Brasil: Ato contra Bush
Só os trabalhadores podem encabeçar a luta contra o imperialismo
08/03/2007
O desenrolar da guerra de Bush contra o Iraque está debilitando o poder norte-americano na América Latina e no mundo. O governo dos EUA é obrigado a recorrer a Lula (que o recebe de braços abertos como bom “companheiro” que é) para ser seu bote salva-vidas na América Latina e fazer frente ao avanço de Chávez. Chávez se aproveita da situação para, enganando o movimento de massas, aparecer como uma alternativa ã esquerda e ao mesmo tempo aumentar os lucros das burguesias locais. Nesta situação,
Só os trabalhadores podem encabeçar a luta contra o imperialismo
Bush vem ao Brasil para avançar em acordos sobre a produção de álcool, além de outras medidas menos comentadas como avançar na abertura do mercado de serviços ao capital norte-americano. No entanto, o centro de sua viagem é tentar conter o avanço da influencia de Chávez na região. Por isso vai visitar o Brasil na tentativa de fazer de Lula um aliado mais explicíto para garantir seus interesses na região. Além disso, irá ao Uruguai, México e Colômbia, além da Guatemala. E Lula, que já era um dos governos mais submissos do continente, está disposto a oferecer este apoio em troca de algumas migalhas - como a redução dos impostos norte-americanos sobre o álcool importado do Brasil ou um compromisso de Bush de defender a reabertura das negociações na OMC - que beneficiem setores importantes da burguesia brasileira. Bush, apesar do seu giro retórico de que “os trabalhadores e camponeses contam com um amigo nos EUA”, e de suas medidas assistencialistas, na verdade está levando a frente a mesma política unilateral que só favorece aos interesses do imperialismo.
O oito de março, assim como o primeiro de maio, deve ser um dia de luta, uma homenagem ás mulheres que deram suas vidas nas greves e manifestações de massas contra a exploração capitalista. Nada mais oportuno para homenageá-las que levar adiante sua luta, transformando este oito de março num dia de protesto contra a política de Bush e do imperialismo norte-americano para a América Latina e o Oriente Médio. Um dia de protesto contra a ocupação do Iraque, promovida por Bush e pelo imperialismo americano e inglês, que tem conseqüências especialmente trágicas para as mulheres da região. Um dia de protesto contra todos os pactos e acordos de submissão ao imperialismo, que condenam os povos do nosso continente ã miséria e a pobreza.
O chavismo e a luta anti-imperialista
Na falta de partidos revolucionários de trabalhadores com influencia de massas, Chávez, com toda sua retórica anti-americana se coloca como o grande inimigo de Bush na América Latina e como o grande defensor da unidade dos países latino americanos. Assim, ao mesmo tempo em que Lula estará reunindo-se com Bush em São Paulo, Chávez, realizará um ato na Venezuela, e depois de outro na Argentina e irá a Bolívia. Aos olhos das massas trabalhadoras e camponesas do continente, inclusive no Brasil, Chávez e sua política aparecem como a principal alternativa aos governos que submetem nossos povos aos “amos do norte”. Nos últimos dias, frente ao anúncio da “ajuda humanitária” oferecida por Bush ã América Latina (hospital-navio, crédito habitacional e capacitação), até mesmo os jornais burgueses têm ironizado que as verbas que os EUA destinam para a América Latina e o Caribe caíram de US$ 1,7 bilhão em 2006 para US$ 1,5 bilhão em 2008; enquanto os programas que Chávez tem empenhado para os países da região somam US$ 6 bilhões.
Apesar de toda sua retórica, que chega até mesmo a reivindicar Trotsky, os seu projeto de “socialismo de século XXI” não vai além de um capitalismo com mais presença do Estado na economia e mais projetos sociais; no qual continuará sendo reservado aos trabalhadores o papel de tudo fazer funcionar mas nada ter, e aos burgueses o papel de parasitas sociais. O “socialismo” de Chávez se limita a uma semi-estatização que paga o preço de mercado destas empresas aos capitalistas que durante décadas viveram da exploração do povo venezuelano, e permite que setores da burguesia nacional e empresas imperialistas continuem ganhando milhões em outros setores da economia, inclusive com o petróleo da Venezuela. Além disso, “o socialismo do século XXI” de Chávez segue pagando a divida externa ás finanças internacionais. Na prática, a política de Chávez e a integração latino-americana que defende, apesar de ser um relativo obstáculo aos planos de Bush, é uma alternativa ao neoliberalismo funcional aos interesses de importantes setores da burguesia regional e que não ameaça os grandes negócios do imperialismo na região.
No Brasil, o programa levantado pelo PSOL nas eleições presidenciais compartilha essa mesma base estratégica: contra o neoliberalismo que favorece a “especulação e os bancos”, defendem uma política que favoreça os setores “produtivos”. Porém escondem que dentro do “setor produtivo” existe uma irreconciliável divisão de classe entre patrões e trabalhadores. A redução dos juros e a “auditoria” da dívida pode favorecer os grandes e pequenos patrões (setores não monopólicos da burguesia), pois estes contariam com empréstimos a um custo menor e com a possibilidade, por exemplo, de receber maiores isenções de impostos do governo. No entanto, são esses patrões os que mais profundamente exploram seus trabalhadores. É a serviço destes setores burgueses que recentemente foi aprovada a lei do “Super-Simples” no Congresso, que contém como uma de suas cláusulas centrais a desobrigação dos patrões das pequenas e médias empresas (que somam cerca de 60% da classe trabalhadora do país) de pagarem os direitos de seus funcionários. Vergonhosamente, o PSOL votou a favor desta lei. Ao lutar contra o neoliberalismo a partir da reivindicação de Chávez e de um programa para o “setor produtivo”, o PSOL abre mão não só dos interesses econômicos dos trabalhadores, mas também da luta anti-imperialista, pois nem Chávez nem o “setor produtivo” brasileiro estão dispostos a lutar contra o imperialismo, mas sim por uma melhor margem de negociação com este, tendo em vista que dependem de seus capitais e de seus investimentos. Não é possível lutar contra o imperialismo sem lutar contra o capitalismo. Medidas capitalistas como comprar empresas e transformá-las em empresas mistas (maioria estatal em parceria com capitalistas) fortalecem este sistema, por isso as semi-nacionalizações de Chávez não foram contestadas por nenhum capitalista nem pelos imperialistas.
A aliança social que pode derrotar o neoliberalismo, e o próprio imperialismo na América Latina, é uma aliança entre aqueles que não têm nenhum interesse comum com os capitalistas estrangeiros e que não exploram os povos de seus próprios países, isto é, uma aliança entre os camponeses, os povos originários e o povo pobre de toda a América Latina, encabeçada pelos trabalhadores. Somente essa aliança social pode travar uma luta conseqüente pelo não pagamento da divida externa, pela verdadeira nacionalização sem indenização e sob controle dos trabalhadores de todas as empresas dominadas pelos capitais imperialistas. Essa luta parte de uma estratégia que tem como objetivo lutar por verdadeiros governos operários e camponeses que, assentados em organismos de democracia direta das massas, signifiquem a destruição do estado burguês e a socialização dos meios de produção.
Essa é a única estratégia que pode levar a uma integração latino-americana que favoreça os trabalhadores, camponeses e povos originários da região. Por que o Mercosul, ou a Alba de Chávez, vai favorecer as Odebrech, os Bradesco, as Techint, as Repsol e Telefônica (isto é, o grande capital local e europeu). A partir da aliança entre trabalhadores e povo pobre da América Latina, opomos ã integração burguesa promovida pelo Mercosul, uma integração operária e socialista da América Latina.