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DEPOIS DAS MARCHAS MASSIVAS EM PARIS E TODA A FRANÇA

Um forte balào de oxigênio para Hollande

13/01/2015

Um forte balào de oxigênio para Hollande

A ação praticamente sem falhas de François Hollande, como percebido por todos os analistas e políticos na crise mais dramática enfrentada desde o início de seu mandato de cinco anos, reforça a figura presidencial no ponto mais fraco de sua liderança até esta crise: seu presidencialismo e autoridade.

A ação praticamente sem falhas de François Hollande, como percebido por todos os analistas e políticos na crise mais dramática enfrentada desde o início de seu mandato de cinco anos, reforça a figura presidencial no ponto mais fraco de sua liderança até esta crise: seu presidencialismo e autoridade.

Por sua vez, Hollande com a marcha de ontem está em vias de reconstruir os laços com "o povo de gauche" ("o povo de esquerda") setores essencialmente mesquinhas e profissionais liberais, funcionários públicos e uma parte dos trabalhadores, em especial professores e trabalhadores de serviços, tais como os da indústria cultural, que compartilham um número de símbolos herdeiros de valores do velho reformismo de esquerda e do republicanismo francês misturados, como a laicidade e a liberdade de expressão.

Finalmente, a presença de 40 chefes de Estado, depois de anos em que as posições internacionais da França diminuíram, faz com que muitos sintam que a França está novamente no centro do mundo.

Todas estas questões foram bem exploradas por Hollande. No primeiro nível, a sua reatividade a partir da primeira hora do ataque deslocando a redação do semanário, o acompanhamento diário da perseguição aos terroristas e seus dois discursos presidenciais, seguidos por mais de 20 milhões de franceses.

Tudo isso sem a menor discordância no seio do gabinete que se disciplinou como um só homem por trás de seu redescoberto Chefe. Confrontado com uma grave crise, apagou as imagens de dúvida em suas ações que o caracterizavam e de inúmeras divergências dentro do governo.

Em segundo plano, a sua consideração pessoal por todos os mortos expressas nas condolências mostradas na marcha para as famílias dos mortos, especialmente o abraço for com um dos sobreviventes da redação de Charlie Hebdo, mostrado ao vivo e uma e outra vez por todos os meios de comunicação, ele mudou sua imagem de frieza que o caracterizava até então.

Em particular após o dano mortal que significou nesse plano central de sua química, as afirmações de sua ex-companheira e primeira-dama, Valerie Trierweiler e sua versão do desprezo do presidente em relação aos pobres; a quem ele chamou de "desdentados" (por como é caro ter uma boa higiene dental na França, questão que uma parcela significativa da população não tem acesso).

E em terceiro lugar, a forte presença dentro de horas e dias de todos os principais líderes europeus e outros dignitários vindo a marchar com ele e com o povo francês. Além da atenção de todos os meios de comunicação internacionais, questão que Hollande enfatizou com sua frase rapidamente reconhecida por todos os meios de comunicação, "Hoje Paris é a capital do mundo".

Este refortalecimento da figura presidencial muda drasticamente o panorama político da França. Pois é precisamente junto ã crise de bipartidarismo francês – o partido socialista (OS) e a direita conservadora (UMP) que vem se alternando por décadas - que se expressou fortemente nas últimas eleições europeias com a transformação da extrema direita em Frente Nacional (FN) no primeiro partido em intenção de votos; a extrema debilidade presidencial – expressa no nível baixíssimo de popularidade inédito para um presidente da V República – era o elo mais débil de sustentabilidade não apenas de seu mandato, mas do regime frente a uma potencial crise que pudesse ser aproveitada progressivamente pelo movimento de massas.

Frente a essa perspectiva perigosa para a burguesia francesa, o resultado da crise atual não apenas distancia essa possibilidade, mas também permite ao presidente um impulso adiante.

O caráter amplamente reacionário dos atentados, que colocavam em questão a liberdade de expressão de um lado e o antissemitismo do outro, adendado ã boa gestão da crise e instrumentalização do medo e os diferentes sentimentos que geraram, jogou amplamente a seu favor.

No nível político, uma série de incógnitas se evidenciam e enfraquecem.

A possibilidade quase certeira de uma primária da esquerda e de que Hollande não se candidatasse em 2017 ás próximas eleições presidenciais como candidato do OS fica descartada.

A possibilidade de que seu primeiro ministro, o ambicioso e ultra conservador Manuel Valls, se retire quase que certamente no próximo período. Mais importante para agora, a oposição dentro da maioria governamental aos seus planos provenientes do mesmo OS (os chamados “frondeurs” [em francês. “lançadores” em português. NT]) se enfraquece enormemente.

Isto deixa o campo livre por hora para um avanço bem mais facilitado que o imaginado para o Plano Macron, nome do ministro de Economia; um plano que busca liberalizar a economia e fundamentalmente liquidar uma série de direitos das organizações sindicais, o que acaba por facilitar os processos de demissões (nota em Espanhol). O papel do comparsa da unidade nacional reacionária para todas as organizações sindicais os deixa mal preparados para alcançar inclusive certas melhoras menores, que é o máximo que esperavam esses traidores em aliança com os frondeurs do PS.

Um fortalecimento do Regime e do Estado

Mas o fortalecimento de Hollande se extende também ao conjunto do regime da V República. Se até agora o centro burguês do OS e da UMP se enfraqueciam em relação ã extrema direita “republicanizada”, a marcha história de ontem foi um freio ao seu ascenso.

Ainda que não possamos descartar que a FN possa capitalizar a nível eleitoral nas eleições departamentais de março, o avanço em respeitabilidade como alternativa de governo que esse partido busca deliberadamente nos últimos anos com sua “desdiabolização” – e alcançando em certa medida, com a entrada no parlamento, a direção de várias municipalidades e pela primeira vez ao Senado -, se interrompe ontem ao ter sido parte da Grande marcha de Unidade nacional na capital francesa.

Uma mostra já pode ser vista no mesmo tratamento midiático até agora extremamente favorável a FN: na segunda de manhã no Europa 1, um conhecido jornalista perguntou a candidata a presidente deste partido: “Marine Le Pen, você não tem vergonha”. E sobretudo pelo próprio caráter da marcha que fortalece os valores republicanos burgueses, e não as tendência a fascistização.

Frente a uma visão simplista de certa extrema esquerda, é preciso enxergar que ainda que aumentem as tendências racistas e islamofóbicas depois do atentado, com mais de cinquenta atos hostis a muçulmanos – segundo denunciou o Conselho Francês de culto muçulmano -, o central é o refortalecimento do regime republicano burguês.

Isto não significa uma boa notícia para os trabalhadores. Na história da França, as principais crises e levantamentos de luta de classes desde a onda de greves de 1936 até mais recentemente na greve mais massiva do Ocidente, o famoso Maio de 68, foram pacificados por mecanismos republicanos, em especial o chamado ás urnas. Sem dúvidas, graças a colaboração das organizações contrarrevolucionárias do movimento operário, como o Partido Comunista Francês nos dois casos.

Por outro lado, e junto disso, de forma mais estratégica, houve outro grande fortalecido ontem: os CRS [Compagnies Républicaines de Sécurité N.T.] e todos os corpos policiais e de guarda civil. Esses pilares centrais do Estado burguês foram os heróis dos últimos dias como haviam sido os bombeiros de Nova York frente ao atentado ás Torres Gêmeas. Como verão, estamos falando em um prestígio popular a um corpo de repressão à luta de classes, não apenas a luta operária ou da juventude, mas também do controle e hostilização de todos os imigrantes, em especial os sans papiers [sem papéis, em português. N.T.].

O mais ridículo é que o “povo de gauche” que compartilhava de forma cada vez mais simbólica os valores de 68 (como mostra a crise de antirracismo frente ao problema muçulmano) aplaudiam ontem nas ruas os CRS, os robocops repressores odiados em todas as marchas e que em Maio eram considerados nazis (CRS=SS foi um dos grandes slogans desse movimento) [SS: Schutzstaffel, “Tropa de Proteção” em português, foi uma organização paramilitar ligada ao partido nazista e a Hitler. N.T.].

Portanto, estamos presenciando um refortalecimento da V República mas como não poderia ser de outra maneira, muito mais ã direita, roubando da direita grande parte de seu programa e da extrema direita ao menos no terreno da segurança, ainda que resistindo por hora ás medidas mais extremas desse campo.

Valls se opõe a uma patric Act, como pedem vários setores da UMP, ou inclusive a direita rechaça a pena de morte aventada por Le Pen. Expressão imediata desta bonapartização republicana é a multiplicação da presença não apenas policial mas também do Exército nas ruas: desde hoje um contingente do mesmo tamanho que os que se enviam a uma invasão externa como no Mali custodia as ruas da França! Além de toda a série de direitos democráticos que estão colocados em questão com a onda de medidas liberticidas que se anuncia.

Um giro reacionário importante mais ainda não consolidado

Não sabemos quanto deste fortalecimento se traduzirá em avanços qualitativos na correlação de forças entre as classes e que ímpeto e durabilidade terá. Já vis=mos como o neobonapartimo bushista se afundou no Iraque no começo de 2004 por atuas para além de suas forças reais ao querer recolonizar um país.

A França, com infinitamente menos recursos que os EUA, por sua vez está sobre estendida em suas operações internacionais. Inclusive, a diferença dos EUA em plano interno, tem uma riquíssima tradição de lutas operárias, democráticas e contra todo tipo de opressão inclusive no passado recente que é difícil apagar de cena em um só movimento. Este imenso reservatório é o que se deve mobilizar para impedir este giro reacionário da V República!

Tais elementos somados ás dificuldade estruturais que [o governo] tem pela frente vão contra uma consolidação duradoura do republicanismo, e é por isso que caracterizamos este movimento como senil.

Os problemas estruturais da crise econômica e o grave problema da imigração, como expressão mais geral do caráter de mundialização capitalista e a existência de Estados nacionais, está gerando enormes contradições e problemas de coesão social no interior dos Estado não apenas na França mas em toda a Europa.

Também está gerando o atiçamento de tendências nacionalistas ou soberanistas entre esses países. Tendência a delegas menos questões em Bruxelas, a medida que se fecham as conquistas mais evidentes do projeto europeísta como o Espaço Schengen, que permite a livre circulação de pessoas pelo interior do Espaço.

É por tudo isso que o mais provável para essa renovação restauradora do hollandismo e do regime francês seja de menor alento que o triunfo esmagador de Chirac após o cataclisma do ascenço de Jean Marie Le Pen ao segundo turno das eleições presidências de 2002.

Ou, depois do impasse do chiraquismo após o retrocesso parcial da grande luta do CPE [Contrat Première Embauche, Contrato de Primeiro Emprego, em português. N.T.] (um contrato de emprego precário que rebelou o movimento estudantil, seguido por grandes manifestações de massas do movimento operário) e seu aproveitamento para dar uma saída bonapartista por Sarkozy, incrivelmente ministro do interior e de economia desse mesmo governo.

As tendência de fundo são a polarização, ainda que a União Européia e seus dirigentes tenham dado um banho de massas nas ruas de Paris e que um Hollande fortalecido junto a chanceler alemã Angela Merkel, tente talvez com certas medidas desencalhar o europeísmo.

Sentimento que nunca teve muita tradição popular na maioria dos países imperialistas pelo caráter reacionário e limitado do projeto europeísta, implícito em seu próprio caráter ao ser dirigido pela burguesia das principais potências imperialistas da Europa. E muito mais em períodos de crise! Rapidamente os “novos ares” europeístas parisienses serão provados frente ás dificuldade intermináveis da crise grega.

Lutar contra o giro reacionário e liberticida!

Nós, trabalhadores e jovens, sabemos que no imediato nossas lutas serão mais duras frente a um Regime e Estado fortalecidos, sob um clima de unidade nacional que pode extender-se por um certo tempo.

Impedir que esse giro reacionário do Regime avance e se decomponham os laços de solidariedade entre os trabalhadores pelo racismo de estado ou pela extensa islamofobia ou o antissemitismo de alguns imbecis, é a tarefa mais imediata para as organizações do movimento operário, em especial as forças de extrema esquerda. É essencial opor a unidade nacional ã unidade de todos os trabalhadores e explorados.

Isto passa em primeiro lugar por lutar contra todo tipo de racismo, a regularização de todos os sem papéis e a liberdade de circulação na União Européia, ligados à luta contra toda a ofensiva antioperária e ã política de austeridade, ao passo que se pede o fim de todas as intervenções imperialistas no exterior como a que se prepara contra a Líbia e a retirada de todas as tropas francesas de onde estão.

Frente ao aumento do racismo e o fundamentalismo, seja católico como os dirigentes da Manif pour Tous, islà¢mico como os que fizeram os atentados e o sequestro de reféns esses dias ou judaico como as provocadoras forças sionistas francesas, nosso grito de guerra deve ser: nacional ou estrangeira, ateia ou crente: só uma classe operária!

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