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Reflexões sobre a crise do PT

24/02/2015

Reflexões sobre a crise do PT

Não é novidade que o PT está em crise. Não só os jornalistas da oposição e da direita partem da existência desta crise como um fato. Os lideres petistas, começando por Lula, também admitem essa crise, por muitos apontada como a maior da história deste partido.

O que é essa crise? Como discutimos em artigos anteriores (leia aqui), Lula afirma que o PT “se tornou um partido igual aos outros”. O PT há muitos anos se tornou um partido igual aos outros. Mas algumas questões devem explicar que agora o partido enfrente uma crise de proporções históricas, por “ter se tornado um partido igual aos outros”.

A diferença do PT e a crise de representatividade

Quando se diz que o PT se tornou um partido igual aos outros, quer dizer que antes ele era diferente. Enquanto todos os demais partidos eram partidos das classes possuidoras e de setores privilegiados (com exceção do velho partidão que também era um partido de trabalhadores), o PT nasceu como um partido dos trabalhadores, que buscavam uma representação política própria, independente dos políticos burgueses e dos militares. Nesse sentido o PT foi sim diferente dos principais partidos – PMDB, PSDB, DEM, PSB, PTB etc. Além disso, ao longo da década de 1990, também consolidou sua imagem como o partido da ética, contra a corrupção na política.

Nestes dois sentidos o PT era visto como um partido diferente dos outros por amplos setores da população, principalmente nos centros urbanos. Na oposição, o PT cumpriu o papel de legitimar o sistema de partidos surgido do pacto de transição com os militares. As recorrentes crises de corrupção afetavam menos a credibilidade do sistema político brasileiro, pois o PT aparecia como uma alternativa. Agora, quando a crise atinge em cheio o PT, ela se torna também uma crise de representatividade do conjunto do regime, sem que exista nenhum partido capaz de cumprir o papel estabilizador (poucas vezes reconhecido pelos tucanos) que o PT teve quando era oposição.

A primeira grande crise do PT – 2003/2005

A primeira crise do PT como partido de governo foi logo quando Lula assumiu a presidência. Num contexto recessivo, Lula aplicou medidas neoliberais para satisfazer o mercado. Uma grande greve dos servidores públicos a nível nacional contra a reforma da previdência em 2003, e rupturas no PT e na CUT que deram origem ao PSOL e a Conlutas, foram os resultados imediatos. Se um processo de greves, que teve seu auge em 2004 com a greve dos bancários, que se enfrentaram com a direção petista de um dos sindicatos mais fortes da CUT para entrar em greve.

Houve, no entanto, um destempo entre o ajuste e rupturas de 2003 e a crise de representatividade de 2005 (que levou a uma nova série de rupturas com o PT e adesões ao PSOL). Quando a crise do mensalào atingiu seu ápice em 2005, a onda de greves de 2003/2004 já havia sido contida e a economia começava uma recuperação.

Com a melhoria das condições econômicas a partir de 2006 Lula conseguiu aumentar os gastos sociais, e recompor em partes sua base de apoio tanto no funcionalismo público quanto em amplos setores das classes médias tradicionais. Contanto com o crescimento econômico para congelar a luta de classes, o PT se recuperou e estancou o movimento de rupturas a esquerda. A possibilidade do que tem sido chamado pelos próprios intelectuais petistas de um “reformismo fraco”, esteve sempre pautada na passividade dos movimentos populares e de trabalhadores.

Em 2013 um grande movimento de massas tomou conta do país. Seu sentido geral era a luta por mais direitos sociais, pelo fim do “reformismo fraco”, que significa uma rentabilidade alta para os grandes capitais e a manutenção dos privilégios da casta política. A situação de passividade e de contenção da luta de classes, com a qual o PT estacou sua crise de 2003/2005, foi rompida em 2013. O movimento de trabalhadores não demorou para aproveitar a brecha, e já no segundo semestre de 2013 e em 2014, vimos grandes processos de luta que ficaram marcados nas grandes vitórias dos garis do Rio de Janeiro e dos trabalhadores USP em São Paulo. Ainda num contexto de estabilidade econômica, a ruptura da passividade social, questionou pela esquerda os tempos de “reformismo fraco” e privilégios em alta.

Entre demagogia eleitoreira e o ajuste neoliberal

Nas eleições o PT respondeu a sua crise com um discurso popular, de defesa de direitos sociais e denunciando ferozmente o caráter antipopular do programa tucano. Esse discurso garantiu a reeleição de Dilma, que vinha fortemente questionada pelas manifestações de junho. Chegou a despertar entusiasmo em muitos setores que também apoiaram passivamente as manifestações. Isso só aumentou o impacto negativo imediato da sua virada rumo a medidas de ajuste neoliberal – cortes de gastos de áreas sociais, como educação e saúde, restrições a direitos dos trabalhadores e medidas privatistas como a abertura de capital da Caixa Econômica. Tudo que Dilma e o PT tanto criticaram nos tucanos uma semana antes.

Agora, os componentes da crise que se deram separados no tempo dez anos atrás agora são simultâneos. 1. Uma grande crise representatividade do sistema político e particularmente do PT, ligadas ao escândalo da Petrobras e a mentira que o PT contou nas eleições, que a guinada atual deixa clara para todos 2. Um processo de luta classes superior ao que foi a greve do funcionalismo em 2003, que mesmo tendo acontecido há dois anos, iniciou um ciclo de mobilizações que não se encerrou, levando em conta, além das mobilizações de junho de 2013, também a onda de greves operárias de 2014, o chamado “maio operário” 3. Um processo recessivo que obriga o PT a aplicar medidas de ajuste que colocam o seu governo em rota de colisão com sua base social e com os sindicatos. Sendo muito menos provável que agora o PT consiga se desviar o processo atual contando com a ajuda de um novo ciclo de expansão econômica.

Sem dúvida o enfraquecimento do PT provocado pelas manifestações de junho, abriu espaço para uma maior atuação da oposição tucana e inclusive de setores mais ã direita. Mas abriu também espaço para novos fenômenos antiburocráticos entre os trabalhadores, para as lutas democráticas de todos os setores oprimidos e novas perspectivas para a esquerda revolucionaria.

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