ARGENTINA: Há QUE TERMINAR COM A SANTA ALIANÇA ENTRE A BUROCRACIA SINDICAL, O ESTADO E AS PATRONAIS
Um burocrata sócio dos Kirchner no banco dos réus
14/08/2012
Por Ruth Werner, PTS
Em 6 de agosto começou o julgamento pelo assassinato de Mariano Ferreyra, militante trotskista argentino do Partido Obrero. No banco dos réus estão sentados José Pedraza e 16 acusados, entre os membros da gangue a serviço da burocracia sindical e da chefia da polícia federal que foram cúmplices do ataque. Pedraza foi o principal mandante do assassinato do jovem militante. Se tratou sem dúvidas, de um crime contra toda a classe operária.
O modus operandi da burocracia e o desenlace fatal demonstraram a onda de uma realidade vivida por milhões de trabalhadores: a terceirização e o trabalho precário, negócio do qual são parte o Estado, as patronais e a burocracia sindical. Pedraza era dono da Cooperativa Mercosur que operava no Ferrocarril Roca e estava decidido a defender seus negócios a sangue e fogo. Por isso mandou sua gangue. Mariano Ferreyra pagou com sua vida por lutar junto aos terceirizados pela incorporação permanente. Uma consigna que é bandeira para os trabalhadores de todo o país quando grande parte continua contratando trabalho precário.
O governo não é alheio ao crime
No mesmo dia em que se iniciou o julgamento Cristina Kirchner declarou que a investigação avançou por que o “governo aportou como testemunha chave”.
Não é bom se acostumar com a hipocrisia presidencial, e menos ainda se esta faz campanha utilizando o sangue de nossos mortos. Pedraza comparece hoje frente aos tribunais pelo rechaço popular que gerou este crime aberrante. As mobilizações foram impulsionadas pela esquerda atraindo setores como a CTA (uma das grandes centrais sindicais do país) – que na capital chamou uma paralisação. Não vimos ninguém do governo nem da oposição. Se Cristina teve que se separar de Pedraza foi porque este se tornou uma figura indefensável, e odiado por milhões.
Desde 2003 a direção da União Ferroviária é parte da burocracia alimentada pelo kirchnerismo, peça chave da governabilidade após o convulsivo ano de 2001. Em 2009 Cristina foi convidada de honra em um ato da União Ferroviária. Ali disse que Pedraza era parte do “modelo de sindicalismo forte e responsável”.
“A bala feriu o coração de Néstor”, continua agora demagogicamente Cristina, querendo mostrar que a “corporação sindical” tinha por objetivo golpear seu governo. Uma via particular de tentar esconder o que aconteceu: o motivo do crime foi um ataque ã esquerda militante e aos trabalhadores terceirizados. Montando-se sobre o julgamento o governo quer ocultar que estes burocratas eram seus aliados e se sentiam impunes ao amparo do poder do Estado. Mas além disso Cristina utiliza o assassinato de um militante trotskista para disparar contra seus adversários da burocracia moyanista (em alusão a Moyano, dirigente da central sindical CGT, outrora aliado do governo recém convertido em oposição) na interna peronista.
Cristina y sus progresistas quieren presentarse como enemigos de Pedraza pero toda la mafia pedracista sigue manejando el ferrocarril. El gobierno mantiene profundos lazos: la esposa de Pedraza está al frente de la cooperativa del Belgrano Cargas. Pedraza está agradecido: desde la cárcel hizo público su apoyo a la CGT de Cristina, la CGT Balcarce. Cristian Favale, uno de los tiradores de la patota, participó de las “salidas culturales” de Vatayón Militante. Y si hablamos de complicidad no podemos dejar de lado al Ministro de Trabajo. Como mostraron las escuchas que se hicieron públicas, tres meses después del crimen, Carlos Tomada tenía línea directa con Pedraza y le aconsejaba cómo hacer un “laburo sindical” sobre los tercerizados que estaban por pasar a planta permanente, “porque no son todos del PTS”. Tomada hablaba del importante peso de la Agrupación Bordó, que impulsa nuestro partido, en la lucha de los tercerizados del Roca.
Cristina e seus “progressistas” aliados querem se apresentar como inimigos de Pedraza, mas toda a máfia aliada a este segue dirigindo as linhas ferroviárias. O governo mantém profundos laços: a esposa de Pedraza está a frente da cooperativa Belgrano Cargas. Pedraza está agradecido: na prisão tornou público seu apoio ã ala da CGT aliada ã Cristina, a CGT Balcare. E se falamos de cumplicidade não podemos deixar de lado o Ministro do Trabalho. Como mostraram as gravações que se tornaram públicas três meses depois do crime, Carlos Tomada tinha ligação direta com Pedraza e lhe aconselhava como fazer “trabalho sindical” sobre os terceirizados que estavam para ser incorporados, “por que não são todos do PTS”. Tomada falava do importante peso da Agrupação Bordô, impulsionada pelo PTS, organização irmã da LER-QI na Argentina, na luta dos terceirizados.
Temos que expulsar a burocracia sindical
O caso de Pedraza e seus capangas não é isolado, mas um grande exemplo do que é a burocracia sindical peronista. Ambas as CGT`s se utilizam de capangas, tanto a oficialista de Caló como a opositora de Moyano. É o modo corrente com que pretendem amedrontar a esquerda e os lutadores. Lembremos dos grupos de Geraldo Martínez contra os trabalhadores da UOCRA (Sindicato da Construção Civil) em Santa Cruz, ou as de UPCN (Uníon del Personal Civil de la Nacíon), que junto aos capangas de Gillhermo Moreno, perseguiram os trabalhadores que denunciavam a manipulação dos índices na INDEC. Ou os bate-paus da UTA atacando o corpo de delegados do metrô quando formaram seu sindicato. Se a UTA segue tendo a legalidade sindical é graças ao Ministério do Trabalho que os favoreceu quando a única organização legítima é a dos delegados do Metrô.
O assassinato de Mariano Ferreyra desmascara uma burocracia empresarial que recorre aos bate-paus para garantir o avanço da exploração capitalista: a precarização do trabalho do “modelo K”, elemento central da divisão do movimento operário. Mas os acordos espúrios e a corrupção não são somente patrimônio de Pedraza. Moyano está atrás de empresas como Covellia; a UPCN (Uníon del Personal Civil de la Nacíon) de Andrés Rodríguez controla grande parte do emprego público e do contrato das empresas de limpeza na administração pública. Em seu momento as AFJP (Administradora de Fundos de Aposentadorias e Pensões) foram fontes de negócios com que se beneficiou esta casta de parasitas graças ao seu papel de polícia interna do movimento operário. Seus privilégios são o que recebem por serem os defensores da ordem e dos interesses capitalistas.
O assassinato de Mariano Ferreyra coloca aos classistas a tarefa imprescindível de lutar pela expulsão da burocracia sindical de nossas organizações. No dia 9 de agosto, a CGT oficialista e a CTA de Yasky iam se reunir com o governo enquanto Moyano se encontraria com Eduardo Buzzi da Federação Agraria e a CTA de Pablo Micheli. A tensão segue o ritmo das lutas entre o governo, os setores do peronismo descontentes e a oposição. Esta colocada a necessidade de levantar as bandeiras de independência política da classe operária, defendendo a idéia de que é necessário construir um grande partido de trabalhadores sem patrões, sem burocratas e sem políticos arrivistas.
Para unir precários e efetivos, nativos e imigrantes, empregados e desempregados, acabar com a terceirização e a precarização do trabalho é necessário construir uma nova direção classista que revolucione de baixo a cima os sindicatos como organizações para a luta de classes e não como entidades destinadas a garantir negócios particulares de dirigentes vendidos. A consigna que propomos aos lutadores e a esquerda de convocar em comum uma Assembléia Nacional de Trabalhadores Classistas seria um grande passo para forjar uma alternativa que estabeleça uma posição nas fábricas e estabelecimentos para aportar a esta tarefa estratégica.
O assassinato de Mariano Ferreyra desnuda a bancarrota do discurso “nacional e popular” do kirchenerismo. Redobremos a mobilização para que sejam presos todos os culpados. Entre as próximas batalhas políticas está colocado desmascarar o duplo discurso governamental. Impulsionemos a mais ampla unidade de todas as organizações operárias, populares, estudantis e da esquerda para evitar qualquer manobra que tente salvar Pedraza e seus capangas. Temos que impor a prisão perpétua para Pedraza e o castigo a todos os responsáveis políticos, materiais e intelectuais do assassinato, incluídos todos os funcionários políticos envolvidos e para que os policiais federais sejam julgados por serem participantes como coloca o processo. Mariano Ferreyra, presente!