Brasil
Chega dos parasitas dessa “democracia dos ricos”
23/07/2014
Por Fernando Pardal
Vem se aproximando mais uma vez aquele momento no qual, a cada dois anos, nos dizem que decidimos o futuro do nosso país. À velha e gasta propaganda do “direito e dever de cidadão” que supostamente exercemos ao ir ás urnas, se soma um nem-tão-novo discurso que diz que “o verdadeiro protesto é nas urnas”. Essas “lições” vêm do mesmo lugar, e essa última, em particular, se dirige ã juventude que foi ás ruas ás centenas de milhares no ano passado e conseguiu barrar os aumentos das passagens; dirige-se também ás dezenas de milhares de trabalhadores que fizeram greves, muitas vezes atropelando seus próprios sindicatos, e conseguiram em muitos casos conquistar aumentos significativos – em especial os garis do Rio.
A ideia que esse discurso quer enfiar em cada cabeça é que pode ser até justo e eficiente protestar na rua, mas que a verdadeira mudança, a que tem consistência e profundidade, está no “voto consciente”. E essa preocupação de reafirmar tantas vezes essa ideia surge porque todos vimos que, junto com a exigência de melhores serviços públicos, direitos e salários, acompanhava constantemente o tom geral de reprovação desses governos que estão aí. Os índices de aprovação dos governantes de plantão, fossem do PT, PSDB, PMDB ou outros, despencaram a níveis historicamente baixos. E por isso se gasta hoje tanta propaganda para tentar convencer cada um que o melhor é “votar certo”.
Mas quando paramos para ver e pensar no “voto certo”, a certeza de junho e das greves desse ano volta a se manifestar: com um ou com outro, amargamos as mesmas dificuldades. E, não só isso, mas continuam os mesmos acordos, a mesma corrupção, os mesmos privilégios para quem está “por cima” enquanto nós, os que “votamos consciente”, amargamos com uma vida cheia de dificuldades, sempre as mesmas e cada vez maiores. E vemos todos os políticos, seja qual for o partido, “dançando conforme a música”, cedendo aqui e ali para as mesmas velhas oligarquias, justificando cada passo igual ao de seus antecessores em nome da tal “governabilidade”. E o que é a “governabilidade” senão continuar cedendo aos interesses das mesmas empresas, dos mesmos bancos, dos mesmos setores conservadores, para fazer um governo que, em suma, não faz nada de novo, nem nada para quem precisa?
Não podemos mais continuar acreditando que tudo o que nos cabe é votar “no menos pior” e empurrar os problemas com a barriga, vendo cada dia estourar um escândalo de corrupção novo e nos acomodarmos em pensar que “política é isso mesmo”. Não! Em junho mostramos que a política que queremos é aquela que fazemos quando dizemos aos de cima “basta”! Basta de sapatear em nossos direitos em nome de seus privilégios. A política que necessitamos e que somos capazes de fazer é aquela que fizeram os garis do Rio quando disseram “basta”! Basta de direções pelegas nos sindicatos ligadas aos empresários nos dizerem que não podemos fazer greve. Basta de prefeitos como Eduardo Paes, do Rio, que vive uma vida de luxo, mas foi ã televisão dizer que os garis em greve são “marginais” e não podem lutar por um salário digno. E mostramos que somos, sim, nós, trabalhadores e juventude, capazes de fazer a nossa política por cima da vontade deles.
Nessa eleição precisamos saber que essa vontade e capacidade de lutar por democracia precisa ser expressa também para determinarmos como funcionam os governos. Para que os que elegemos, e que hoje cinicamente se denominam “representantes do povo”, o sejam de fato, eles devem viver a vida do povo, e não como parasitas privilegiados ás custas de nosso trabalho. Por isso, todo político eleito, todo assessor parlamentar e qualquer cargo de confiança, todo juiz, desembargador, magistrado deve deixar de ganha salários de dezenas de milhares de reais e passar a ganhar o mesmo que um professor da rede pública de ensino. Assim vão deixar de fazer demagogia com “a importância da educação”, pois verão na pele como vive um educador nesse país. Que passem a usar o transporte, educação e saúde públicas, como os trabalhadores, para sentirem na pele o drama que vive quem depende dos serviços públicos. Que os juízes que julgam as greves de garis, motoristas de ônibus e outras categorias abusivas sejam eleitos por voto popular.
Para que nossa representação seja muito mais democrática, efetiva e barata, temos que acabar com cargos do poder executivo, como presidente e governador. Esses cargos não servem para nada se não para negociar em melhores condições com determinados empresários e banqueiros, para fazer conchavos ao gosto desse e daquele partido. Que os poderes executivo e legislativo se unifiquem, e componham uma câmara única, acabando com o Senado. Na câmara dos deputados os representantes são eleitos de acordo com o número de votantes, mas cada estado tem um número mínimo e um máximo de deputados pré-estabelecidos, independente do número total de votantes, provocando uma distorção da votação em que nem todos tem o mesmo peso, pois se dilui o peso de cada voto nos locais mais populosos e, portanto, com maior concentração de trabalhadores, como São Paulo, em relação a estados menos populosos, como Acre. No Senado, essa distorção é ainda maior, pois são eleitos três senadores por estado, independente de seu tamanho ou sua população. Essa distorção é o que mais favorece que continuem no poder por décadas oligarquias regionais como os Sarneys do Maranhão e Amapá, os Collors em Alagoas, os Magalhães na Bahia, entre outros. Que o dinheiro que banca esses parasitas no Senado seja usado para os serviços públicos!
Além disso, não é justo que tenhamos que esperar quatro anos para tirar do poder alguém que vem agindo de forma contrária aos interesses da população. É necessário que os cargos eletivos sejam revogáveis, para que aqueles que vencem a eleição saibam que não podem fazer “o que quiser”.
Essas medidas, as mais básicas para que tenhamos um governo democrático, nunca serão votadas pelos próprios privilegiados que hoje fazem as leis e se beneficiam da corrupção e de suas mordomias. Para impor essas mudanças, temos que ver o exemplo das mobilizações recentes, e saber que só podem ser conquistadas pela nossa própria força. Por um governo dos próprios trabalhadores para os trabalhadores e o povo pobre!