FT-CI

Brasil - Liga Estratégia Revolucionária

Realizou-se o III Congresso da LER-QI

30/08/2012

Em meio a um cenário internacional de desenvolvimento e aprofundamento da crise econômica internacional, que cada vez mais se combina com fortes mobilizações internacionais da juventude e em lutas dos trabalhadores (ainda incipientes, mas que mostram toda a força), nos dias 19, 20 e 21 de Agosto se realizou o III Congresso da Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional (LER-QI). Com a presença de trabalhadores e estudantes da capital de São Paulo e da região do ABC, além de diversas cidades do interior – como Campinas, Marília, Franca -, e ainda de delegações de estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais, realizaram-se importantes e vivos debates sobre as tarefas dos revolucionários no cenário nacional brasileiro (tendo por base a dinâmica internacional) e a necessidade de nos prepararmos para enfrentar a crise capitalista, com os ataques patronais e do governo ao conjunto dos trabalhadores em nosso país. Tivemos a presença também dos dirigentes Titin Moreira do Partido dos Trabalhadores Socialistas (Argentina) e Pablo Torres do Partido dos Trabalhadores Revolucionários – Classe Contra Classe (Chile), que contribuíram fundamentalmente para nossa reflexão com um aporte internacionalista como parte da tradição que viemos forjando na Fração Trotskista – Quarta Internacional.

O desenvolvimento da crise capitalista e elementos transitórios no cenário nacional

Os últimos efeitos da crise econômica internacional tem sido devastadores, sobretudo na Europa. Depois dos primeiros capítulos da crise em que os Estados se sobrecarregaram insuportavelmente com enormes dívidas públicas para salvar com trilhões de dólares os bancos, o plano do último período do imperialismo é descarregar a crise diretamente nas costas dos trabalhadores, com planos de austeridades, arrochos salariais, perda de direitos, precarização do trabalho etc. Com 53% da juventude europeia desempregada, já se forma a ideia geral de que estamos vivenciando uma “geração sem futuro”. Mas não é só na Europa que vemos cenários duros para os trabalhadores: outros países centrais na dinâmica internacional do mundo, como EUA, que sentem concretamente os efeitos da crise, com desaceleração econômica e perda da hegemonia, ou mesmo a China que vê, depois de longos anos em crescimento frenético, ir perdendo paulatinamente a força.

Em base a esse cenário é que discutimos no III Congresso com dezenas de delegados intervindo com respeito a possíveis contornos ou vias para os impactos da crise no Brasil e as tarefas que os trabalhadores temos para enfrentá-la, quando podemos estar vivenciando um novo capítulo em que os BRICS (Brasil, China, India, Russia, Africa do Sul), antes considerados polos de estabilidade, podem se tornar os novos “elos débeis” da crise econômica. No plano nacional, vem se fechando um período em que o lulismo (e todos os representantes ministeriais) enchia a boca para dizer que o Brasil estava imune ã crise, que era apenas uma “marolinha”. O discurso do governo Dilma agora é que “o Brasil não é uma ilha”, evidenciando o que já é claro a todos: que está se apontado também em nosso cenário nacional os fortes efeitos da crise econômica.

As greves federais na contra-mão dos ataques patronais e do governo Dilma

Com a combinação de importantes greves entre os trabalhadores do funcionalismo público federal (envolvendo ANVISA, receita federal e fiscais agropecuários) e professores das universidades federais (além do movimento estudantil, que se solidarizou com as lutas) mais o ataque aos trabalhadores da GM (com suspensão temporária do conflito até novembro [1] ) - mas que já são a expressão dos anseios da patronal de começar a preparar o terreno de duros ataques, demissões, retirada de direitos etc. aos trabalhadores – podemos dizer que vivemos no Brasil uma situação não revolucionária, mas com importantes elementos transitórios em que já não se pode falar apenas na situação de reformismo e a estabilidade lulista como antes (embora ainda prevaleça esse sentido da etapa) e em que se avizinha cada vez mais os impactos profundos da crise econômica.

Nesse contexto, o governo Dilma mostrou toda sua faceta anti-operária – num claro curso direitista que marca a tendência do governo – ao atacar duramente as greves com cortes de ponto e colocando trabalhadores temporários para exercerem a função dos grevistas; o governo pretende ainda ganhar posições e acertar as bases jurídicas para legalmente atacar o direito de greve do funcionalismo. Além disso, esse mesmo governo vem aprofundando a privatização dos portos, aeroportos e rodovias, e prepara duros ataques com as reformas da previdência e trabalhista.

Deste modo, a chave é se preparar para os elementos transitórios da situação que podem influenciar no conjunto da etapa em que vivemos. Com os anúncios de demissões (ou ameaças) em diversas fábricas (a começar pela GM, mas também recentemente como Siemens, Motorola, Mercedez, conforme noticiais na imprensa nos últimos dias), debatemos no III Congresso a necessidade de aprofundar a luta contra as demissões, o arrocho salarial, a precarização do trabalho, além de combater a reforma trabalhista e da previdência, colocando-se contra os ataques do governo e da patronal para que a crise seja paga pelos capitalistas.

Estratégia de construção para preparar os trabalhadores para enfrentar os ataques

Justamente tendo em base essa cenário nacional é que debatemos como fortalecer nossa construção a partir de se ligar ainda mais e mais audazmente aos trabalhadores: partindo de nossa atuação como ala revolucionária no Sindicato de trabalhadores da USP, queremos fortalecer esse sindicato como um exemplo de sindicalismo classista, não corporativo e que atue como vanguarda na união do conjunto das categoriais a partir da CSP-CONLUTAS, para que os trabalhadores enfrentem os ataques patronais e do governo (que por sua vez contam com o apoio das principais centrais sindicais, CUT, Força Sindical, CTB) e, em se tratando do SINTUSP, também orientamos o aprofundamento da luta contra as repressões da reitoria da USP, colocando todas as nossas forças para construir uma forte campanha pela retirada de todos os processos aos estudantes, ativistas trabalhadores e dirigentes do SINTUSP, e pela reintegração de todos os estudantes expulsos e de Claudionor Brandão, além de dar um giro para atuar como exemplo revolucionário da região (Zona Oeste), para se aliar aos diversos setores operários, terceirizados, juventude estudantil e trabalhadores etc.; a partir daí, pretendemos aprofundar e conectar os setores operários onde já viemos atuando, como metroviários, professores, bancários, correios, sapateiros e outras categorias, para conformar um forte salto em nossa organização no movimento operário.

Nesse sentido, também votamos colocar de pé uma forte juventude de centenas de jovens atuando nas universidades contra o projeto colocado pela burguesia de privatização do conhecimento e atuando por uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre; desde a nossa juventude também pretendemos estar na ponta de lança da defesa dos trabalhadores em suas diversas categorias, retomando as melhores tradições de ’68 da aliança entre estudantes e operários e nos baseando nos exemplos internacionais vigentes do mundo em que a juventude se torna grande protagonista de fortes mobilizações, de modo que marcamos para o dia 29 de Setembro uma grande plenária da Juventude as Ruas em São Paulo.

As ideias de Leon Trotsky como resposta ã bancarrota capitalista

Todo esse projeto está ligado, do ponto de vista da LER-QI – seção nacional da Fração Trotskista – Quarta Internacional, a dar uma forte ofensiva ideológica-propagandistica com as ideias de Leon Trotsky, pois consideramos que a reconstrução da Quarta Internacional e de todo o legado do revolucionário bolchevique é a resposta para um capitalismo em bancarrota internacional que reatualiza a necessidade da revolução operária e socialista para enfrentar as catástrofes que a crise do imperialismo prepara em todo o mundo.

Debatemos no III Congresso intervir nas distintas frentes com o seminário “Por Que Trotsky?”, que se comporá de uma série de palestras, debates e publicações em universidades como a USP, Unicamp e Unesp (e queremos terminar com um grande ato em homenagem a Leon Trotsky na USP, com lançamento da Revista Estratégia Internacional Brasil), além de sessões voltadas a trabalhador@s para discutir o Programa de Transição, a primeira já marcada para o dia 15 desse mês. Além disso, discutimos inúmeras elaborações, materiais, revistas para recolocar com força nos diversos espaços as ideias de Trotsky. Mas o fundamental é, além da ofensiva ideológica, buscar nos lugares em que pudermos tornar o trotskismo um exemplo concreto nos processos, de modo a dar exemplos na luta de classes no cenário internacional e nacional que descrevemos e “fazer política” contra os ataques aos trabalhadores no plano nacional, nas universidades etc.

Ofensiva trotskista e a construção de um partido revolucionário no Brasil

É com essa ofensiva trotskista que pretendemos auxiliar na construção de um partido revolucionário no Brasil, que no nosso entender passa pelo processo de rupturas e fusões em meio ã experiência estratégica na luta de classes. Nesse sentido que pretendemos nos espelhar na teoria, estratégia e programa de Leon Trotsky (marxismo revolucionário continuador do bolchevismo-leninismo) para debater com as diversas correntes internacionais o fracasso que tem demonstrado o centrismo trotskista e o reformismo para responder aos cenários impostos pela crise econômica, tanto na Primavera Árabe como no último período nos processos na Europa, particularmente com a capitulação oportunista dessas correntes ao fenômeno eleitoral da Grécia, onde as diversas correntes trotskistas se adaptam defendendo governos (burgueses) “de esquerda” numa clara capitulação ás correntes pequeno-burguesas e refomistas como o Syriza, revisando em forma menchevique a tática revolucionária bolchevique-leninista de governos operários e camponeses como “ante-sala” do poder proletário (ditadura do proletariado).

No plano nacional, pretendemos acompanhar cada um dos processos da luta de classes, extraindo os balanços necessários (como no caso da GM, em que se passaram Lay-off e PDVs e possível demissões em massa em novembro) pela falta de preparação das organizações e uma estratégia para vencer no movimento operário. É na perspectiva de combater as vacilações da esquerda trotskista e contribuir para que a crise econômica seja paga pelos capitalistas, organizando os trabalhadores e atuando com uma estratégia revolucionária de independência de classe que construímos nosso III Congresso e chamamos tod@s a debater conosco essas ideias e o projeto apaixonante de construir uma organização revolucionária no Brasil que possa fazer a diferença para derrotar esse sistema de misérias e opressão aqui e no plano internacional.

Notas

[1] O conflito na GM terminou em um acordo no dia 4 de Agosto entre a empresa e o sindicato dos metalúrgicos da região (dirigido pelo PSTU). Dos 1840 operários que operam a linha de produção MVA, 900 continuam trabalhando até novembro, quando a empresa ameaça fechar definitivamente a linha, e outros 940 terão 15 dias de férias coletivas, entrando em regime de lay-off (suspensão temporária de contrato de trabalho), com salários pagos metade pela empresa e metade com recurso do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Além disso, foi aberto um PDV (Plano de Demissões Voluntárias).

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