Logo da brutal repressão da PM no campus
Movimento de estudantes, professores e funcionários se levanta contra repressão na USP
25/06/2009
A reitoria da USP comandada por Suely Vilela, o governo Serra e o secretário de segurança pública de São Paulo, Ronaldo Marzagão, mostraram no dia 9 de junho, sua real faceta ao reprimir brutalmente a mobilização pacífica dos estudantes, trabalhadores e professores da USP, UNESP e Unicamp, que realizavam uma marcha nas imediações da universidade. Os três setores das universidades estaduais paulistas marcaram esta mobilização, que reuniu cerca de 2000 pessoas, para defender uma questão democrática elementar: a retirada das tropas policiais que há dias ocupa a universidade, impedindo a convivência no campus, violando a autonomia universitária, e como uma tentativa de impedir os trabalhadores de exercer seu direito elementar de greve garantido pela constituição.
A greve de trabalhadores da USP se iniciou no dia 05 de maio e tem sido uma luta exemplar dos trabalhadores por suas reivindicações, que vão desde aumento salarial até a reintegração de Claudionor Brandão, dirigente do SINTUSP e da LER-QI, demitido por perseguição política pela reitora. Desde seu início, a greve de trabalhadores foi reprimida pela presença das tropas policiais no campus, que foi amplamente rechaçada por professores e estudantes. O que está por trás da militarização da universidade é a política de tentar liquidar a liberdade de organização e ação sindical e política dentro da USP; de impor perdas salariais de mais de 42% nos últimos anos; de colocar em risco o emprego de mais de 5 mil funcionários por não cumprir as normas legais de contratação; de avançar na terceirização e na “naturalização” das condições de trabalho semi-escravos a que os terceirizados estão submetidos. E é contra isso que os trabalhadores se levantaram sindicato. Agora os outros dois setores da comunidade universitária aderiram ã greve a partir da demanda de retirada da polícia.
Mas, como se não bastasse a violência que significa a ocupação do campus pela polícia, agora reprimiu-se duramente a mobilização. Como parte da repressão a polícia prendeu Claudionor Brandão, que segundo testemunhas só queria negociar que outro companheiro não fosse preso, além de mais um funcionário e um estudante. A repressão ã marcha do dia 09 de junho se assemelhou a uma batalha campal, em que policiais fortemente armados lançaram bombas e atiraram com balas de borracha contra a manifestação pacífica, invadindo o prédio da FFLCH na USP, protagonizando uma verdadeira caça aos manifestantes não vista sequer nos tempos da ditadura militar, deixando um saldo de vários feridos, além das prisões.
Um professor da ECA (Escola de Humanidades e Artes) descreve o ocorrido: “A multidão de cerca de 400 ou 500 pessoas ficou acuada neste edifício cercada pela polícia e 4 helicópteros. O clima era de pânico. Durante cerca de uma hora, pelo menos, se ouviu a explosão de bombas e o cheiro de gás invadia o prédio da História (...) Estou cercado de colegas que estão chocados com a omissão da reitora. Na minha opinião, se a comunidade acadêmica não se mobilizar diante desses fatos gravíssimos, que atentam contra o diálogo, o bom senso e a liberdade de pensamento e ação, não sei mais”. Ou como disse outro professor: “A foto na capa de hoje do jornal Folha de São Paulo é expressiva: o estudante, com sua arma, um livro, é ameaçado pela insana repressão da PM. Por caso, lembra a professora dos "anos de chumbo" em plena ditadura militar? Vendo as fotos dos jornais e as imagens da TV, outros se vão se lembrar da irracionalidade nos tempos do nazi-fascismo. Como ex-estudante da USP, não apenas lastimo; protesto contra a brutalidade da ação da PM que - caso o bom senso e a sensatez tivessem guarida nessa Reitoria - poderia ter sido inteiramente evitado”. Além dos próprios professores da USP, senadores petistas de São Paulo, como Eduardo Suplicy e Aloisio Mercadante também condenaram a ação da polícia e a atitude da reitora.
Este sentimento se generalizou e desatou um potente movimento democrático pela retirada da polícia, e pela queda da reitora Suely Vilela. Em resposta ã brutal repressão os estudantes realizaram uma massiva assembléia que contou com a presença de mais de 2 mil pessoas, na qual se reforçaram as reivindicações de fora a polícia do campus, pela queda de Suely Vilela e por eleições diretas para reitor, percorrer os cursos para ampliar o apoio ã greve, apoio aos piquetes de trabalhadores, e a reivindicação de que o Congresso Nacional de Estudantes, chamado pela Conlute, - cuja organização majoritária é o PSTU que também dirige o Diretório dos Estudantes da USP – se realize na USP, e não no Rio de Janeiro como originalmente previsto .
Mas um dos elementos de maior salto qualitativo na mobilização é, como mostram as citações acima, o repúdio dos professores ã repressão e ã Suely Vilela. Esta adesão ao movimento dos professores, que a mídia burguesa tenta a todo custo esconder pelo imenso peso social que os professores da USP tem no Brasil, fortalece imensamente a mobilização. A perspectiva de unidade entre trabalhadores, estudantes e professores traz a potencialidade de elevar a presente luta um questionamento mais profundo não só da universidade, que é extremamente racista e elitista, mas que no seu desenvolver pode questionar os planos de sucateamento da educação pública por parte do governo tucano de Serra, se transformando em um importante exemplo de luta.
Já contamos com uma série de apoios fundamentais de diversas organizações sindicais e políticas de países como México, Bolívia e da Argentina, como a moção de apoio enviada pelos trabalhadores de Zanon. Agora é preciso redobrar este apoio. Chamamos a todas as organizações políticas e sindicais, de juventude, de direitos humanos a se somarem a estes apoios.