FT-CI

Companheiro Merlino, ¡Presente!

Torturador, tem que pagar! Sua anistia, nós vamos revogar!

29/07/2011

“Torturador, tem que pagar! Sua anistia, nós vamos revogar!”

Na última quarta, dia 27/07, cerca de 200 pessoas se reuniram em frente ao Fórum João Mendes exigindo punição ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra pelo assassinato de Luiz Eduardo Merlino, militante trotskista, preso, torturado e morto no DOI-Codi de São Paulo em 1971. Ustra, conhecido também como “major Tibiriçá”, comandou o DOI-Codi de São Paulo entre 1969 e 1974. Foram centenas de torturas e alguns assassinatos de homens e mulheres que lutavam contra a ditadura militar, todos nesse período a mando do coronel, que acompanhava de perto as sessões de tortura.

Luiz Merlino, que era jornalista e militante do POC (Partido Operário Comunista) foi morto aos 23 anos depois de dias de tortura comandadas diretamente por Ustra, que participava pessoalmente das sessões. Ontem, 40 anos depois do assassinato de Merlino, estava marcada a instrução do processo que a família Merlino impetrou no âmbito cívil – visto que criminalmente os torturadores contam com a conivência da justiça e da interpretação da Lei da Anistia – para condená-lo por seus crimes. Entre as testemunhas em defesa de Merlino estava o ex-ministro da Secretaria Espacial de Direitos Humanos Paulo de Tarso Vannuchi, o historiador Joel Rufino dos Santos e alguns ex-militante do POC, como Otacílio Cecchini, Laurindo Junqueira Filho e Eleonora Menicucci, e outros presos e torturados.

Familiares e testemunhas de defesa de Merlino acreditam que a audiência de ontem foi importante porque pela primeira vez em tantos anos, puderam ser ouvidos e confirmar as ordens de Ustra. Ângela, ex-companheira de Merlino e outros parentes se emocionaram com a presença da juventude, de mulheres e de organizações de direitos humanos que foram prestar solidariedade ã família. Também esteve presente o Sindicato de Trabalhadores da Universidade de São Paulo (SINTUSP).

A LER-QI, ao lado de jovens independentes do Bloco Anel ás Ruas, esteve presente com 50 companheiros que terminaram sendo a principal força militante e ativa do ato, tendo chamado a atenção de velhos militantes que se declaravam comovidos com a presença de uma juventude combativa na luta contra os crimes da ditadura. Bandeiras e cartazes exigiam o fim da impunidade, revogação da Lei da Anistia, apuração e castigo aos criminosos da ditadura, além de render homenagens tanto ao companheiro Merlino como a Olavo Hansen, militante operário trotskista do POR, assassinado na prisão da ditadura em 1970.

Obviamente que o coronel Brilhante Ustra não apareceu na audiência e suas testemunhas tampouco enviaram as cartas precatórias com os depoimentos por escrito. Para defender o torturador foi convidado ninguém menos que José Sarney, um dos principais expoentes da ditadura militar, presidente do senado e hoje aliado da presidenta Dilma Roussef e do PT. Ainda que a mídia tenha divulgado que José Sarney negou o “convite”, não há nenhuma declaração oficial do mesmo. Esta é a demonstração, também, das alianças espúrias feitas pelo governo do PT, desde o governo Lula, para manter a sua estabilidade com a base aliada. Um governo de uma ex-guerrilheira torturada na ditadura militar que mantém a impunidade dos torturadores, mantém o sigilo dos arquivos e dessa forma nega aos trabalhadores, ã juventude e ao povo o direito ã memória, verdade e justiça, tudo isso com a cumplicidade do PCdoB e de outros partidos que tiveram militantes presos, torturados, mortos e desaparecidos. Foi sob esta ótica que se deu a transição pactuada que colocou fim ã ditadura, mas mantendo os seus expoentes livres para seguir lucrando e explorando os trabalhadores, com as grandes empresas que apoiaram a ditadura militar.

Nas palavras de Pablito, diretor do SINTUSP: “a ditadura veio porque a classe trabalhadora e os movimentos sociais estavam se organizando, por isso os poderosos tiveram que afogar em sangue a luta de Merlino e tantos outros", e em seguida defendeu que "Não basta uma Comissão da Verdade que mantenha impune figuras como Ustra ou Sarney", denunciando dessa forma a total complacência de Dilma e do PT que mesmo anos a frente do governo não só não garantiram a punição aos torturadores como seguem convivendo pacificamente com estes na base aliada do governo, em cargos do regime e nos atuais órgãos repressivos do Estado que seguem até hoje levando a cabo um verdadeiro genocídio diário contra a população pobre e negra nas periferias. Pablito também denunciou as grandes empresas – Grupo Ultra, Camargo Corrêa, entre outras – que financiaram os órgãos de repressão, tortura, assasinatos e desaparecimentos da ditadura e continuam sendo privilegiadas com negócios bilionários pelo governo Lula e Dilma. A ausência do PCdoB, do PT (foi apenas um deputado que foi preso e torturado na ditadura) e do PCB reafirmam que cada um destes partidos, a sua maneira, continua fiel ao pacto de transição que traiu a luta pela anistia ampla, geral e irrestrita defendida pelos presos e pela esquerda com manifestações de rua em 1977. Essas correntes são responsáveis diretas pelo silêncio e impunidade que reina sobre os crimes da ditadura e garante que torturadores como Ustra continuem vivendo livres gozando as benesses do regime militar.

Como foi dito por Adriano, estudante de História da Unesp, “é uma vergonha que nos governos do PT e de uma ex-guerrilheira presa e torturada os torturadores convivam no governo e em postos oficiais”. Nem sequer as organizações ditas da “esquerda do PT” (DS, OT, EM) – que tiveram seus presos, torturados e mortos – se fizeram presente com sua militância, o que mostra o grau de adaptação ã estratégia reacionária petista de defender o regime burguês e todos os pactos com os militares.

Registro negativo deve ser feito pela falta dos dois principais partidos da esquerda não governista. Nem o PSTU nem o PSOL deram peso a este importante e fundamental ato. Do PSOL apareceu, de passagem, um dirigente. Do PSTU não se via mais ninguém a não ser o dirigente Didi Travesso. Onde estavam os militantes e dirigentes sindicais e as juventudes destes dois partidos (e os parlamentares do PSOL) que não se colocam na linha de frente deste combate contra a ditadura militar do passado e seus resquícios vigentes nas perseguições, prisões, torturas e mortes causadas pela violência da polícia herdeira do regime militar? Para que a luta pela abertura dos arquivos da ditadura para apuração e punição dos crimes do regime militar, exigindo a revogação da Lei da Anistia que institucionalizou a impunidade aos criminosos do Estado se fortaleça e se constitua num movimento de milhares pela memória, verdade e justiça é fundamental que esses partidos (que dirigem a CSP-Conlutas e a Intersindical) coloquem em ação esses sindicatos, organizações estudantis e populares ao lado dos movimentos de direitos humanos. Só assim podemos por fim ã vergonhosa impunidade dos ditadores e seus serviçais militares e civis.


Consignas cantadas no ato pela juventude da LER-QI:

“Fazer valer, nossa memoria Pelo Merlino e todos que fizeram história”

“Torturador, tem que pagar Sua anistia nós vamos revogar”

“São 30 anos sem ditadura E a impunidade ainda continua”

“E a Dilma, ex-torturada Tem o Sarney na base aliada”

“E o DOI-codi não acabou O povo negro ainda não se libertou”

“Para punir torturador Abertura dos arquivos do regime ditador”


Leia também:

MANIFESTAÇÕES NA PORTA DO FÓRUM MARCAM AUDIÊNCIA CONTRA USTRA - CAROS AMIGOS

Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Periodicos

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)