Primeira paralisação conjunta em 30 anos
Grande greve dos transportes na Itália
02/12/2007
Durante todo o dia 30/11, sexta-feira, o conjunto da península italiana viveu uma jornada intensamente caótica. A greve convocada pelas principais organizações sindicais do transporte, Filt-Cgil, Fit-Cisl, Uilt e Ugl, foi imponente. A grande maioria dos trabalhadores do setor, que pela primeira vez em 25 anos param de forma conjunta, acataram massivamente o chamado ã greve. O setor do transporte urbano paralisou quase completamente, com 905 de grevistas em Turim e em Bolonha ou 80% em Roma. O transporte aéreo esteve completamente desorganizado durante a jornada, com vôos cancelados nos principais aeroportos do país. Quase nenhum trem circulou na sexta-feira, com uma adesão de 90% no setor ferroviário, enquanto que no transporte marítimo entre Cerdenha, Sicila e o continente esteve quase completamente bloqueado durante oito horas. Se pode tirar algumas conclusões da paralisação de sexta-feira. Com paralisações deste tipo, até os analistas políticos mais pós-modernos podem chegar a constatar não somente que a classe operária, a que faz a economia funcionar, existe, mas que em alguns setores dos serviços, chega a ser decisiva para o funcionamento do conjunto da economia. Isso ficou bem claro nas últimas semanas tanto nas greves dos maquinistas alemães como o movimento dos trabalhadores da SNCF (empresa estatal de ferrovias) e da RATP (metrô, coletivos) na França. Não é casualidade se na Itália a burguesia e seus políticos de centro-direita e centro-esquerda se esmeraram nos último anos para fazer de tudo para recortar e limitar a possibilidade de parar naqueles setores vitais para seus lucros. Pela legislação anti-greve vigente na Itália, a greve de sexta-feira somente poderia ser de 8 horas, entre as 8hs e as 17hs, assegurando um serviço normal pela manhã e pela tarde, sem que se possa estender a paralisação para além desse limite de horário nem tampouco chamar outra paralisação nas semanas seguintes depois de uma greve. Não é casualidade que as paralisações selvagens dos transportes urbanos do inverno de 2003/2004 impulsionados pelos sindicatos de base tenham tido uma repercussão política ainda maior que a paralisação institucional da sexta-feira, 30/11.
Obviamente o plano reivindicativo com o qual o Filt-Cgil, Fit-Cisl, Uilt e Ugl (sindicatos de trabalhadores do transporte de cada central operária) convocaram a greve era mais que insuficiente. Se tratava de uma chapa não hierraquizada de consígnas que não apontam para o essencial, isto é salário, emprego e ampliação dos serviços públicos para a tendência ã redução das pautas; a precarização dos trabalhadores e a privatização de setores inteiros dos transportes. Desta maneira, o prestígio muito limitado do qual goza a burocracia sindical tanto com uma paute de reivindicações tão confuso, não podem explicar os altíssimo níveis de adesão ã greve. A profundidade da paralisação se demonstra mais que nada em uma revolta latente muito forte existente em setores muito concentrados do proletariado na Itália. Se trata do mesmo fastio social que tiveram que levar em consideração os burocratas sindicais no último período, chamando a paralisações isoladas e setoriais para a renovação dos contratos de trabalho (setor público, metalúrgico, comércio, etc.) que registraram níveis importantes de adesão enquanto por outro lado apoiavam as piores medidas do atual governo como a reforma social e a lei ’presupuestaria".
Vimos no último período na França como a burocracia se esmerou em fazer de tudo para separar a luta dos trabalhadores do transporte do movimento estudantil e da paralisação do setor público. Também na Itália as direções sindicais fazem de tudo para que na atual fase das lutas pela renovação do convênio nacional de trabalho se lute separadamente e por categorias. As organizações sindicais combativas deveriam colocar todas suas forças ã serviço de que as lutas atuais se vinculem ã agenda política italiana de mobilizações, como no caso da grande manifestação prevista para o dia 15 de dezembro em Vivencia contra a ampliação da base militar estado-unidense, e se coordenem entre elas. Esta é a única maneira de que a burocracia não leve greves imponentes como a de sexta-feira dia 31/11, já limitadas pela força legal anti-greve, ao beco sem saída da concertação com o governo e a patronal.
Traduzido por: Clarissa Lemos