FT-CI

Estado Espanhol

Resgate para os bancos, miséria para os trabalhadores

17/06/2012

Por Guillermo Ferrari

Este fim de semana, o governo espanhol acabou aceitando um empréstimo da União Européia (EU) com o objetivo urgentíssimo de evitar a bancarrota do sistema financeiro. Semanas de tensão com a Bolsa em queda livre, altíssimos juros para a dívida espanhola e um risco-país disparado precederam o desfecho anunciado. Tudo mais acelerado pela incerteza que causam as próximas eleições gregas nos governos da UE frente ã possibilidade de que saiam perdedoras as forças pró-austeridade.

Rajoy e De Guindos estão mais aliviados porque esperam assim conseguir frear momentaneamente o ataque sobre a praça espanhola. A UE e o FMI também, porque desta forma querem evitar um crack espanhol que repercutiria imediatamente sobre o Euro e o restante das potências imperialistas.

A concessão do empréstimo não é exatamente uma ajuda, pois está ligada a condições draconianas. O governo mente quando diz que só são impostas condições aos bancos, ou que isto não é um resgate do Estado Espanhol. A UE empresta ao Estado Espanhol por meio de uma entidade pública, o Fundo para a Reconstrução e Ordenamento Bancário (FROB), criado pelo Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), e este empresta aos bancos. O FROB passa a estar sob o controle quase absoluto da UE, assim será ela quem supervisionará diretamente o sistema financeiro espanhol.

Além disso, a Comissão Européia deixou claro que as parcelas de crédito estarão condicionadas a que o governo aplique as receitas de ajuste que sejam demandadas: aumento do IVA, endurecimento da reforma trabalhista, maiores cortes na educação e saúde, aplicação mais rápida da reforma das aposentadorias... Vendem este resgate como uma “barganha”, seus juros são só de 3%. Certamente é um grande negócio para os bancos, mas há um preço que não nos contam: que o governo de Rajoy fará com que seja pago pelos trabalhadores e o povo pobre.

Rajoy nos faz pagar a crise

O banco está a espera de quanto será a quantia total que terá que utilizar, já que tem que esperar as auditorias do FMI. Mas é muito provável que o empréstimo seja usado para pagar as dívidas dos banqueiros. Sem dúvida, este empréstimo é muito pravável que nunca chegue a ser pago pelos bancos e caixas, os responsáveis pela crise. Então será pago pelo Estado Espanhol, quer dizer, com o orçamento dos impostos que pagamos, em maior quantidade os trabalhadores e o povo. Esta questão implicará maiores cortes nas conquistas sociais, mais crescimento de desemprego e aumento dos impostos ao povo. Diante dessa situação, o presidente Rajoy vai tranquilamente assistir uma partida de futebol da seleção porque diz ter resolvido a situação. Esta é a enésima mostra de que os governos, sejam conservadores ou de centro-esquerda, sempre se preocupam com os lucros dos bancos e das grandes empresas. Assim o fez Zapatero na gestão passada ao negar legislar sobre o “pagamento em espécie” porque seria muito prejudicial para o sistema financeiro espanhol, enquanto oferecia milhões em ajudas e garantias aos bancos e caixas. Rajoy e De Guindos mentem descaradamente quando dizem que a crise do sistema financeiro não será paga pelos trabalhadores.

Rubalcaba quer vender como um “resgate” que sirva aos trabalhadores através da volta do crédito. Não obstante, que crédito pode haver para aqueles que estão desempregados, ou para os precarizados. Quando o PSOE foi governo também teve a mesma política de Rajoy: reduções salariais, demissões em massa, cortes sociais... Por isso não podemos acreditar na críticas que Rubalcaba faz ao governo, enquanto apoia o “resgate” recebido (na verdade, um “salva-vidas de chumbo”).

Os trabalhadores não temos benefício algum com os “resgates” nem com os “cortes”. É como escolher entre a forca e a guilhotina. Na Grécia, Portugal e Irlanda se vêem os efeitos dos “resgates” com os planos de austeridade. No Estado Espanhol já sofremos os efeitos dos cortes. Milhões de pessoas desempregadas, emigração da juventude, precarização do trabalho, aumento de impostos, milhares e milhares de despejados... Esta é a realidade do sistema capitalista e sua crise. Nos anos de crescimento, os bancos e as multinacionais se encheram de euros com empréstimos usurários (empréstimos com altíssimos juros) contra a maioria do povo. Eram lucros privados que os trabalhadores e os setores populares não viram nem desfrutaram. Porém, agora que a crise se aprofunda não só não usam esses milhões que lucraram, mas impõem que arquemos com as perdas. Diante dessa situação social de emergência, a reação dos líderes sindicais demonstra uma vez mais não estar ã altura das circunstâncias. Em lugar de convocar outra greve geral para acabar com os ataques de Rajoy, exigem que Rajoy além de realizar o “resgate” tenha também políticas de “reativação econômica”. Sem dúvida, o “resgate” não está dirigido ao desenvolvimento econômico, só servirá para que a dívida dos bancos sejam pagas pelos trabalhadores.

Que a crise seja paga pelos bancos

Não podemos continuar suportando o enorme peso de anos de especulação financeira. Já chegamos a 25% de desemprego (mais de 50% de desemprego na juventude), com uma precariedade que dobra a média da UE, com famílias dejalojadas e que agora vivem abrigadas na casa de seus familiares... A educação em queda livre, os serviços de saúde negados para os imigrantes sem visto ou para os maiores de 26 anos que estejam desempregados. Por isso, é necessário levantar e iniciar a luta por um programa operário de emergência:

1)Contra as demissões e o desemprego, distribuir todas as horas de trabalho entre todos até acabar com o desemprego e sem redução salarial.

2)Contra os cortes sociais, aumento dos impostos ás grandes fortunas para garantir a saúde e a educação.

3)Contra a chantagem da quebra do sistema financeiro, nacionalização sem indenização de todos os bancos (tendo perdas ou não) sob controle dos trabalhadores e dos pequenos poupadores.

Que os trabalhadores demonstrem a responsabilidade dos governos e banqueiros de toda essa bagunça.

Com estas medidas se começa a solucionar os graves problemas sociais dos trabalhadores e dos setores populares ã custa da riqueza que uma ridícula minoria de grandes empresários e banqueiros nos tirou durante anos explorando nosso trabalho e, agora, incrementando uma “expropriação” animalesca de dinheiro público. Sem dúvida, estas medidas não serão realizadas por um governo do PP ou do PSOE. É necessário lutar por um governo dos trabalhadores que acabe com o domínio capitalista que exercem os bancos e as grandes multinacionais. É necessária uma revolução operária e popular para acabar com a exploração capitalista e este regime político reacionário. Uma revolução que seja o primeiro passo para criar a Federação de Estados Unidos Socialistas da Europa.

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