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Baixa das taxas de juros nos EUA

A pior crise em 20 anos

20/09/2007 La Verdad Obrera N° 252

A Reserva Federal (FED) dos EUA cortou os juros chegando a 4,75%. Ao saber dessa decisão as bolsas norte-americanas deram uma forte subida, e o dólar bateu uma nova queda frente ao euro. A decisão da FED - mais agressiva do que o esperado pelos analistas - foi provocada pelo crescente temor de uma aterrisagem forçada da economia norte-americana, como mostra o estagnação do mercado imobiliário e a redução de emprego. Também foi o resultado da pressão dos políticos, como Hillary Clinton e John McCain (candidatos ã presidência), ou o senador Chuck Schumer. Nenhum candidato presidencial quer que a economia norte-americana entre em recessão antes ou depois das eleições presidenciais em novembro de 2008. Porém, este cenário parece cada vez mais próximo.

A baixa das taxas dificilmente evitará a recessão

Uma baixa no custo do dinheiro não gera nenhum efeito sobre a economia real quando temos uma crise de superprodução. E é isso que está ocorrendo na economia norte-americana: uma fenomenal superprodução de moradias invendáveis, um excesso no setor automotriz e uma superprodução de bens de consumo duráveis. Esta foi a realidade em 2001 quando a baixa da taxa de juros não evitou uma curta, mas dolorosa, recessão fruto da superprodução no setor da informática e de telecomunicações.

Hoje, esta situação se combina a uma crise do setor de crédito - uma crise de liquidez - causada por um sem número de insolvências e dificuldades de pagamento dos consumidores super-endividados, alguns deles instituições financeiras e do setor corporativo. A limpeza disso tomará tempo e implicará num endurecimento das condições de crédito e financeiras, independente do que a FED faça. Isto repercutirá na economia real.

“A pior crise em 20 anos”

Henry Paulson, secretário do Tesouro norte-americano colocou que “a crise de confiança nos mercados de crédito provavelmente durará mais que os prévios choques financeiros das décadas das décadas passadas” (The Financial Times; 11/09/07), isto é as atuais turbulências financeiras substituíram mais que a instabilidade que seguiu a crise asiática ou o default russo nos anos 90, ou a crise da dívida latino-americana nos anos 80. Uma crise maior! A primeira ocorrida contra um banco britânico desde 1866, quando ocorreu o pânico que se apoderou dos depositantes de Northern Rock e a transformação dos depósitos bancários em dívida pública, ou em outras palavras a nacionalização dos depósitos, assim o demonstram (para ver a gravidade do que está acontecendo tomemos em conta que ambos os acontecimentos se dão quando a economia ainda está crescendo).

Na realidade, o que estamos observando é a primeira fase da mesma, a crise das hipotecas de alto risco ou subprime, e seu contágio inicial ao sistema bancário. A segunda etapa que já se anuncia é o ajuste dos desequilíbrios globais, como conseqüência da recessão dos EUA e da desvalorização do dólar. Isso pode afetar a Ásia, fortemente dependente do mercado norte-americano e inclusive a Europa, que apesar de melhor preparada, está carregando o peso do ajuste não só pelos canais financeiros, como pelo aumento do euro, que alcançou níveis mais altos em relação ao dólar, o que pode afetar suas exportações e crescimento. Isto aumentou as tensões na União Européia, como mostram os enfrentamentos verbais entre as autoridades do Banco Central Europeu (BCE) apoiadas pela Alemanha, e Nicolas Sarkozy, o presidente francês, que criticou a política do BCE de injetar liquidez no mercado e não baixar as taxas de juros, que só serve aos especuladores. Em outras palavras, a segunda fase da crise implicaria a transmissão da queda nos EUA para o resto do mundo, afetando também os preços das matérias-primas que nos últimos anos permitiram um boom sem precedentes em vários países semicoloniais. Países como a Rússia, Venezuela ou Argentina poderiam ser duramente afetados.

Finalmente, na terceira fase presenciaremos um aumento das bancarrotas corporativas. Moody, a agência de qualificação de risco, previu que uma recessão nos EUA pode dar lugar a um crescimento das bancarrotas das corporações de 1.4% das companhias qualificadas no ano passado ao redor de 12% - um nível visto pela última vez em princípio dos anos 90, e depois do estouro da bolha de Internet. As graves repercussões que isso poderia ter sobre o já debilitado sistema financeiro está por ver-se.

Um momento perigoso

A decisão da FED ainda que bem recebida pelos mercados, ao mesmo tempo tem um alto custo: atiça o fogo da inflação e debilita o dólar. Um dos maiores perigos é que uma política monetária mais branda golpeie a integridade do dólar. O déficit de conta corrente dos EUA é financiado pelos investidores estrangeiros que compram bônus do tesouro e outros ativos. Estes jogadores poderiam vendê-los se temerem que a inflação destrua o valor de suas propriedades. A baixa da taxa de juros torna uma corrida contra o dólar de algo improvável numa possibilidade.
Neste sentido, as margens da FED e dos EUA de empurrar a crise adiante como fizeram antes se estreitaram. Os EUA estão entrando em um período de baixo crescimento da produtividade se comparado com a segunda metade dos anos 90, na medida que as oportunidades de inovação como foi em seu momento a Internet, (e as exageradas expectativas que gerou) estão se saturando.

Mais importante, os efeitos inflacionários que se sentiu nos preços das mercadorias e no preço da força de trabalho a nível mundial, a entrada de milhões de trabalhadores das ex-economias burocraticamente planificadas, como a China e o antigo bloco soviético, está desaparecendo. Tudo isso significa que as margens de manobra da FED e das autoridades norte-americanas de evitar (ou suavizar) a recessão sem minar a fortaleza do dólar como moeda de reserva mundial se estreitaram significativamente. Isto anuncia que os próximos picos de crise podem dar lugar a surpresas desagradáveis e inesperadas para os principais chefes do capitalismo mundial.

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