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Argentina

“Damos um passo à luta política”: o sindicalismo combativo com Del Caño

27/07/2015

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O pré-candidato a presidente da Chapa 1A da Frente de Izquierda se reuniu – junto a Christian Castillo – com mais de 250 delegados e lutadores operários da zona norte da Grande Buenos Aires. Lear, MadyGraf, Kraft, Fate, Stani, Siderca, SUTEBA, Pepsico, Kromberg, WorldColor, todos reivindicaram seu salto “das lutas sindicais ã política”.

O horário não era casual: deviam esperar a saída de muitas fábricas. O lugar menos: estavam a poucos metros da Autopista panamericana, esse fio que percorre a zona industrial mais importante do país. Tampouco as cores: casacos azuis de trabalho, de logos famosos e coloridos, se mesclavam com aventais. E como não iriam se misturar, se primeiro se fizeram “companheiros” nos conflitos sindicais da zona e depois “pegaram o salto à luta política” - como chamam eles – na mesma chapa da Frente de Izquierda?

Nesta quinta-feira, dia 23, Nicolás del Caño esteve presente na região de Pacheco, município de Tigre. Ali se juntaram mais de 250 delegados e trabalhadores da Primeira Seção da Grande Buenos Aires, para contar a seus companheiros e ã imprensa da região por que são candidatos e porque impulsionam a Chapa 1A da Frente de Izquierda.

Gabriela Macauda, Secretaria Adjunta do SUTEBA Tigre, não podia ter pintado melhor o cenário melhor em que se colocavam.

“Dou boas vindas a Tigre. Ao tigre do delta norte e aos countries, mas também ás Tunas e aos bairros inundados. Ao Tigre dos monopólios como For e Volkswagen, mas também dos Indomables e dos trabalhadores da 60. Ao tigre que viu surgir o sindicalismo combativo dos últimos anos, e hoje estão dando um passo ã Frente e estão construindo uma esquerda política da classe operária. Desejo boas vindas ao Tigre de Massa e Scioli, que viu centenas de docentes subirem a Panamericana em defesa de seu salário e da educação pública. As mulheres que juntas mostramos, com as companheiras de Kromberg, Kraft, Pepsico e com as comissões de MadyGraf, Lear e agora a 60, que não estamos dispostas a renegar nossos direitos”.

O aplauso foi sincero e extendido. E foi continuado porque uma delegação de trabalhadores da Linha 60 havia se aproximado para contar seu conflito e receber a solidariedade dos presentes. Vários deles haviam visto os motoristas cortarem a Panamericana nessa mesma manhã, em defesa de seus postos de trabalho.

Martin Yerbe contou que “nosso conflito leva já 28 dias. Sabemos que estão sempre conosco, se os agradecemos”, e convidou a seguir apoiando o conflito e o fundo de greve.

Uma mesa de luxo

Na mesa estavam Nicolás del Caño, Christian Castillo, Javier Hermosilla e Rubén Matu, acompanhados por reconhecidos lutadores e – a maioria – flamejantes candidatos.

Jorge “loco” Medina, trabalhador da MadyGraf, foi o encarregado de apresentá-los. “Catalina Balaguer delegada da Pepsico, Damián González da Lear, Julieta González da SUTEBA Escobar, Débora Espinoza da Kromberg, Victor Ottoboni da Fate, Roberto Amador da Gestamp, Guillermo Betancourt da Siderca, Javier Aparicio da VW, Ramiro Martínez e Roberto Leguizamón da Printpack, Gabriel Vargas da Stani, Sandro Salazar, Juan Sepulveda, Rene Cordova, Carlos Lescano e Anahi Almada da MadyGraf, Nancy Mendez, Alicia Ciciro, Elizabeth Campodónico e Facundo Pilarche, professores, Damian Gauna e Juan Centurión da Kraft, Damian Alshuk da General Mills, Gabriela Macauda da SUTEBA Tigre, Maximiliano Zuaznabar da WorldColor, Ezequiel Pérez de Procter. Todos nós formamos parte do que se chamou sindicalismo de base, enfretando a burocracia e as patronais. Hoje estamos dando um passo a mais. Já demonstramos que não precisamos dos patrões para produzir; tampouco precisamos dos representantes dos patões para que façam política por nós. Por isso impulsionamos uma esquerda dos trabalhadores”.

Este espírito atravessou muitas das intervenções dos candidatos operários.

Ruben Matu, o delegado de Lear que quer ser deputado, tomou a palavra. “Nos chamaram indomáveis porque não puderam nos quebrar. Queremos levar essas mesmas lutas que damos nas fábricas ao terreno eleitoral, político. Aí estão os Daer e Pignanelli apoiando aos Scioli, como outos a Massa e Macri. Nós que vivemos nos bairros populares não temos esgotos, não temos asfalto, não temos moradia. Por isso nos colocamos de pé, queremos indomáveis também na Legislatura, e expressas a voz dos trabalhadores, das mulheres e da juventude”.

Maxi Zuaznabar da WorldColor contou da luta que deram contra o fechamento e agora em defesa dos postos de trabalho. “Hoje a fábrica está produzindo sob controle operário. Queremos a expropriação e estatização, e amanhã realizaremos um corte para impulsionar nossas demandas. Sou candidato porque não apenas queremos ser a voz de nossos companheiros, mas dos 20.000 trabalhadores do Parque Industrial, a maioria precarizados”.

Javier Hermosilla, referente histórico de Kraft, reconheceu que “me entusiasma muito ser candidato, mas sobretudo que muitos companheiros da fábricas também o sejam, ou militem na campanha. Estamos indo onde os políticos patronais não chegam, aos bairros pobres de Tigre, San Martín e Malvinas Argentinas. Somos nós que vamos enfrentar os candidatos do ajuste, e os dirigentes burocráticos que os apoiam. Somos delegados e decidimos dar um passo ã política, com a Chapa 1 da Frente de Izquierda e um programa anticapitalista e socialista”.

Também tomou a palavra Julieta González, profressora e militantes da Convergencia Socialista, que compõe a Lista 1. Ressaltou que Ramón Cortes, um dos condenados ã prisão perpétua pela luta petroleira de Las Heras era um candidato da FIT nessa lista. “Estamos aqui porque queremos que a Frente de Izquierda não apenas seja uma ferramente para as eleições, mas como ocorreu nesses dias em Cresta Roja, a transformemos em uma ferramenta para a luta”.

“O discurso de Scioli se choca com a realidade da Província”

Christian Castillo, candidato a governador, começou pedindo um aplauso “para um companheiro de grande tradição, lutador contra as privatizações, José Montes”. Também pediu para Edgardo Moyano, advogado de muitos dos delegados combativos da região e aos militantes da Convergência Socialista, que são parte da Lista 1A.

Depois colocou que “o discurso de campanha de Scioli se choca com a realidade de uma província onde 1,5 milhões de pessoas tem que viver em condições precárias, a precariedade trabalhista está em todos os lados mas sobretudo afeta a juventude, onde a educação e a saúde pública estão aos frangalhos”.

Castillo então deu números mais concretos ao que chamou “uma chapa de luxo”: “são 1500 candidatos, 40% deles operários industriais, 60% mulheres, mais de 200 professores nas chapas, lutadores pelos direitos humanos como Myriam Bregman, Alejandrina Barry e María Victoria Moyano. Trabalhadores que vão enfrentar uma casta política, que recebem fortunas para governar ã serviço dos empresários. Isso é um grande orgulho para nós”.

Além dos candidatos, estavam presentes muitos trabalhadores que sem ser parte das chapas militam nos comitês de campanha.

Ao encerrar sua intervenção, Castillo se referiu a um dos temas “candentes” desses dias. A proposta de um debate público entre os principais candidatos de ambas as chapas da Frente de Izquierda. “Insistimos até o último momento em uma chapa unificada, com os melhores companheiros. Acreditamos que cometeram um erro; Nico vinha de obter 17% dos votos e ganhar o kirchnerismo em Mendoza. Nossas ideias são o futuro, o devir, por isso queremos debater publicamente, frente a milhões de pessoas, qual é a melhor alternativa para renovar e fortalecer a Frente de Izquierda”.

Ideias pelas quais vale a pena lutar

Nicolás del Caño tomou a palavra para fechar a atividade. Contou que está percorrendo o país, e “estar aqui com tantos lutadores que integram nossa chapa, é o mesmo que vemos em cada lugar que visitamos”.

Então colocou sua visão de alguns dos temas políticos mais destacados dos últimos dias. “ Cristina Kirchner e a CGT ofocial festejaram o aumento do salário mínimo para 6 mil pesos, quando o custo familiar está calculado em 14 mil pesos. Nesta semana também esteve em discussão o dólar. Já escutamos dizer que iriam aplicar uma desvalorização, e terminaram fanzendo isso, afetando o bolso dos trabalhadores. O que estamos vendo é uma antecipação, em parcelas, do que vem depois: o aprofundamento do ajuste. Scioli, Macri e Massa não podem dizer qual é seu verdadeiro plano”.

Del Caño retomou a questão das internas na Frente de Izquierda, e a proposta de debate ã chapa encabeçada por Jorge Altamira. “A vigência das ideias anticapitalistas e socialistas, pelas quais lutaram muitos companheiros de tradição, como ao meu lado tenho José Montes e Christian Castillo, hoje se expressam nessa geração de lutadores como os que estão aqui, como também Raúl Godoy, operário de Zanon em Neuquén ou Alejandro Vilca, coletor de lixo em Jujuy. Acreditamos que os companheiros da Chapa 2 não estejam se propondo a que a esquerda dê um novo salto, que é do que precisam os trabalhadores. Por isso estamos propondo um debate, em televisão, para o milhão e meio de trabalhadores. Queremos debater como vamos colocar de pé e fortalecer a única ferramente política que tem a classe trabalhadora para enfrentar o ajusta, e para preparar a luta por um governo dos trabalhadores, nossos objetivos de fundo”.

A intervenção de Nicolás era seguida com muita atenção. Todos os que estavam presentes valorizam a Frente de Izquierda como uma ferramente política dos trabalhadores, das mulheres e da juventude. Mas também querem ser parte da discussão sobre qual caminho deve-se seguir para construir uma esquerda operária com força militante.

A mesa já estava chegando ao seu fim. A mesa foi invadida. Todos queriam estar na foto. A imagem final refletiria muitas das palavras que foram ditas esta tarde. Outras seguiam ressoando, como as que disse Del Caño ao finalizar: “é um orgulho para todos que depois de jornadas estenuantantes, tantos companheiros dediquem seu tempo a convencer outros trabalhadores e familiar que pelas ideias da Frente de Izquierda vale a pena lutar”.

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