29/11 Eleições em Honduras: Camisas brancas, mãos sujas
04/12/2009
Desde ontem, 28 de novembro, ao se cumprir cinco meses do golpe de Estado, as ruas de Tegucigalpa amanheceram patrulhadas pelo exército e pela polícia, enquanto distintas invasões e detenções se sucediam em distintos pontos do país. Quando recorríamos ontem a zona do centro comercial Multiplaza, nosso taxi se deteve em um semáforo ao lado de uma camionete com policiais carregados e com suas caras cobertas por gorros, que exibiam armas de guerra. O taxista, então, me disse: “amanhã ninguém irá votar”. Perguntei-lhe por que. “Porque não podemos votar se o presidentes está preso”, aludindo ã presença de Zelaya na embaixada brasileira. Para ele, todos os candidatos são golpistas. O mesmo pensa grande parte da população, especialmente nos bairros populares de Tegucigalpa e nas regiões onde maior presença teve a luta dos professores e as manifestações operárias, camponesas e populares contra o golpe, como San Pedro Sula, El Progreso e outras localidades. Desde essa mesma região chegavam, entretanto, as notícias de que alguns artefatos explosivos haviam sido detonados em um centro comercial e em distintos centros de votação, enquanto a resistência local anunciava que hoje, domingo, faria uma manifestação de repúdio ás eleições fraudulentas, ao redor do meio dia.
Hoje amanheceu despejado e, desde bem cedo saímos a recorrer os centros de votação de Colonia Miramontes, Residencial Plaza, La Joya, Colonia Kennedy e El Pedregal, na cidade de Tegucigalpa. Observamos pouca presença nas mesas, custodiadas pelo exército e pela polícia, junto com os “observadores internacionais” de diversas associações jurídicas e organizações políticas direitistas que “velavam pela transparência” dos comícios. Só algumas filas um pouco mais nutridas, nos bairros mais acomodados, onde os “camisas brancas” mostravam orgulhosos seus dedos manchados ás câmeras da CNN e outros meios de imprensa internacionais, depois de votar.
Na sede do CODEH, reuniam-se os observadores da plataforma de organismos que estão monitorando as violações aos direitos humanos que continuam ocorrendo em pleno processo eleitoral. Ali se falava das invasões [praticadas pela polícia] ã sede da Red Comal, em Siguatepeque, do cerco militar que se fez ã sede do Sindicato de Trabalhadores da Indústria de Bebidas e Similares (STIByS) na mesma capital; como também da bomba que estalou na sede do Centro de Direitos de Mulheres (CDM) de San Pedro Sula.
Líderes da Resistência das colônias Kennedy e o Reparto, de Tegucigalpa, como de outras colônias de Santa Bárbara, San Pedro Sula e Cortés sofreram invasões e detenções. Mas a maior preocupação se centrava no estado crítico de Fabricio Salgado Hernández, que ainda segue em coma, depois de haver sido baleado por militares, quando chocou contra um reforço militar que lhe cruzou intempestivamente.
Esta manhã, as mesas que iriam estar dispostas na UNAH foram deslocadas para outros centro de votação, segundo as autoriadades para “prevenir incidentes”. Mas também é certo que, desta maneira, os votantes se concentram em menos mesas, dissimulando a escassa participação nas eleições. Durante nossa recorrida não deixamos de ouvir o zumbido do helicóptero policial sobre a colônia Kennedy, uma das mais fortemente militarizadas, devido a sua reconhecida participação na resistência ao golpe. Em outro ponto da cidade, o local do STIBy, onde a resistência tem previsto realizar uma conferência de imprensa esta mesma tarde, permanecia vigiado por uma camionete militar com uma metralhadora giratória que apontava em direção a sua entrada.
Como será o dia depois? Distintas empresas transnacionais, maquinas e distintas dependências do Estado anunciaram a seus empregados que deverão mostrar seu dedo mindinho pintado com a tinta com a que se registra o voto, quando reiniciem seus trabalhos. Caso contrário, serão despedidos. No diário La Tribuna, chamava a atenção o aviso publicitário de Go Nunu, um comércio de mobiliário infantil, que anunciava descontos de até 40% com só mostrar o dedo manchado de preto. Outros comércios e supermercados também faziam estas ofertas.
Mão sujas é a exigência das patronais golpistas e das autoridades do regime de Micheletti ás trabalhadoras, trabalhadores e ao povo hondurenho que, apesar da coerção, absteve-se de votar, em uma média que, até o momento, superaria 65%.