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VENEZUELA - ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

Um triunfo do governo de Chávez com o fortalecimento da oposição patronal

30/10/2012

Por Milton D’Leon, LTS

Enquanto seguem aparecendo artigos de análise sobre as eleições do país e seu resultado, ainda estamos por ver que dinâmica tomará o cenário nacional após o triunfo de Chávez que se reelegeu com 54,5% sobre o candidato da oposição de deireita Henrique Capriles, que chegou aos 45% dos votos, sendo uma diferença nada depreciável os quase 10%. Se é verdade que Chávez conquista um importante triunfo eleitoral, também é inegável um avanço da frente opositora que pela direita que tem enfrentado Chávez, mesmo que já tenha vindo se recuperando das eleições passadas e é de se destacar o fato de que este bloco sempre manteve cerca de 40% do eleitorado. É de se destacar também a alta participação com uma abstenção de quase 19% em um sistema eleitoral onde o voto não é obrigatório, sendo que nos setores mais populares foi onde se observou uma maior participação eleitoral com respeito aos outros setores sociais nas principais cidades do país [1], questão que seguramente balanceou a favor de Chávez se recordamos que foi o abstencionismo entre estes setores que o levou a sua única derrota eleitoral (pela reforma da constituição) em 2007.

Um triunfo para a recomposição de Chávez e uma direita que se recicla

Chávez ganhou em 22 dos 24 estados que compõem o país, e se tomarmos os distritos e estados de maior composição da classe trabalhadora, em grandes concentrações manufatureiras e industriais também se impôs eleitoralmente, e não só nos setores mais populares. Nos bairros mais populares foi notória a preponderância de Chávez com porcentagens acima dos 70% [2]. Sem dúvida que os trabalhadores e setores populares fizeram a diferença em favor de Chávez sem os quais seria impossível ganhar uma eleição, sobretudo quando estes se lançam massivamente ás urnas, e onde tem pesado as “Misiones sociales” do governo, sobretudo a “Mision vivienda” que deu um salto nos últimos anos.

O certo é que o triunfo de Chávez é o triunfo do “nacionalismo” burguês com todas as aspas possíveis, pois se trata de um nacionalismo pífio e bastante degradado, que tem tido impacto não só na reconfiguração de forças nacionalmente, mas que terá ressonância regionalmente na América Latina e capaz de ter repercussões para além do continente como refletem diversas análises de jornais internacionais. Ainda mais tendo em conta o recente golpe institucional pró-imperialista no Paraguai contra o “progressista” Lugo e a resposta do Brasil e Argentina que colocaram a Venezuela no Mercosul, que como grande produtora de petróleo é uma importante peça na região como provedor de energia. Se a isso somamos a crise da ALBA, da qual o governo tem falado muito pouco devido ã instituição da Unasul e ã entrada do país no Mercosul, é de se destacar, o que viemos explicando em muitos artigos que o papel de Chávez na estabilidade regional que começou com uma progressão das boas relações com a Colômbia e que teve como primeiro êxito o reconhecimento de Lobo para a estabilização de Honduras e a subsequente entrega de guerrilheiros, agora se complementa com o papel que vem cumprindo nas negociações do governo de Santos com as FARC colaborando na institucionalidade nos diversos governos da América Latina.

Este giro ã direita de Chávez na política externa e sua transformação em um fator de estabilidade regional, buscando melhorar a relação com Obama (não é casualidade suas constantes afirmações de que votaria em Obama), poderia assinalar uma fuga também “àdireita” no terreno nacional. Isso na linha que já viemos observando com os constantes chamados aos empresários a trabalhar junto ao governo, as declarações de campanha sobre as boas relações com os banqueiros e a imperialista Chevron, etc., ficando para trás o Chávez que se apoiava na mobilização popular para enfrentar os embates da oposição burguesa. Chávez também tem deixado claro que o diálogo não implicará em fazer o que as “reuniões das elites” querem impor, e que seu modelo continua.

Mas levando em consideração o bonapartismo do governo que inclui uma politização importante das forças armadas, onde tudo gira ao redor de Chávez e tudo depende de sua figura, sempre tem sido um fator de crise e de instabilidade no chavismo do qual se aproveita a burguesia e o imperialismo na sua versão obamista, ainda mais no processo de declive que viveria o governo em não poder se configurar claramente um sucessor aceitável pelos distintos blocos e frações de poder dentro do chavismo como entre o povo diante de uma eventual desaparição física e de prostração da figura de Chávez.

Aproximamo-nos de uma reconfiguração de pactos e compromissos de distensão?

No plano interno, ambos os setores se reconhecem como forças diante de uma eleição que foi um das mais tranquilas se comparada com comícios anteriores, e nada saiu do planejado, inclusive permitindo elogios entre os candidatos, coisa impensável há poucos anos.

Mesmo com esta dinâmica neste plano eleitoral, o certo é que neste momento visto desde um ângulo maior - pela forma que se deram as eleições e a grande confiança da população na “força do voto”, incluindo a juventude, sobretudo entre os setores populares e trabalhadores - implica em um fortalecimento da confiança e legitimação da democracia burguesa, constituindo uma grande conquista de Chávez, no sentido burguês, que têm recomposto as instituições do Estado burguês que haviam ficado completamente em crise depois do Caracazo e o período convulsivo que ficou aberto desde então, que combinou ascenso de lutas, crise econômica e fortes crises institucionais. O desprestígio e crise do conjunto destas instituições do Estado no velho regime, desde os partidos dominantes, ao mecanismo do sufrágio universal, ás Forças Armadas, ã Guarda Nacional e demais instituições repressivas, e demais poderes do entramado do Estado burguês como a Justiça e o Parlamento, eram de tal magnitude que se seguisse a deslegitimação do Estado se abriria a possibilidade de uma irrupção dos trabalhadores e explorados que fizesse voar tudo pelos ares. Com uma mescla de “redistribucionismo” e “justiça social”, renegociações parciais com os capitais imperialistas, mais o fortalecimento do papel “social” e “cívico” das Forças Armadas, Chávez têm conseguido esta recomposição que se complementa com o uso do mecanismo do sufrágio universal, e é o que chegamos a definir como “O Legado (burguês) do chavismo” que não é outra coisa que a restauração do domínio burguês (ou do Estado burguês) diante do débâcle que se abriu no Caracazo.

Se é certo que o bloco opositor de direita não o reconhece como “seu governo”, isso não é mais sinônimo de que querem tirar Chávez por meios como foi a tentativa de golpe, em primeiro lugar porque a correlação de forças não permite, mas fundamentalmente porque se sente confiança pelo crescimento que vêm sustentado eleitoralmente nos mecanismos da democracia burguesa e nos novos acordos que estão se conformando, sendo que também sob o governo de Chávez, para além de um pequeno setor afetado, em todos estes anos enxergaram seus lucros multiplicarem sem sombra de dúvidas.

Chávez e a nova experiência que desenvolvem os trabalhadores

Mas estas são as relações de forças dos blocos dominantes e sobre que formas de domínio estão adquirindo o Estado e a sociedade burguesa venezuelana. O que pouco se fala é a relação do governo com o movimento operário desde onde têm sido mais questionado, pois a conflitividade laboral por demandas de contratos coletivos e outras demandas operárias continuam intactas, tão como têm se expressado sobre tudo em Guayana, concentração de grandes conglomerados industriais em mãos do Estado, que continuaram pressionando durante a campanha eleitoral. Apenas como um exemplo, na última semana prévia ás eleições e enquanto se desenvolviam as discussões de contratos, se desencadearam paralisações de oito horas impostas pela base que foram enfrentadas tanto pela direção da empresa como por sua própria burocracia sindical do sindicato da Sidor (Sutiss). Neste sentido não há um cheque em branco, pelo menos dentro do movimento operário. Há uma onda de pressão por baixo que a burocracia sindical e os diretores das empresas tentam conter, porém dependerá de como responde o governo de Chávez, agora sob a responsabilidade de seu novo triunfo eleitoral.

O que é claro é que onde têm mais se complicado o panorama para Chávez é no movimento operário, que em distintos momentos foi enfrentado pelo governo com força e onde se julgou necessário, com fortes repressões ã vanguarda operária. É muito provável que a experiência com Chávez e o avanço dos fenômenos mais independentes possa vir justamente do enfrentamento dos trabalhadores com Chávez, ao aproximar da crise econômica e da luta de classes.


Notas

[1] Tomando como referência o distrito Metropolitano, existe um evidente contraste entre a participação registrada em zonas populares e zonas de classe média e média alta. Enquanto nas zonas populares do país se registra uma participação superior a 80% nas zonas em que poderiam catalogar como classe media a participação média é de 75%. (El Universal, 09/10/2012).

[2] A distribuição de votos pode ser acompanhada na página web do CNE, mesmo que através do voto territorial, se encherga características econômicas e sociais das regiões.

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