa para a ordem regional.
Este fracasso não se deve só ao fato de nenhum dos governos ter interesse em romper suas relações com o amo ianque, e sim que utilizam os acordos existentes para negociar com os EUA as condições do saque imperialista. Por exemplo, dos cinco países que integram a Comunidade Andina das Nações, três deles (Colômbia, Equador e Peru) estão a ponto de assinar um TLC com os EUA. em condições desvantajosas, abrindo os mercados para que os ianques redobrem suas correntes sobre os povos andinos. Enquanto dentro do Mercosul os atritos comerciais entre os chamados sócios maiores, Argentina e Brasil e o papel de líder regional que quer ocupar este último geram uma tensão permanente e a paralisia do mesmo que é aproveitado pelos EUA. para aumentar sua pressão militar e comercial como o demonstram a presença de fuzileiros ianques no Paraguai com imunidade diplomática e os exercícios conjuntos entre militares norte-americanos e uruguaios que os “progressistas” da Frente Ampla acabam de votar a uma semana.
É que as burguesias latino-americanas, ainda que pechinchem em torno de tal ou qual aspecto comercial ou político, não estão dispostas a transformas a ordem regional de subordinação semicolonial.
A única saída real a esta subordinação virá da mobilização, que tome um curso independente. Onde a classe operária, junto aos camponeses, os povos originários, jovens e o povo pobre expulsem o imperialismo e os governos servis, no caminho de pôr em pé uma Federação de Repúblicas Socialistas da América Latina.
1 Além dos acordos com as multinacionais norte-americanas para ficar com o gás e o petróleo dos países andinos em torno do “anel energético” que promovem todos os “progressistas” sem exceção.