FT-CI

Colombia

Grande luta estudantil coloca em xeque reforma universitária na Colômbia

17/11/2011

Por Isabel Infanta

Depois de vários meses de luta contra uma reacionária reforma universitária neoliberal impulsionada pelo governo de Santos e seus aliados, a luta do movimento estudantil colombiano se encontra em momentos decisivos.


A tentativa de reforma educativa promovida pelo governo busca abrir as portas a uma maior privatização e outros ataques ã universidade. Como tem demonstrado a experiência chilena, a reforma da lei 30/1992 é uma via para aprofundar a elitização e os abundantes negócios para a burguesia em detrimento da qualidade na educação e o endividamento das famílias pobres.

Esta reforma vem se tecendo desde o governo anterior, e foi apresentada por Santos em março deste ano, gerando um grande rechaço, sobretudo no que se refere ã abertura da educação ao mercado incorporando entidades com fins lucrativos, além das questões que se referem ã autonomia universitária, financiamento, qualidade, etc.

A resistência dos estudantes e trabalhadores

Este ataque do governo tem detonado o retorno em grande escala, depois de anos, do movimento estudantil colombiano nas ruas, em um processo que possui semelhanças com o grande exemplo dos estudantes chilenos, tomado como referência pelos jovens colombianos, e que pode ser um sintoma junto a outras lutas estudantis na América Latina do despertar de uma nova geração. Como no Chile, na Colômbia se trata de um regime muito reacionário e estreitamente ligado ao imperialismo e os planos neoliberais, cujas tentativas de aprofundamento no âmbito universitário chocam com as aspirações estudantis.

No dia 7 de abril confluíram em Bogotá dezenas de milhares de pessoas, entre estudantes, professores, trabalhadores da saúde e outros setores de trabalhadores convocados também pela CUT, em uma grande demonstração de rechaço ao projeto, exigindo ao governo a retirada da lei. Nas universidades públicas de Bogotá, Cali, Risaralda, as regiões de Boyacá, Antioquia e Bucaramanga e outras cidades, os estudantes se mobilizaram massivamente, marchando pelas ruas contra a campanha repressiva do governo e da mídia, que utilizaram a acusação de terem “infiltrados” da guerrilha para tratar de isolar os estudantes da população, dividi-los e “domesticá-los”. Também se somaram setores das universidades privadas. Em Bogotá e outras universidades os professores se pronunciaram em apoio ao protesto e pelo rechaço da lei. Inclusive as autoridades de várias universidades questionaram o projeto oficial.

No dia 24 de agosto o movimento estudantil obteve uma primeira vitória parcial, que foi a retirada por parte do governo do artigo referente a abertura da educação a entidades com fins lucrativos. O governo oferecia assim um sinal de abertura, cedendo algo para manter o essencial da reforma. No entanto, não foi suficiente para desarticular o movimento. Em 7 de setembro confluíam novamente dezenas de milhares de estudantes e trabalhadores em uma marcha nacional que também foi reprimida pelo governo. Semana pós semana os estudantes seguiram organizando demonstrações massivas de rechaço ã reforma. O governo segue apostando o desgaste, a repressão e o amedrontamento.

A força do movimento se fez sentir e este continuou desenvolvendo-se apesar de todo o aparato repressivo e de ataques como o que resultou na morte de um estudante em Cali no dia 11 de outubro. Desde o dia seguinte, se declarou paralisação nacional nas universidades por tempo indefinido.

A direção do movimento estudantil

Uma confluência de várias correntes estudantis conformou no fim de agosto a Mesa Ampla de Estudantes (MANE), que atuaram a partir daí como direção do movimento. Em uma plenária realizada em outubro, que contou com a visita de apoio do senador do Polo [1] Jorge Enrique Robledo e a ex- senadora Piedad Córdoba [2], se programou uma nova marcha nacional, que acontece no dia de hoje (dia 10 de novembro), e um encontro nacional programático para os dias 12 e 13 de novembro “com o objetivo de consolidar como mínimo uma nova exposição de motivos”, em perspectiva de um seguinte momento de construção de “um novo modelo educativo a serviço do povo”. Sobre a base do profundo rechaço ã reforma do governo, a política desta direção combinou um conjunto de ações feitas na rua de forma pacífica com o desenvolvimento de um projeto de reforma alternativo ao do governo que permitisse canalizar alguma demandas mínimas dos estudantes pela via parlamentária.

E sobretudo, desmobilizar

Frente a massividade dos protestos, até parlamentares do oficialismo tiveram que declarar que não acompanhavam a elaboração do projeto. O senador Olano Becera manifestou que “a retirada é necessária porque essa iniciativa não sairá neste ano”. O representante Gómez Velásquez, reconheceu que “não há ambiente” para discutir a lei e que até que não se consigam os acordos com os estudantes “não haverá proposta”. Até o fechamento desta nota, o presidente Santos havia oferecido, segundo a mídia, a retirada do projeto, isso sim, em troca da desmobilização e volta ás aulas imediatamente. Isso lhe permitiria evitar que a unidade dos estudantes com os trabalhadores nas ruas resulte em um questionamento mais profundo do antidemocrático regime colombiano. Ficará para um novo momento, talvez não muito distante, voltar a ofensiva sobre a base de novos consensos reacionários.

A resposta dos dirigentes do movimento, se bem mantendo o chamado a mobilizações para os próximos dias, parece ser a de buscar o diálogo. Segundo Juan Sebastián López, membro do comitê operativo da MANE: “Precisamos ter certeza da metodologia que se vai utilizar para a construção do novo projeto, que se nos garantissem que nos vão incluir, e até que saibamos como será este projeto, nos manteremos paralisados”. A princípio também se manteriam as jornadas programáticas do fim de semana, onde se discutiria o levantamento ou não da paralização estudantil.

Uma perspectiva superior

A defesa da universidade pública é uma demanda de caráter democrático que interessa não só aos estudantes e professores, mas sim a todo o povo, e que é dirigida contra o conjunto do modelo de educação, elitista e privatista promovido pelo regime baseado nos interesses das instituições internacionais. Trata-se de qual Universidade para coloca-la a serviço da luta dos trabalhadores e do povo, não para torna-la cada vez mais elitista e restringida, e fazê-la mais funcional para os empresários e transnacionais.

A tenacidade dos estudantes e sua unidade com setores de trabalhadores nas ruas mostrou sua potencialidade. Se efetivamente cai o projeto oficial este ano, será uma vitória da luta do movimento estudantil em resistência cujos efeitos não só podem fortalecer o conjunto dos estudantes mas também impactar os ânimos de setores operários e populares. No entanto, a política de negociação e dialogo para “consensuar” no âmbito parlamentário pode transformar-se numa perigosa armadilha. Estender a organização de base com a mais ampla democracia estudantil e buscar a aliança com os trabalhadores e o povo contra Santos e seus planos, serão aspectos chave nas futuras fases da luta.

Uma das perguntas que cabe fazer é se, ao calor deste grande processo de luta, começa a amadurecer uma vanguarda que se projeta para avançar nos métodos, consignas e auto-organização, frente ás tendências conciliadoras que trataram tudo pela via morta dos “consensos”. Esta nova geração de jovens estudantes e trabalhadores colombianos que respira os ares da nova primavera dos povos, é a vanguarda da luta que deixa exposta a aguda crise capitalista mundial para o próximo período, para que os herdeiros de Uribe já comecem a preparar-se.

A solidariedade com os estudantes colombianos, como com os chilenos, os da Universidade de São Paulo, etc., é um ponto de partida para colocar em pé o conjunto do movimento estudantil latino americano, que junto aos jovens árabes que lutaram e lutam contra as ditaduras, junto aos “indignados” espanhóis e os jovens gregos que se unem aos trabalhadores nas paralizações gerais e protestos contra o ajuste ou os jovens norte americanos que se manifestam em Wall Street e dezenas de cidades começam a questionar a barbárie capitalista.


[1] Polo Democrático Alternativo: coalizão centro esquerdista apoiada pelo Partido Comunista, o maoísta MOIR e outras forças, que luta “pela soberania nacional, pela paz, a democracia e a justiça social”, se moldura na “construção, defesa e consolidação do Estado Social de Direito”; a aspiração por fazer “realidade os postulados básicos a Constituição de 1991” (www.polodemocratico.net), é dizer, capitula completamente ao regime pois pretende desafiar os marcos do aceitável para a classe dominante e se limita a propor limitadas reformas dentro da ordem burguesa vigente.

[2] Piedad Córdoba: ex legisladora opositora ao uribismo, pata liberal do bipartidarismo colombiano.

10-11-2011

Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Jornais

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)