Honduras
Com a ajuda dos Estados Unidos e da OEA os golpistas seguem no poder
07/08/2009
Em 30 de julho enquanto Manoel Zelaya se reunia com o embaixador norte-americano Hugo Llorens em Managua, a polícia e o exército sob as ordens do governo golpista de Micheletti, reprimiam brutalmente uma manifestação em Tegucigalpa que se realizava no marco da jornada de paralisação cívica convocada pela Frente Nacional contra o golpe de Estado. Esta repressão, que segundo o chefe da polícia tinha por objetivo “defender a economia nacional afetada pelos bloqueios de estradas”, deixou como saldo um professor de escola média morto e centenas de feridos e detidos, entre eles os principais dirigentes das organizações populares que coordenam a luta contra o golpe de Estado.
Nos últimos dias, a ditadura cívico-militar recrudesceu suas medidas repressivas. Ao fechamento deste artigo, organizações anti-golpistas de Honduras denunciavam um ataque da polícia anti-motins contra uma mobilização de estudantes em frente ã Universidade e se conhecia a clausura do sinal da Radio Globo que vinha transmitindo para o exterior os acontecimentos em Honduras.
Segundo a Comissão de Familiares de Desaparecidos em Honduras (COFADEH), nas cinco semanas transcorridas desde o golpe de Estado, se tem denunciado mais de mil casos de violações aos direitos humanos, detenções e torturas, ademais dos assassinatos de manifestantes por parte das forças de segurança e de execuções de detidos. Micheletti elegeu como seu assessor de segurança a Billy Joya, fundador dos esquadrões da morte que atuaram sob o nome de batalhão 3-16 durante a última ditadura a princípios dos anos 80, responsabilizado pelo desaparecimento e assassinato de centenas de ativistas hondurenhos. Billy Joya, junto com Romeo Vásquez Velasquez, chefe do exército que deu o golpe de Estado contra Zelaya, e milhares de militares hondurenhos foram aplicados alunos da sinistra Escola das Américas que formou aos torturadores e golpistas da América Latina. As forças armadas de Honduras mantêm uma estreita relação com o Pentágono e com a base aérea norte-americana de Soto Cano, uma instalação com localização estratégica que permitiria a rápida alocação de tropas, se fosse necessário.
A decadente oligarquia hondurenha estabeleceu uma relação histórica de dependência com respeito aos Estados Unidos: 70% de suas exportações de banana, café e açúcar vão ao mercado norte-americano, a metade das fábricas instaladas no país são de capitais estadunidenses e o território hondurenho foi usado como base de operações dos Estados Unidos para sua guerra suja contra a revolução nicaragüense e as guerrilhas centro-americanas durante a década de 1980.
O imperialismo norte-americano e a OEA, com a cobertura da mediação de Arias, permitiram que os golpistas se fortaleçam e permaneçam no poder. Os governos da região, dirigidos pelo Brasil, têm feito o jogo a esta estratégia da diplomacia dos Estados Unidos, e só se têm limitado a emitir declarações, como a última dos presidentes do Mercosul. Inclusive Chávez, aliado de Zelaya, não convocou a nenhuma ação regional para impedir que os golpistas se consolidassem no poder. Daniel Ortega sequer bloqueou o comércio através da Nicarágua.
Obama e Hillary Clinton usaram a negociação para dissimular que, na realidade, seus interesses na região estão muito mais perto dos empresários, militares e dos principais partidos burgueses hondurenhos que perpetraram o golpe. Apesar de que a direita republicana, que faz lobby a favor dos golpistas no Congresso norte-americano, acusa a Obama de “ceder ante Chávez”, o governo dos Estados Unidos não tomou nenhuma medida concreta contra os golpistas: o Departamento de Estado se nega a admitir que houve um golpe e o embaixador Hugo Llorens permanece em seu posto em Tegucigalpa onde se reúne assiduamente com os representantes do governo de fato. Só depois de um mês de transcorrido o golpe tem tomado umas poucas medidas simbólicas, como a retirada do visto diplomático a quatro figuras proeminentes do governo de Micheletti.
A abertura de sete bases militares na Colombia para o uso de militares norte-americanos é uma prova de que, para além dos discursos, a política de Obama é resguardar os interesses do imperialismo norte-americano na América Latina, pactuando com seus aliados mais leais como Uribe.
Em todo momento Zelaya tem evitado uma confrontação direta com os golpistas e obstaculiza a organização da autodefesa popular com seus chamados ã resistência pacífica, apesar de que o exército e a polícia perseguem, torturam e assassinam a dirigentes e ativistas anti-golpistas. Desgastado o efeito de seu gesto simbólico de instalar-se na fronteira com a Nicarágua, sua política atual é conseguir o apoio dos governos da região. A primeira visita foi ao México onde Zelaya foi recebido como chefe de Estado pelo presidente Calderón.
A política de Zelaya, apoiada por Chávez e o bloco da ALBA, foi subordinar-se ã estratégia norte-americana, esperando que Obama, para tratar de mostrar uma política distinta ã que havia tido Bush para a América Latina, pressione aos golpistas para que permitam sua volta ã presidência. Em troca Zelaya tem aceitado todas as condições impostas nos acordos de San José, incluída a renúncia a convocar uma Assembléia Constituinte.
O caminho para derrotar aos golpistas e seus amigos em Washington não é a negociação e a “reconcliação” que prega Zelaya, nem alentar a confiança em que com Obama o imperialismo norte-americano, incluindo Chávez e o bloco da ALBA, senão aprofundar de maneira independente a mobilização dos trabalhadores, dos camponeses, dos estudantes e dos setores populares hondurenhos que vêm lutando contra o golpe, fechando rodovias e pontes e enfrentando a repressão estatal. É necessário que esta resistência que já leva mais de um mês, dê um salto, que se transforme em uma greve geral indefinida até derrotar ao governo de Micheletti e estabelecer um governo provisório das organizações operárias e camponesas anti-golpistas que convoque uma Assembléia Constituinte Revolucionária onde se discutam os principais problemas do país como a subordinação ao imperialismo e a propriedade da terra. Esta experiência seria muito útil para que os trabalhadores, os camponeses e os explorados hondurenhos avancem na luta por impor um governo operário e popular embasado em organismos de auto-determinação das massas.