FT-CI

Com o aval dos Estados Unidos

Em Honduras os golpistas preparam as eleições fraudulentas

21/11/2009

Uma semana depois do acordo reacionário entre o presidente deposto, Manuel Zelaya, e o golpista Roberto Michelleti, Zelaya anunciou sua retirada do chamado pacto Tegucigalpa- San José, após Micheetti anunciar em 5/11 que ele mesmo encabeçaria o “governo de unidade nacional”. Após mais de 4 meses de seguir o rastro da política imperialista de diálogo com os golpistas, em 14/11 Zelaya enviou uma carta a Obama na qual diz cinicamente que as negociações serviram para fortalecer Micheletti e pede aos EUA que não apóiem as eleições fraudulentas de 29/11.

O acordo de Tegucigalpa- San José alcançado sob a tutela do imperialismo norte-americano, compreendia entre outros pontos, um governo de unidade nacional com os golpistas e a validação das eleições fraudulentas, enquanto que a restituição de Zelaya deveria ser resolvida pelo Congresso, que em 17/11 anunciou que em 2 de dezembro, isto é, após as eleições, se reunirá para discutir o tema.

Após meses de diálogos e pactos com os golpistas, e de aceitar todas as condições impostas por estes, Zelaya denuncia agora que este acordo busca legitimar o regime de Micheletti. Após alimentar expectativas em saídas negociadas, com o auspício e o respaldo do imperialismo e da OEA, o presidente derrubado – beirando o cinismo – convoca hoje o povo hondurenho que resistiu ã repressão e a ã perseguição do exército golpista. Numa entrevista, Zelaya declarou “Aquele que participar de uma farsa como esta é instrumento, que se presta a que este país siga sendo manipulado por qualquer um. E eu não participo de farsas nem de fraudes desta natureza”.

Zelaya legitimou todas as instâncias de negociação com os golpistas, do Plano Arias ao diálogo Guaymuras, incluída a entrega da demanda de uma Assembléia Constituinte, enquanto que os golpistas se mantiveram duros em todos os momentos. Desde o golpe, Zelaya sempre utilizou as ações de resistência para tentar fortalecer sua posição na mesa de diálogo e chamou ã “resistência pacífica” evitando que os trabalhadores e o povo hondurenho fossem os que acabassem com os golpistas. O beco sem saída das negociações foram um fator de desmoralização e desorganização da resistência. Depois de ter chamado a confiar até o último momento em uma saída negociada com os golpistas, que não era outra que legitimar seu regime por meio do governo surgido das eleições de 29/11, o chamado de Zelaya a desconhecer a falácia eleitoral, só 2 semanas antes desta, é um ato desesperado que busca preservar sua imagem ante uma fraude já consumada.

Obama e o respaldo internacional ás eleições fraudulentas

Após o acordo de Tegucigalpa- San José, que foi “facilitado” pelos enviados de Obama, os EUA se preparam para dar o aval internacional ás eleições de 29/11. Depois do acordo de 30/10 entre Zelaya e os golpistas, Obama aproveitou para fechar uma de suas frentes internas no parlamento de seu país, e que lhe impedia de efetivar as designações de seus funcionários por pressão da bancada republicana. Assim, o governo de Obama deu garantias ao senador republicano Jim DeMint, de que os EUA apoiariam as eleições em Honduras independente de que Zelaya fosse restituído; em troca de que este senador deixasse de bloquear as designações dos funcionários de Obama. O acordo se deu por que a poucos dias o embaixador norte-americano em Honduras, Hugo Lorens, declarava que as eleições “irão ocorrer, isto é claro, o povo hondurenho tem direito de eleger seu presidente (...) e seria um erro histórico e de grandes proporções negar este direito”.

Ante a carta enviada por Zelaya, os EUA reiteraram que mantém sua posição: que se cumpra o Acordo Tegucigalpa- San José. E recordou a Zelaya que o mesmo acordo faculta o congresso hondurenho a decidir sua restituição sem data pré-determinada. O secretário para a América Latina do Departamento de Estado norte-americano, Craig Kelly, sublinhou que para os EUA a chave do acordo foi e é a instauração do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional; e dado que o mesmo se conformou, os EUA manterão seu apoio ás eleições, outorgando pela enésima vez um respaldo aos golpistas.

O boicote ás eleições

A direção majoritária da Frente Nacional da Resistência que em todo momento respaldou pela sua ação, ou omissão, a política de Zelaya, chama hoje, com atraso, a desconhecer as eleições de 29/11. Um de seus principais porta-vozes, o dirigente sindical Juan Barahona, declarou “Votar nestas eleições é trair a resistência” .

Após a lista da candidatura independente encabeçada por Carlos Reyes ter retirado das eleições, os dirigentes zelayistas estão pressionando para que se retirem as listas da Unificação Democrática (UD) e a candidatura de César Ham.

A duas semanas das eleições, nem a política da UD nem a dos zelayistas aponta ao boicote da fraude eleitoral e a acabar com os golpistas. A máxima aspiração dos zelayistas hoje é chamá-lo a formar um partido em comum com a UD, que será parte do futuro regime surgido do golpe de Estado ainda que os zelayistas falem de um partido “representativo e combativo”. Por sua vez, os dirigentes da UD vêem na retirada das outras listas uma oportunidade de armar sua própria bancada no Congresso, e lançam todos seus esforços nesta direção.

Esta nova demonstração do caráter reacionário dos acordos e da fraude eleitoral que os golpistas preparam para se legitimar exige redobrar a mobilização e a luta conseqüente pelo boicote efetivo das eleições. Volta a se colocar sobre a mesa a necessidade cada vez mais imperiosa de alentar e organizar o descontentamento dos trabalhadores, camponeses, mulheres e jovens. Estes últimos, que com sua disposição à luta resistiram nas ruas aos golpistas, mostraram que outro caminho é possível: derrotar os golpistas e sua fraude eleitoral retomando as ruas.

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