Estado Espanhol: depois da vitória contra a polícia em Barcelona
Trabalhemos para confluir com os trabalhadores na perspectiva de Greve Geral
03/06/2011
Por Cynthia Lub, Clase Contra Clase Estado Espanhol
A derrota da tentativa de desocupação realizada pela polícia anti-distúrbios em Barcelona na sexta-feira passada, 27 de maio, constitui um importante triunfo para o movimento. Esse dia o operativo posto em marcha por Felip Puig – Conselheiro do Interior de CiU – foi derrotado pela resistência dos milhares que cercaram a praça e das centenas que estavam retidos ilegalmente em seu interior. No final foram eles quem tiveram que fugir em debandada. No dia seguinte milhares de pessoas defenderam a praça organizando cordões de segurança em todas suas entradas para evitar que as investidas policiais contra os aficionados de Barça terminassem em uma nova tentativa de desocupação.
Estas duas pequenas vitórias serviram para fortalecer o acampamento em Barcelona e no conjunto do Estado. Em todas as cidades aconteceram multitudinárias concentrações e manifestações contra a repressão e pela demissão de Puig. O movimento que começou em 15 de maio ganhou moral e novas energias – depois do “balde de água fria” que supunham a vitória da PP para muitos – que se expressam na extensão territorial e na manutenção de assembléias bastante massivas, assim como centenas de ativistas que participam das comissões e ações. Além disso, o apoio social para com os “indignados” cresceu junto ao rechaço ã brutal repressão.
Esta “boa saúde” nos localiza em uma situação em que é imprescindível abrir a discussão de quais passos temos que seguir dando, que estratégia adotamos para conseguir nos estender para além das praças, confluir com todos os setores em luta e conseguir impor nossas reivindicações, chegando ao conjunto dos setores explorados e oprimidos do Estado. Igualmente é valida uma reflexão sobre os métodos de debate e organização que movimento está adotando e de se estes são os melhores para poder se desenvolver politicamente e de maneira efetivamente democrática e baseada em assembleias.
A necessidade de um debate democrático entre os lutadores
Abrir uma discussão de estratégias com a maior clareza possível se enfrenta com o obstáculo que implicam determinadas “metodologias” falsamente “assembleistas” (baseada em assembleias).
Apoiando-se no sentimento de rechaço aos partidos do Regime e ã burocracia sindical, existem setores autonomistas e ácratas que fomentam que este se transforme em um rechaço a toda organização de trabalhadores e grupo político. Assim justificam a negação do direito das diferentes tendências, plataformas e/ou partidos, nos quais muitos lutadores nos organizamos, de que possam expressar suas diferentes estratégias para assim as submeter ã discussão do conjunto dos lutadores, e que estes façam mediante sua sã discussão e sobretudo por sua ação uma experiência e escolha com as mesmas. Isso também afeta a muitos independentes que tão pouco podem se agrupar com aqueles que compartilham uma determinada orientação para tratar de a defender e de lutar por ela. Estas dinâmicas podem conduzir o movimento a uma situação em que as discussões terminem sendo confusas, sem que todos os ativistas possam relacionar claramente a qual estratégia corresponde determinada política, e quais são os fundamentos profundos de cada tendência ou sensibilidade. Trata-se, pois de um método que supõe um lastro para que o conjunto do movimento possa avançar. Mas, além disso se trata de uma negação do direito democrático de que as organizações que apoiam a luta possam se expressar, fomentando a “atomização” das pessoas a modo de “indivíduos”, precisamente o que sempre quiseram impor os regimes reacionários. Mesmo a história de nosso país é uma mostra de como o direito de organização foi conquistado com muita luta, mortos e anos de cárcere em uma ditadura como a de Franco. Um movimento tão progressivo como este não pode deixar de reconhecer e estar atrasado com relação a um direito tão elementar. Igualmente ocorre com a questão do “consenso”. Ainda que seja necessário que as diferenças possam ser discutidas ao máximo com o fim de poder chegar a boas sínteses, estas não são sempre possíveis. Nesse caso o método de consenso em suas diferentes variantes (desde a proibição do voto – como em Zaragoza – até um pequeno grupo que pede “postergar a discussão” pode jogar pra trás a vontade da imensa maioria – como em Barcelona) termina transformando-se em um mecanismo de veto, alheio a qualquer princípio de uma verdadeira democracia. Em outros casos as discussões podem se resolver pelo cansaço ou se impondo a vontade da maioria, o qual é correto, mas sem que a posição minoritária possa estar representada. Isso demonstra que o argumento de que o consenso evita que as minorias sejam oprimidas pelas maiorias é completamente falso, pois só o voto garante que a minoria possa ver claramente refletido o apoio e o peso de suas posições ainda que não sejam aprovadas.
Frente a este “modelo” de assembléias, que muitos vêem como o único, e inclusive fazem cursos e manuais de seu “assembleísmo”, desde Clase contra Clase propomos uma verdadeira democracia dos que lutam, ou seja, assembleias baseadas nos métodos da democracia operária. Somos partidários de que todas as discussões sejam submetidas ã discussão aberta e franca da assembléia, e que em caso de impossibilidade de sínteses as diferenças sejam votadas. Ainda que as decisões da maioria devemos assumir como do conjunto dos lutadores, as minorias devem seguir tendo o direito a poder expressar seu parecer dentro e fora da assembléia, a elaborar suas propostas e a seguir discutindo e tratando de convencer ã maioria da justeza de suas posições. Para que toda a discussão possa se realizar com a maior clareza e franqueza acreditamos que é fundamental respeitar o direito democrático elementar de todas as organizações e plataformas, ou agrupações de ativistas que se formem no processo de luta, a poder se expressar, que se compreenda bem qual estratégia levanta cada uma e que desta maneira, aprovando ou descartando, o movimento faça sua própria experiência com as diferentes tendências que o compõe.
Só com a mais ampla democracia dos lutadores o movimento poderá avançar politicamente e evitar cair em métodos pouco democráticos e organogramas burocráticos, pelos quais muitos ativistas terminam se perdendo e se desmoralizando por confusão ou cansaço. Resolver estes déficits é um nó estratégico se queremos ser um exemplo de democracia direta não só no nome senão nos fatos.
Pela confluência com os trabalhadores na perspectiva da greve geral
Dentre as diferentes estratégias que estão contidas no movimento os companheiros do Clase contra Clase levantamos a de apostar por confluir com a classe trabalhadora seguindo o exemplo do Maio Francês de 68. Para conseguir é necessário que a juventude dos acampamentos nos dirijamos aos trabalhadores e outros setores oprimidos – como os imigrantes -, começando por aqueles que se encontram em luta e tratemos de os somar a esta rebelião da juventude. As experiências pequenas, mas alentadoras de Zaragoza, Barcelona e Terrasa que refletimos neste periódico (ver em http://www.clasecontraclase.org), são bons exemplos do que, para nós, teríamos que generalizar, multiplicar e aprofundar no conjunto dos acampamentos do Estado Espanhol. Trata-se de subverter a ordem das empresas, que os trabalhadores em luta se encham de confiança e os que estão freados pela burocracia sindical possam a superar e impor-lhes o sentido de passar ã ação. O movimento 15M tem a oportunidade de demonstrar uma via alternativa combativa e democrática ã dinâmica de paz social imposta por Toxo e Méndez no movimento operário.
Uma extensão deste tipo permitiria estruturar o movimento nos institutos, universidades, bairros e sobretudo nos lugares de trabalho, levantando comitês de base e assembléias para ampliar e consolidar o movimento, que se coordenem entre si, consolidando uma frente única poderosa de todos os explorados e oprimidos. Dentro desta perspectiva, é fundamental que os trabalhadores intervenham com seus próprios métodos para “apunhalar” (impor uma derrota definitiva) o Governo, o Regime e a burguesia. Nesse sentido, a esquerda sindical e os setores combativos e de base dos sindicatos mais numerosos, que lamentavelmente até agora cumpriram um papel muito escasso, devem também se somar a esta luta, combatendo junto com a extrema esquerda os preconceitos anti-sindicais e anti-política existentes em parte desta vanguarda de juventude que dificultam dar um salto na luta. Sua presença ativa nos acampamentos poderia fazer mudar a atitude para com os sindicatos de muitos jovens que, com razão, se sentem abandonados por estes e pelo contrário, os ganhar como aliados para tirar a burocracia traidora da poltrona que ocupa nos mesmos. Trata-se então de encontrar as vias para superar a política de paz social dos dirigentes sindicais vendidos impondo-lhes um plano de luta, na perspectiva da greve geral política para derrotar os planos de ajuste e aos governos capitalistas que os aplicam.
Nesse sentido, as jornadas de manifestações previstas para as próximas semanas – como a do 15 de junho em Barcelona, em frente ao Parlamento, contra a aprovação dos cortes ou a jornada de mobilizações em todo o mundo de 19 – devemos difundi-las entre os trabalhadores e investir para que todos os conflitos operários existentes possam manifestar-se aproveitando os protestos como ponto de confluência e coordenação para todas as lutas.
Devemos aproveitar a continuidade da vitalidade do movimento, apesar dos distintos “vai-e-vens”, para redobrar os esforços neste sentido. Os jovens da praça temos demonstrado que se pode enfrentar ao Governo, como mostra nossa modesta vitória – a defesa do acampamento – que devemos transformar em uma arma subversiva, que nos sirva para inspirar a estudantes e trabalhadores para empreender o caminho da luta e organização em todos os centros de estudo e trabalho até impor uma greve geral indefinida que ponha em cheque ao Regime e seu sistema capitalista.