FT-CI

Lutas operárias na Alemanha

“Um incêndio de rápida propagação”

15/04/2008

“Um incêndio de rápida propagação”

A rápida erosão da legitimidade democrático-burguesa, suas instituições e uma classe dirigente metida em escândalos de corrupção e fraude fiscal se dá num marco de um vertiginoso crescimento da desigualdade salarial e de um aumento da inflação que não parece se deter. O governo, pressionado pela burguesia para que aprofunde o curso precarizador aberto pela social-democracia de Schröder e pelo crescente número de greves que ultrapassam o limite das negociações habituais, não é capaz, por hora, de superar sua desorientação, o que por sua parte incentiva as lutas operárias.

Na imprensa burguesa, os passos ministeriais e do parlamento se dão com o pavor de que aqueles anos dourados de “colaboração social” entre os trabalhadores e a burguesia tenham começado a deixar de ser o mais natural do mundo, pois os trabalhadores, cansados de verem como suas conquistas históricas são eliminadas uma a uma, e no marco geral do crescimento econômico, hoje em perigo pela crise financeira, tem começado a lutar para recuperar parte do perdido. As burocracias sindicais, por sua vez, incluindo as supostamente mais combativas como a GdL (ver quadro), ainda têm muita margem de manobra para negociar com a patronal nas costas dos trabalhadores, tanto pela divisão em suas fileiras, como pela baixa subjetividade. Por isto, até agora as lutas operárias não se têm traduzido na aparição de tendências antiburocráticas e combativas no seu seio que, abarcando a amplos setores do proletariado, ponham em questão a luta política contra as medidas precarizadoras de Schröder e da Großkoalition.

No entanto, para as direções sindicais hoje é mais difícil chamar as rotineiras greves de aviso de poucas horas para depois se sentar pra negociar com a patronal enquanto o governo abençoa os acordos e o bendito clima de negociações. Os grandes sindicatos tem perdido desde os anos ’90 mais de 4 milhões de afiliados, cansados pela política de submissão ã patronal e traição dos interesses operários ante a persistência dos ataques da burguesia e, assim, as novas mediações aparentemente mais combativas como o GdL se vêem obrigadas a se mostrar mais radicais para não seguir perdendo legitimidade diante das bases.
Nos encontramos no inicio de uma dinâmica que, se se aprofundar, poderia implicar uma profunda mudança na relação capital-trabalho que, se superar seu caráter reivindicativo, poderia passar a um enfrentamento diretamente político contra as patronais estatais ligadas a coalizão governamental, sobretudo ao SPD e, por sua vez, superar a burocracia sindical.

A mudança paradigmática em curso tomou força com a greve ferroviária que pôs de ponta cabeça na relação entre governo, capital e trabalho. Esta crise política, que se dá no marco da crise mais geral da social-democracia, ameaça, ademais, em arrastar o resto dos partidos centrais da ordem do pós-guerra.

Lutas operárias: um “incêndio de rápida propagação”

A greve ferroviária partiu da exigência de um aumento salarial de 31%, mais uma redução da jornada de trabalho e do reconhecimento do pequeno sindicato GdL, que não é parte da Confederação Sindical Alemã (DGB), como negociador representante dos maquinistas, e terminou com um aumento salarial de 11%, a redução do tempo de trabalho semanal em uma hora e o reconhecimento do sindicato como negociador. Outro efeito colateral da luta dos trabalhadores ferroviários agrupados no GdL é que a DB (empresa alemã de trens) concedeu um aumento salarial para os afiliados do outro sindicato presente, Transnet, sem terem feito nem um minuto de greve, na tentativa de esvaziar e evitar uma eventual radicalização de seus afiliados.

O nervosismo e a virulência dos ataques da burocracia sindical para com os dirigentes do GdL se explica pelo fato de que os trabalhadores na Alemanha começam a exigir que o aumento inclua a liquidação salarial dos últimos anos, dando lugar as palavras de um sindicalista, de que há um “incêndio de rápida propagação que tem devolvido o valor a muitos trabalhadores e empregados em todos os ramos” [1]. Nesse sentido é que os trabalhadores de serviços das lojas de T-Punkt (Deustsche Telekom) receberão um aumento salarial de 3,8% mais um pagamento único de 650 euros depois de terem levado a cabo um sem número de greves de aviso; os metalúrgicos conseguiram um aumento salarial de 5,2% e um pagamento de 200 euros por um ano. O massivo acatamento da greve do IG-Metall e a alta predisposição à luta expressada, bastaram para que a patronal aceitasse as exigências operárias antes de que as greves se fizessem efetivas. E, ainda, a patronal metalúrgica não podia se dar ao luxo, diante das capacidades produtivas utilizadas plenamente e com os livros de pedidos cheios. O resultado das negociações no setor metalúrgico horrorizam a patronal alemã, que, diante das muitas negociações que estão por vir, se estremecem ao pensar que os trabalhadores possam começar a reverter as conquistas capitalistas dos últimos anos. Por isso é que o chefe da União de Federações Patronais, Dieter Hundt coloca que o resultado “não pode ser aplicado de nenhuma maneira a outros ramos econômicos” [2].

A onda de greve que se tem desatado contra as exigências dos patrões comuns e do Estado federal de um aumento da jornada de trabalho sem compensação salarial é enorme e insólita por sua massividade e disposição. No setor de serviços, pararam transitoriamente em duas ondas grevisticas; primeiro 18.000 e depois 22.000 trabalhadores. Junto ao transporte, creches, hospitais, administração e serviço municipal de coleta de lixo, pararam também setores nos aeroportos.
Em Berlim, o chamado ã greve indefinida pelo aumento salarial de 12% por parte de ver di para o setor de transporte público, foi um exemplo sintomático desta “nova realidade” que se vislumbra. O sindicato ver di, sob pressão pelo êxodo massivo de afiliados a GdL, no setor de transporte publico, se viu obrigado a radicalizar seus exigências. A contra-ofensiva por parte da Câmara de Industria e Comércio (IHK) de Berlim junto aos meios de comunicação burgueses não se fez esperar. Sob o slogan “Desarticular o BVG” incentivando a privatização da empresa de transportes, a patronal apontava para evitar o que chamou da” chantagem” de ver di em Berlim.

Enquanto a patronal redobra seus ataques contra os trabalhadores, a burocracia sindical de ver di terminou firmando o convenio coletivo para os 1,3 milhões de empregados da patronal estatal e dos municípios. Ocorre que ver di terminou fechando acordos em prol da “paz social”. Agora são os trabalhadores os que, contrariamente ã exigência inicial, obterão apenas uma “compensação inflacionária” [3] sem compensar o perdido nos últimos dez anos. Além disso, os trabalhadores deverão trabalhar uma hora a mais por semana e nenhum dos demitidos será reincorporado. A patronal respirou aliviada, pois se evitou a paralisação em “setores sensíveis” da economia alemã como são as centrais energéticas ou hospitais.

O governo de Die Linke na prática

Os trabalhadores não somente tem que lutar contra os patrões e suas direções sindicais traidoras, mas também contra aqueles dirigentes que dizem querer governar respeitando os interesses dos despossuidos. Em Berilim, SPD e Linke, ostentando seu cinismo, denigrem a luta dos trabalhadores querendo dividi-los entre velhos privilegiados (90%) e novos precarizados (10%), “compreendendo” as exigências dos novos empregados e criticando as dos velhos por serem “privilegiados”
Assim, a alternativa reformista da “nova” social-democracia - Die Linke - termina onde a história - o SPD - acabava de começar : no aprofundamento da precarização de amplos setores da população e de sustentação ideológica de um Estado que de “social” restam somente seus representantes.

Os trabalhadores dos trens se organizam em três sindicatos:

 Transet agrupa grosso modo os empregados das estações, bilheterias e trabalhadores de vias.

 GDBA representa os empregados estatais, que foram absorvidos antes da privatização dos Trens Federais em 1994

 GDL (Sindicato de Maquinistas Alemães) agrupa os maquinistas, cobradores e camareiros de trens.

Os dois primeiros se agruparam em uma “comunidade tarifária” (convenio salarial), pactuando com a patronal um aumento salarial de 4,5%. É importante destacar que cada sindicato coloca suas exigências, mas somente para seu representados.

Traduzido por: Felipe Lomonaco

  • TAGS
  • NOTAS
    ADICIONALES
  • [1Die GDL im Nacken. Jungewelt, 08.03.2008.

    [2T-Punkt-Beschäftigte erhalten mehr Geld. Jungewelt, 07.03.2008.

    [3Para o ano de 2008 haverá um aumento de 3,1%, e em 2009 2,8% mais de salário. A isto de some um montante fixo a receber de 50 euros, e em 2009 um pagamento único de 225 euros.

Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Jornais

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)