FT-CI

Ato da juventude do PTS - Argentina

Mais de 1200 jovens em um grande ato junto aos estudantes chilenos em luta

20/06/2012

Por PTS, Argentina

Nesta sexta-feira, dia 15, realizou-se no Auditório da Faculdade de Ciências Sociais (UBA) um grande ato com mais de 1200 jovens, organizado pela Juventude do PTS junto a estudantes chilenos em luta.

Chegaram desde Santiago do Chile Bárbara Brito, conselheira estudantil da Faculdade de Filosofia e Humanidades da Universidade do Chile, e Fabián Puelma, ativista estudantil da mesma universidade. Eles são parte ativa do movimento estudantil chileno que vem protagonizando desde o ano passado massivas mobilizações de centenas em defesa da educação pública, que comoveu a herança pinochetista neste país e que no último domingo participou de um escracho ã homenagem que se fez ao ex-ditador Augusto Pinochet, como foi refletido por numerosos meios de comunicação. Este sábado estarão presentes também em Córdoba para realizar um ato junto ás delegações da Juventude do PTS de Córdoba e Rosario que participam do Congresso da Federação Universitária Argentina, e finalmente, na terça-feira, participarão de um Foro na Universidade Nacional de Rosario.

Junto a eles, tomaram a palavra no ato de Buenos Aires Christian Castillo, dirigente do PTS e da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores; Humberto, militante da comunidade boliviana em Buenos Aires; Patricio del Corro, dirigente da Juventude do PTS processado pela luta de Kraft-Terrabusi e dirigente dos processos de luta estudantil de 2010 e as estudantes secundaristas Selma Saeg, Secretária Geral do Centro Acadêmico de Normal 10 e Carla Bustamante, da Lista Vermelha que ganhou o Centro Acadêmico do Nacional de San Miguel.

Projetaram-se também videos com saudações de dirigentes da juventude do Estado Espanhol, Alemanha e Brasil, e leram-se adesões de todas as organizações da Europa e da América Latina que integram a Fração Trotskista-Quarta Internacional, assim como uma saudação de um numeroso grupo de jovens mexicanos presentes no ato que são parte do movimento “Yo soy 132-Argentina”.

A primeira a tomar a palavra foi a companheira Bárbara brito, recebida por uma enorme ovação do auditório ao grito de “Irmão, chileno, não baixe as bandeiras, estamos aqui dispostos a cruzar a Cordilheira”. Seu discurso comoveu o público relatando a história do nascimento da geração que nasceu sem medo, a juventude que se pôs de pé lutando pelo fim do lucro na educação, que continuou levantando as bandeiras da educação gratuita e surgiu como uma enorme força de luta que abala toda a herança pinochetista do regime chileno, com mobilizações de centenas de milhares nas ruas, enfrentamento ã repressão, comissões de auto-defesa, barricadas, ocupações de colégios e faculdades, que comoveram também a classe operária, que deu também seu apoio aos estudantes com paralisações e acompanhamento nas ruas. Ruas nas quais foi assassinado o companheiro Manuel Gutiérrez, que se converteu em um símbolo da juventude em luta. Juventude que retomou as bandeiras da “rebelião do pingüins” de 2006, para seguir esse caminho. Em que pese o desvio parlamentar da luta, com o acordo da direção do Partido Comunista com Camila Vallejo ã frente, este ano a geração sem medo continua nas ruas, e no último domingo escracharam a homenagem a Augusto Pinochet, combatendo a ultra-direita também responsável pelo assassinato de Daniel Zamudio. Bárbara, como dirigente estudantil e também militante do PTR (organização irmã da LER-QI no Chile), fechou falando em nome da geração que não dará nem um passo atrás, colocando a luta por uma segunda reforma universitária e a unidade dos trabalhadores para atirar abaixo toda a herança pinochetista.

As companheiras secundaristas Selma Saeg e Carla Bustamante fizeram, na sequência, uma saudação ao ato e aos companheiros chilenos em luta como um exemplo inspirador aos secundaristas daqui que estiveram lutando com ocupações e contra o fechamento de cursos, contra Macri e os kirchneristas, assim como apoiando os docentes em luta, como os de Santa Cruz que sofreram a repressão, como parte das lutas por construir um movimento estudantil junto aos trabalhadores.

Por sua parte, Patricio del Corro começou sua intervenção assinalando o orgulho que representa para a Juventude do PTS compartilhar este junto aos estudantes chilenos em luta, que são parte de uma juventude que se começa a levantar em todo o mundo, como vemos no Egito, na Grécia, no Estado Espanhol, México ou Canadá, entre outros exemplos. Porque contra todo discurso de Cristina, a crise capitalista nos mostra o futuro que nos espera na Argentina, e não o passado. E assim como o kirchnerismo se prepara com sintonia fina, com o Projeto X, com a Lei Anti-terrorista, com tetos salariais, desde a Juventude do PTS nos preparamos para ser essa juventude que começa a protagonizar grandes momentos de luta, para que a crise a paguem os capitalistas. Na universidade argentina há mais de um milhão e meio de estudantes, e é uma enorme instituição de grande peso político, ideológico e cultural. Com as camarilhas kirchneristas e radicais, está posta a serviço dos capitalistas por meio de centenas de convênios com empresas do agro-business como Nidera, com patronais cúmplices da ditadura como Techint, ou convênios com a Polícia Bonaerense responsável pelas desaparições de Julio López e Luciano Arruga, como o vemos na Universidade de La Matanza, para dar apenas alguns exemplos. Por isto desde a Juventude do PTS lutamos por varrer as camarilhas kirchneristas e “radicais” da universidade e por todo o conhecimento e a produção a serviço da saúde, da educação, do trabalho, em função das necessidades dos trabalhadores e do povo pobre. Também defendeu a luta pelas ideias do marxismo, contra as ideologias oficiais impingidas desde a academia, que estão a serviço da justificação da ordem social existente, e se referiu à longa tradição da Juventude do PTS lutando por construir frações do movimento estudantil ás lutas operárias, como vimos em Zanon, Brukman, Jabón Federal ou Kraft-Terrabusi, entre dezenas de exemplos.

Neste ponto temos um debate com outras organizações de esquerda como o PO, La Mella, o FPDS ou o PCR, que há dez anos dirigem centros acadêmicos e diretórios centrais esvaziados e burocratizados que não serviram para dar um passo adiante em todas estas lutas, e por isso hoje estão atravessando uma crise, como vemos na Federação da Universidade de Buenos Aires (FUBA) e na FUR. Del Corro fez menção também à luta que darão no dia de hoje as regionais de Córdoba e de Rosario da Juventude do PTS contra o Congresso radical da FUA. Desde a Juventude do PTS, pelo contrário, lutamos por centros acadêmicos e diretórios democráticos, militantes e independentes dos capitalistas que lutem pela unidade com os trabalhadores e prefigurem desde já esta aliança social do Cordobazo e do Maio Francês que necessitaremos para vencer.

Humberto, da comunidade boliviana e militante do PTS, foi recebido pela palavra de ordem “a classe operária é uma e sem fronteiras!”. Apresentou-se como trabalhador, imigrante, orgulhoso dessa juventude que começa a se levantar. Como um dos milhões do setor mais explorado da classe operária, que deixam a vida trabalhando doze ou catorze horas na indústria têxtil, amontoados, dormindo junto ás máquinas, discriminados por sua fisionomia, sem poder desfrutar de momentos de tranquilidade para compartilhar com suas famílias. Tudo isso por salários miseráveis de $1.600, no máximo $2.500, precários, sem direitos sociais, sem sindicalização e sofrendo a repressão como no Parque Indoamericano, quando saíram a lutar, tendo que sofrer inclusive o repúdio de Evo Morales quando disse que“dava vergonha” que os bolivianos tomaram terras, enquanto a terra na Bolívia segue nas mãos dos grandes latifundiários. Falou de seu orgulho de ser militante revolucionário para combater toda a exploração e opressão aos trabalhadores e o povo pobre e a potencia que se mostra nesse ato se conseguimos unir o movimento estudantil junto aos trabalhadores, juntando o que os capitalistas tentam dividir com fronteiras, com precarização, com racismo, contando como ele se sente irmão dos explorados e oprimidos e não dos patrões bolivianos que são parte da classe exploradora. O companheiro finalizou chamando a construirmos uma grande Conferencia Nacional de Trabalhadores dia 8 de junho em Ferro, para discutir as tarefas e como enfrentar os capitalistas, que hoje mais que nunca querem descarregar a crise sobre nossas costas.

Fabian Puelma deu sequencia no uso da palavra, mostrando como a luta dos estudantes chilenos significa um golpe para um regime político que se orgulhava de ser o mais estável e sólido da América Latina, questionando a herança pinochetista intacta instaurada a sangue a fogo e aprofundada por vinte anos de governos de Concertação. Anos de impunidade patronal, de desarticulação dos sindicatos, de salários de miséria, de inexistência do direito ã greve, destruição dos recursos naturais por um punhado de empresas imperialistas, de privatização da saúde e educação, de meios de comunicação dominados por um punhado de corporações. A juventude chilena mostrou que o movimento estudantil pode se transformar em um grande ator de luta e colocar em cheque esse regime, o governo, derrubar ministros, deixando o regime em crise e fazendo emergir um descontentamento subterrâneo dos trabalhadores e do povo acumulado durante anos. Contudo, a juventude chilena ainda não conquistou suas demandas. Hoje os empresários se inquietam e querem voltar ã “normalidade”. Para conquistar as demandas, é necessária a mais firme unidade entre trabalhadores e estudantes, com força nas ruas, derrotando a repressão. Um grande obstáculo que tem a luta chilena é a burocracia estudantil e sindical, inimiga durante o processo do qual surgiram verdadeiros organismos democráticos para a luta, com os dirigentes mais combativos eleitos desde a base ã cabeça. A CONFECH, com Camila Vallejo a conciliadora do Partido Comunista, tenta fazer um desvio parlamentar, levando a luta a um beco sem saída. Os companheiros do PTR lutam para ser uma alternativa a essa política, construindo uma grande corrente militante trotskista com fortes trabalhos em faculdades, escolas e fábricas, lutando por uma militância que se forje na caldeira da luta contra a adaptação e o rotineirismo, para acabar com a burocracia. Uma organização que emerja confluindo com os milhares de jovens combativos que surgem para a vida política, que dão a vida a essa nova geração sem medo que se levanta em todo o mundo.

O encerramento do ato esteve a cargo de Cristian Castilho. Começou assinalando que estamos vivendo o quinto ano de uma crise capitalista internacional na qual a intervenção de uma nova geração juvenil é um fato inevitável. Desde que na terceira onda revolucionária do século XX, iniciada simbolicamente como Maio Francês de 1968, se fizeram presente toda uma nova geração juvenil que se radicalizou e marcou toda a década dos ’70, não víamos na juventude um fenômeno dessas dimensões. Ainda que em nosso país, todavia, não tenhamos visto uma intervenção direta da juventude em processos políticos ou de lutas dessa magnitude, Castilho assinalou que a juventude presente no ato é parte dessa geração que está emergindo ao calor do enfrentamento com os capitalistas e seus governos que querem fazer com que os trabalhadores e o povo de todo o mundo paguem pela crise. Por isso se referiu ã importância desse ato internacionalista com companheiros protagonistas dessa grande luta que vem dando a juventude chilena. Além disso, também disse que a Juventude do PTS não é qualquer setor dessa nova geração, é o que tem o desafio de estar ã altura da tradição e do programa do trotskismo, que se forjou enfrentando a burocratização do primeiro Estado operário da história e que conservou as conquistas teóricas e programáticas do marxismo revolucionário, atacadas pelo stalinismo, enquanto o desenvolvia ao calor de fenômenos como o nazismo, a Frente Popular ou a Guerra Civil Espanhola. Desde sua fundação, rompendo com o MAS, encabeçada por Emilio Albamonte, o PTS se orientou a recuperar teórica, programática e praticamente uma perspectiva trotskista consequente, no marco da resistência a décadas de ofensiva capitalista. Na universidade, editando revistas marxistas e impulsionando em todo o país a Cátedra Livre Karl Marx e lutando para desenvolver a auto-organização estudantil durante as lutas de 1995 contra a Lei de educação Superior e em 1999 com a Interfaculdades contra a condução dos “radicais” da FUBA. Também na grande greve da UNAM no México, na qual Castilho se surpreendeu junto a centenas de ativistas da luta. Há dez anos, na Sociais da UBA, protagonizando “eleição direta” que questionava as camarilhas e o regime universitário. Ou no apoio ás lutas operárias, como havia mencionado Del Corro, e entrando nas fábricas, desenvolvendo o classismo, que vai se reunir no dia 8 de junho em Ferro, para dizer que queremos sindicatos sem burocratas e um grande partido da classe operária sem patrões.

Castilho continuou assinalando que hoje estamos vivendo uma nova etapa de crise capitalista internacional, a radicalização da juventude ainda é menor que nos ’70, mas ã juventude presente nesse ato corresponde a tarefa de aproveitar a situação para que essa nova geração que começa a se levantar o faça sob bandeiras do marxismo revolucionário, do trotskismo e não caia na impotência do autonomismo ou nas meias tintas da esquerda populista, da qual não é casual que vários dos seus quadros tenham terminado como funcionários do kirchnerismo. Isso porque não se trata de resistir, mas sim de conseguir os primeiros trunfos revolucionários do século XXI. Depende de nós forjar um grande partido e uma grande juventude militante sob o programa do trotskismo nas universidades, escolas e fábricas. A passividade não impede que ampliemos nossas filas. A universidade, por exemplo, é um grande campo de luta no qual a classe dominante busca conter e apaziguar o descontentamento juvenil, desenvolvendo políticas de cooptação. Mas agora na Argentina a crise começa a atingir.

Fechou dizendo que nosso desafio é transmitir ã juventude presente o entusiasmo de assumir com toda a energia e audácia uma tarefa que é para toda a vida, a de nos dedicarmos a organizar revolucionariamente a classe a operária e a juventude para terminar com esse sistema capitalista e começar a construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados.

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