Congresso da LCR Francesa
Salto no abandono da revolução
17/02/2008
A LCR - seção francesa do Secretariado Unificado, organização internacional da qual faz parte a Democracia Socialista (DS) do PT e algumas correntes do PSOL cuja principal figura púbica é Heloísa Helena - deu um novo salto em seu processo de abandono de toda perspectiva revolucionária. Após ter riscado de seu programa a luta pela ditadura do proletariado, abrindo as brechas necessárias para uma adaptação cada vez mais profunda ao regime democrático imperialista francês, agora a LCR em seu último Congresso realizado em janeiro quer apagar sua própria tradição e se desvencilhar de qualquer resquício de herança trotskista que ainda poderia ter.
A principal resolução do Congresso consistiu em substituir a luta pela construção de um partido revolucionário na França, por um denominado “partido anticapitalista” dedicado a reunir em seu interior reformistas e revolucionários em um projeto policlassista, ou seja, sem nenhuma definição clara de classe que muito provavelmente terminará hegemonizado pela pequena-burguesia, como o mostra a experiência de partido amplo brasileiro, o PSOL. A direção, tendo ã frente figuras como Alain Krivine e Olivier Besancenot, principal figura pública desta organização que nas últimas eleições obteve 4,1% votos, comemorou o fato de a resolução que trata da liquidação completa da LCR ter sido aprovada por 83% dos delegados. Assim, a já praticamente extinta LCR aprovou um chamado a todos os setores “antineoliberais” para impulsionar tal projeto, e a abertura de um “processo constituinte” para início do ano que vem.
Como justificativa política imediata para este curso reformista, a LCR utiliza um debate sobre o caráter do governo de Sarkozy baseado em duas posições polarizadas, que servem ã política de construir um partido amplo sem delimitação de classe. Uma é defendida pelo setor mais de direita da LCR que alega que o governo de Sarkozy seria um bonapartismo consolidado, quase fascista, o que justificaria qualquer tipo de aliança e frentes sem princípio. Outra, levantada pela maioria da direção, que trata Sarkozy como uma mera continuidade da política burguesa levada até então na França, que freqüentemente exagera as debilidades do governo se usando de um tom geral mais “otimista”, análise funcional ã política de se lançar como uma “nova alternativa” no seio das lutas que podem se abrir na França.
Decerto que Sarkozy é um governo extremamente reacionário eleito pela burguesia imperialista para retirar os direitos históricos conquistados pela luta da classe trabalhadora francesa, e que portanto mantém traços profundamente bonapartistas. Entretanto, todo bonapartismo só pode se consolidar em base a uma derrota profunda das massas, questão que na França não se deu, e que de acordo com as últimas demonstrações de luta da classe trabalhadora, como as greves dos transportes no final do ano passado, e da juventude, com as greves universitárias e da luta contra o CPE apostamos que seja derrotado.
Mas esta política liquidacionista, não é exclusiva da LCR francesa e nem sequer atende exclusivamente ã situação aberta naquele país. É parte de um giro realizado por setores da esquerda internacional na tentativa de capitalizar, de forma oportunista, o espaço gerado pelo giro ao neoliberalismo do reformismo tradicional - encarnado por partidos como o SPD alemão, o PS francês, o Labour Party britânico, os Partidos Comunistas da Itália e da França e o PT do Brasil - cuja expressão é essencialmente eleitoral. Isso, tem mostado que ao contrário de uma “nova alternativa”, são em verdade uma reedição do velho reformismo que se esconde sob falsos lemas como o de que “toda luta antineoliberal é anti-capitalista”, e que só pode levar a classe trabalhadora e a juventude a um beco sem saída.
Prova disso é a própria DS, que não só segue dentro do PT, tendo mantido o ministro Miguel Rosseto em seu governo, e que recentemente foi conivente com o estupro sistemático de uma garota de 15 anos em uma cadeia do Pará, estado governado por Júlia Carepa ligada ã DS. Ou ainda no próprio PSOL que mostra concretamente que a política de ficar a reboque dos setores não-monopólicos da burguesia nacional, se concretiza apoiando o ataque aos trabalhadores, como bem o demonstra a escandalosa votação do “Super-simples”, ou ainda a reacionária posição de Heloísa Helena de levar ã frente uma campanha por um “Brasil sem aborto”, negando ás mulheres o direito de decidir sobre seus corpos e condenando ã morte milhares delas, dentre as quais a maioria é pobre.
É contra estas variantes políticas que se preparam como novas mediações para a vanguarda operária e popular, que lutamos pelo resgate da estratégia revolucionária, na tentativa de responder aos desafios postos nacional e internacionalmente, como única via para a real emancipação da classe trabalhadora, dos setores oprimidos e da juventude.